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Marcio Souza: “Tristeza sem fim”

Antônio Carlos Jobim e Luiz Bonfá transformaram em música de sucesso uma realidade cruel. “Tristeza não tem fim, felicidade sim”, diz a canção. Nem sempre concordei com essa frase, sobretudo, por ser uma pessoa esperançosa, por acreditar que as dificuldades aparecem conforme nossa capacidade de superá-las.

Ano passado, no entanto, tive um choque de realidade. Vi que, muitas vezes, não temos força para segurar o peso dos desafios que nos são apresentados. Meus conterrâneos do Vale do Taquari
observaram suas histórias sucumbirem com as forças das águas daquele que é responsável pelo banho, pela hidratação e pela beleza natural. Ainda assim, meu pensamento foi positivo.

Vi a onda de solidariedade criada em todo o Estado para atender municípios como Roca Sales e Muçum e entendi que, juntos, conseguimos superar as adversidades, mesmo que elas pareçam intransponíveis,
mesmo que passem a impressão de, como diz a música, ser como a tristeza, que não tem fim. A felicidade haveria de voltar ao Vale do Taquari.

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Os últimos dias, no entanto, fizeram tombar minha versão otimista. Sei que os municípios, com o tempo, vão se reerguer, serão reconstruídas estradas e pontes, a lama dará lugar aos belos jardins e as famílias conseguirão colocar em pé suas moradas. Mas e as histórias, as vidas, os documentos e as fotografias? Como serão refeitas as memórias que estavam registradas de forma material?

E, agora, não estamos falando de meia dúzia de municípios. São mais de 300 pedindo ajuda ao mesmo tempo. Há um coro de desespero, de casas sob as águas e pessoas sobre os telhados, na esperança da chegada do socorro. São dezenas de mortes e centenas de desaparecidos. Essa situação pode não ser mais a realidade do Vale do Rio Pardo, do Taquari ou da Região Serrana, mas vemos a Região Metropolitana em desespero.

É apavorante ver isso. E não se trata de sentir na pele, porque a família está sã e salva; alguns amigos, que tiveram as residências atingidas, conseguiram sair em segurança. Mas não há como deitar a cabeça no travesseiro seco, à noite, e pensar que tudo isso é normal, que é apenas mais uma pauta a ser noticiada. É triste, desesperador, e de esperança para que as autoridades cumpram o seu papel e a sociedade responda à altura, para fazer voltar o otimismo, porque ainda há saída.

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E, mesmo que parecesse não existir essa saída, Titãs deixam uma importante dica: “Quando não houver saída, quando não houver mais solução, ainda há de haver saída. Nenhuma ideia vale uma vida. Quando não houver esperança, quando não restar nem ilusão, ainda há de haver esperança. Em cada um de nós, algo de uma criança. Enquanto houver sol, ainda haverá, enquanto houver sol”.

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Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

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Heloísa Corrêa

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