Fora de Pauta

Maurício Goulart: Onde está nossa riqueza

É comum associarmos a riqueza de um país aos seus recursos naturais, como minérios, petróleo ou terras propícias à agricultura. Qualquer debate sobre o Brasil, aliás, costuma resvalar para isso, com um certo tom de surpresa; afinal, como podemos ter tantos problemas se exibimos certa abundância nesse particular?

No entanto, uma reflexão mais profunda, ou talvez mais informada, vai mostrar que a verdadeira riqueza de uma nação reside em seu povo. São os recursos humanos que impulsionam o desenvolvimento econômico, social e cultural, moldando o presente e preparando o futuro, de maneira significativa.

Os recursos naturais podem proporcionar riqueza momentânea, mas são finitos e sujeitos a flutuações no mercado global. Os recursos humanos, por sua vez, têm um potencial ilimitado de crescimento e inovação. Investir no desenvolvimento de habilidades e talentos não apenas reduz a desigualdade social, mas também impulsiona a produtividade e a competitividade.

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E nessa parte, cabe mais uma reflexão. Se potencializar as pessoas seria o mais indicado, os maiores investimentos deveriam ter como alvo os brasileiros mais pobres, que muitas vezes enfrentam desafios significativos, como acesso limitado à educação, saúde precária e oportunidades de emprego escassas. No entanto, quando esses obstáculos são superados por meio de políticas inclusivas e investimentos em infraestrutura social, é justamente essa parcela da população que se torna agente ativo de mudança e progresso.

Para quem acha que isso é uma utopia, vale conferir o trabalho feito pela economista Cláudia Costin quando era secretária de Educação da cidade do Rio de Janeiro, entre 2009 e 2014. Para enfrentar problemas como a falta de professores em escolas de periferia, causada em especial pela violência, um dos pilares de sua atuação foi oferecer as maiores remunerações para aqueles que se dispusessem a ensinar nessas escolas. Que, aliás, também dispunham da melhor infraestrutura em termos de equipamentos.

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Na sua visão, eram justamente as comunidades mais desfavorecidas que precisavam receber a educação de excelência, como forma não apenas de ascensão social, mas de descoberta de talentos. O princípio era não permitir que continuasse a perda de um patrimônio intelectual importante pela tendência de se direcionar os maiores investimentos em educação para instituições localizadas em regiões centrais.

A educação é um dos principais catalisadores para a transformação das condições socioeconômicas de uma população. Quanto a isso, nenhuma novidade. Mas é algo que só faz sentido se pensarmos em garantir o acesso universal a ensino de qualidade. Só assim será possível capacitar muito mais indivíduos a alcançarem seu pleno potencial e a contribuírem de maneira significativa para a economia e a sociedade. Talvez só seja o caso de não ficar mais procurando a riqueza do País nos lugares errados.

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