Criador da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa, de 86 anos, tem uma lista imensa de personagens, que encantam gerações de brasileiros. Entre esses, que figuram ao lado de Mônica, Magali, Cebolinha e Cascão, em 2004, surge Dorinha, uma garotinha com deficiência visual inspirada na educadora Dorina Nowill. Pois essa menina toda fashion, que usa uma bengalinha para se orientar e tem sempre ao seu lado o cão-guia Radar, une ainda mais os laços do cartunista com a Fundação Dorina Nowill sendo a estrela de uma coleção dedicada às crianças com dificuldade de visão.
“Desde que comecei a criar personagens com alguma deficiência, fui me interessando em conhecer melhor essas histórias para não passar uma imagem errada tanto para a criança que vive essa realidade quanto para as que têm um desconhecimento sobre o assunto”, conta Mauricio em entrevista ao Estadão. No caso específico da Dorinha, conta o seu criador, ao ter a ideia da personagem cega, procurou conhecer Dorina Nowill, que tem uma “linda história de luta pelos deficientes visuais”. Na fundação que leva seu nome, como explica Mauricio, estão os melhores especialistas para nos orientar com precisão. “Assim, resolvi inclusive dar o nome de nossa personagem lembrando Dorina. Ficou Dorinha, que é mais fácil para a criança guardar. Dorinha, embora criança, veio com a sabedoria que ouvi de Dorina.”
Empatia
Este novo projeto, Dorinha pelo Brasil – Inclusão Sem Barreiras, que vai ser lançado no dia 25, apesar de ser direcionado para as crianças cegas, será também um momento de proporcionar uma conexão das que enxergam com esse mundo desconhecido. “Imagine uma criança que não pode ver. Uma criança que gosta de brincar, de fazer amizades, de poder estudar e se divertir. Se outras crianças não entenderem como ajudá-la a fazer tudo isso, não vai haver interação”, reflete Mauricio. Para o autor, a empatia que esses livros podem gerar é fantástica. “Crianças que veem podem ‘brincar’ com cegas e entender a comunicação de maneira mais sensível. Podem fechar os olhos e tocar, por curiosidade, numa experiência que é um ensinamento de que podemos muito apesar das dificuldades.”
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“Dorinha é uma personagem forte, curiosa, elegante e bem antenada no que está acontecendo, ou seja, a deficiência não a limita. Essas características a aproximam do público e gera identificação com os pequenos”, acrescenta Alexandre Munck, superintendente executivo da Fundação Dorina Nowill para Cegos, sobre a personagem.
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A coleção
Alexandre Munck explica como o produto chegará às crianças, já afirmando que a coleção é totalmente acessível. “Isso significa que o livro será impresso em tinta-braile, ou seja, no alfabeto tradicional e no braile. Do mesmo modo, algumas imagens poderão ser vistas e sentidas.” Mas ele complementa informando que o projeto, no entanto, não se limita apenas ao braile. “As histórias também estão disponíveis na versão falada, com audiodescrição das imagens e em audiobook.”
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Com a perspectiva de chegar a diversos pontos do País, Munck destaca, porém, que os livros não estão à venda para o público em geral, o que não chega a ser uma má notícia, pelo contrário. De acordo com suas informações, a coleção “será distribuída gratuitamente para bibliotecas, escolas públicas e organizações sociais de todo o Brasil”, com distribuição feita pela própria Fundação.
“A coleção proporciona uma troca de experiências única para o desenvolvimento das crianças”, acredita Munck, que afirma ser um produto que vai permitir “que as crianças que veem descubram particularidades da vida da criança cega – como o braile, por exemplo, até hoje único meio de alfabetizar uma criança com deficiência visual – ao mesmo tempo, proporciona à criança cega ou com baixa visão a oportunidade de se sentir acolhida, incluída e parte de alguma coisa”. Será um instrumento para mostrar aos pequenos que as diferenças fazem parte da sociedade e que o respeito é fundamental.
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