Ainda não é um ser humano, mas ao menos é um emissário ou um “enviado especial” em nome deste. Pela previsão inicial, e se tudo correr bem, no dia 18 de fevereiro de 2021 o robô Perseverance (nome nada menos do que simbólico e sugestivo), da Agência Espacial dos Estados Unidos (Nasa), estará pousando… em Marte!
O mundo todo pôde acompanhar, em meio às atribulações da pandemia, o lançamento do veículo espacial, no dia 30 de julho, quinta-feira. Do tamanho de um carro, o Perseverance terá a missão de recolher, na superfície do Planeta Vermelho, os mais diferentes materiais e vestígios que possam sinalizar para algum futuro na sempre imaginada e sonhada ocupação humana (ou terráquea) desse planeta.
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A relação idealizada, de curiosidade, fantasia e projeção dos humanos com Marte, o quarto planeta a partir do Sol, e um de nossos “vizinhos” diretos entre os planetas, ao lado de Vênus, é de séculos. No mundo real, o ambiente dos “fatos”, a imensidão que separa a Terra de Marte ainda seria um empecilho para tal odisseia. Afinal, são pouco menos de 58 milhões de quilômetros entre um local e outro, no espaço sideral, quando ocorre a maior aproximação entre os dois; ou cerca de 100 milhões de quilômetros quando o afastamento é maior. Outro mundo, literalmente, quando se sabe que 384,4 mil quilômetros separam a Terra da Lua, à qual, sim, várias missões tripuladas por humanos foram enviadas nas décadas de 1960 e 1970.
Mas a viagem do robô Perseverance, que se desloca nesse exato momento pela imensidão do espaço rumo a Marte, é mais do que simbólica. Ela é a concretização, a efetivação, de todas as estratégias ou alternativas que a mente de um ser humano já forjou, por séculos, para se aproximar desse outro planeta do sistema solar.
E o lançamento não poderia ter sido em melhor hora. Ele antecipou, de certa forma, as comemorações em torno do centenário de nascimento do escritor norte-americano Ray Douglas Bradbury, que entrou para a história da literatura ao assinar como Ray Bradbury. São dele alguns dos romances mais celebrados do século 20, a exemplo de Fahrenheit 451. Nascido em Illinois, em 22 de agosto de 1920, Ray faleceu em 6 de junho de 2012, aos 91 anos, em Los Angeles, na Califórnia, onde se radicara.
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Mas se 2020 registra a passagem do centenário de nascimento de um dos maiores mestres da ficção científica em todos os tempos, registra igualmente os 70 anos de uma de suas obras visionárias. Trata-se de As crônicas marcianas, um marco na literatura apoiada sobre o espaço sideral, conjunto de textos nos quais Bradbury detalha a suposta colonização do planeta Marte, única saída para que a humanidade continuasse existindo. Aliás, diante dos últimos debates relacionados à temática ambiental, não parece um assunto mais atual do que nunca?
E é justamente para investigar possibilidades ou condições que o Perseverance agora viaja, quase como se nosso enviado, na entrada da terceira década do século 21, tivesse a missão de, em breve, nos remeter suas crônicas marcianas em forma de imagens e de vestígios que captará. Se, no futuro, a exemplo do que faz o robô agora, e do que fizeram os personagens terráqueos colonizadores de Marte no enredo do livro de Bradbury, uma civilização poderá ser erguida por lá, eis algo que seguirá se misturando entre ficção e realidade, e talvez um dia até seja respondido.
Uma coisa tende a já ser mais do que certa: não adiantará nada o ser humano se transferir para Marte com o mesmo ímpeto extrativista, agressivo, materialista e inescrupuloso que adota em seu próprio planeta natal. Se assim for, também Marte estará com os dias contados, e talvez já seja necessário enviar robôs a Júpiter e Saturno, nem que seja para algum dos anéis – ou até para uma galáxia além. Como diria Bradbury, de nada adiantará a humanidade mudar de lugar se a única coisa que segue não mudando é… a humanidade. Nisso é que devemos perseverar.
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