“Um dos vértices do disco foi o silêncio”, dizia Maria Gadú, sobre Guelã, o terceiro álbum de estúdio dela, antes de ser interrompida por um estrondo. Cablam! O estardalhaço da colisão das duas portas de vidro mal reguladas quebra a linha de pensamento da cantora de 30 anos completados no início de dezembro, mas condizem justamente com aquilo que ela afirmava. Numa dessas coincidências curiosas, o estrondo ocorrido durante a entrevista da cantora ao Estado representa como o excesso de ruído interrompia e atrapalhava a carreira de uma das cantoras mais promissoras daquela chamada de nova MPB. Guelã, nessa busca da artista pelo silêncio, é a quebra de um movimento de excessos (de shows, cigarros, álcool) que estavam, inclusive, desgastando a voz da cantora.
Maria Gadú precisava disso. O álbum, lançado pelo selo Slap (da Som Livre), soava mais íntimo e cru por culpa da voz ainda em recuperação. Quase dois anos depois, Gadú encerra o ciclo de Guelã com algo como uma espécie de “pós-disco”. Guelã ao Vivo, disponível em CD e DVD, é o registro da performance de Gadú e sua pequena banda formada por violoncelista e produtor do disco, Federico Puppi, o baixista Lancaster Pinto e o baterista Felipe Roseno, no Centro Cultural São Paulo, em agosto.
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Ao longo de 2016, foram mais de 90 apresentações, segundo as contas da própria artista. “É curioso como, por exemplo, o meu primeiro DVD não serviu como um encerramento de ciclo ou coisa assim”, conta, sobre o álbum Multishow Ao Vivo, de 2010. “Aquele, eu gravei para registrar um momento, ao lado dos meus amigos, da minha turma. Esse, não. É realmente uma conclusão. Vou fazer uma turnê pequena, vou a lugares nos quais não fui no giro do disco, e vou partir para outra”, conclui.
Ao dizer que sua voz estava em frangalhos, Gadú talvez esteja expondo que foi atropelada pela própria carreira, catapultada pelo sucesso de Shimbalaiê, no fim da década passada, e a levou, por exemplo, a sair em turnê com Caetano Veloso.
Guelã ao vivo conta com as dez canções do disco e outras oito daquelas que, segundo Gadú, não poderiam ficar fora, mas que seriam adaptadas para a mesma proposta do disco em estúdio, o descobrimento do uso da guitarra, percussões africanas, a voz em recuperação e o uso consciente do silêncio.
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Para voltar à forma, Gadú deixou o Rio de Janeiro, onde morava desde que voltou da França e cidade onde conheceu o sucesso. Era preciso dar início a uma mudança de hábito. Em São Paulo há quase três anos, mudou-se duas vezes até encontrar um cantinho para chamar de lar. Ela mora com a companheira e produtora Lua Leça e vive, ela mesma diz, “uma vida bastante cotidiana”, no bairro de Santo Amaro, na zona sul da cidade. “Já vivo em uma turbulência absurda, trabalho com barulho, cada dia durmo em um lugar diferente. Então, é bom poder ir para casa, arar a grama, plantar uma muda de planta, ficar em silêncio, ouvir uma música em um volume bem baixinho.”
A voz de Gadú já está saudável e o cigarro, antes um vício que a levou a fumar três maços por dia por 18 anos, ficou para trás. “A falta do cigarro me fez descobrir o tempo”, ela diz. “É impressionante como fui perceber a importância de cada segundo, cada minuto. Fiquei impressionada em como os dias pareciam durar muito mais. Agora, tenho tempo para mim.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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