O gaúcho é um povo ufanista, que valoriza a sua terra e cultua a tradição como poucos no País. Não consegue fazer com que sua música ou seus hábitos avancem as divisas entre os estados, como fazem os nordestinos, nos empolgando a balançar as cadeiras no ritmo do axé. Essa característica de quem nasce no Rio Grande do Sul não o transforma em melhor ou pior do ques os demais. Apenas é diferente. Agora, essa gente que veste bombacha ou vestido bem rodado, que tem no cavalo um parceiro de trabalho, está um bocado atônita. Estamos sem chão, mas não esmorecemos.
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É óbvio que, ao ver tamanha desgraça e destruição causada pela natureza, é difícil, é estranho. É uma “coisa esquisita a gadaria toda, penando a dor do mango com o focinho n’água; o campo alagado nos obriga a reza; no ofício de quem leva pra enlutar as mágoas”, como traz Milonga abaixo de mau tempo, do José Cláudio Machado. E toda essa sensação de impotência, de não entender o que está acontecendo é fruto da nossa “memória de um velho peão, marcada pela existência. Um dia foi verdade; hoje é reminiscência”, canta Wilson Paim, em Memórias de um velho peão.
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Mas não é possível viver apenas de nostalgia, de recordar dos belos campos verdes e produtivos desta terra. É o momento de aquecer no peito o sentimento trazido por Leopoldo Rassier, em Minha querência. “Meu Rio Grande do Sul, meu linho pago, meu chão; minha querência eu te trago na forma do coração.”
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E por assim acreditar e defender que é possível voltar a sonhar e crescer, me ponho a pensar no saudoso Eraci Rocha, em Canção para refletir o Sul: “Hoje, mais que nunca, é preciso cantar, nas vergas vermelhas; deitar a semente, ser junta parelha”. Enquanto o Brasil se posta a trabalhar de forma parelha, com os braços dados com o povo gaúcho, sabendo que a colheita será muito mais do que o arroz ou os bons frutos, haverá esperança para poder acreditar, como diz Wilson Paim, Ainda existe um lugar: “Venhar sentir a paz que existe aqui nos campos. O ar é puro e a violência não chegou. O céu bem limpo e muito verde pela frente; uma vertente que não se contaminou”.
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Esse Rio que chamamos de torrão, é Grande, sim, mas não para alagar e trazer destruição. É Grande para reconstruir! É Grande para recriar! É Grande para fazer com que pessoas de todo o País e até de outros lugares do mundo passem a chamá-lo de Querência Amada, aquela do Teixeirinha, e lembrem que é a terra do “Céu, sol, Sul, terra e cor; onde tudo o que se planta cresce; e o que mais floresce é o amor’’, eternizada em música na voz do cantor Leonardo.
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