Os avós são conhecidos, popularmente, como os pais adocicados. A forma açucarada de caracterizar essas pessoas tão queridas justifica-se pelo fato de que permitem aos netos extrapolar regras – o que não seria possível aos seus filhos. Dona Hermínia, a personagem de Paulo Gustavo no cinema, disse para sua filha, Marcelina, que de nada adiantava proibir doces e chupeta para o bebê, Aruan, porque ela daria essas benesses quando bem quisesse. A cena mostra que a idade faz com que as pessoas passem a ser mais sensíveis ao olhar “pidão” do netinho ou às situações, antes, tidas como normais.
O exemplo dos avós é apenas para justificar a passagem do tempo, a bagagem adquirida e a experiência acumulada, como meio de ser sensibilizado de forma mais rápida. E, talvez pela grande carga de informações, a maior parte delas tristes, estamos mais suscetíveis a sentir a dor e a ação benévola dos outros. Não há como ir fazer uma matéria nas áreas mais atingidas pelo desastre natural e não voltar com uma carga emotiva gigantesca – não por ver o acúmulo de perdas materiais, mas por ver que em meio àquele amontoado de escombros está a história das pessoas. São fotografias, documentos, presentes feitos pelos estudantes para as mães, no segundo domingo de maio.
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Tudo isso foi levado pela água e não volta mais. As casas serão reerguidas, os móveis readquiridos, as ruas e pontes reconstruídas, mas e aqueles momentos especiais vividos pelas famílias? E os aniversários registrados em fotos de papel, que não estão nas nuvens? E as lembranças, como o risco na parede mostrando a evolução da altura do filho?
Sem saber responder a essas questões, sinto-me emocionado ao ver a forma como os brasileiros ajudam, neste momento, os gaúchos. O saudoso Jô Soares dizia: “Cada vez mais, os brasileiros precisam dos brasileiros”, como forma de enaltecer as iniciativas solidárias, como as que observamos neste momento doloroso. Vejo na televisão a mobilização de gente que nunca esteve e nunca estará em solo rio-grandense; vi, pessoalmente, na reunião do Gabinete de Crise, comandado pelo vice-governador (Gabriel Souza), a forma como os representantes da Defesa Civil de São Paulo anunciavam o que haviam conseguido reunir para trazer ao Rio Grande do Sul.
Diante de todo esse voluntariado da sociedade e das forças oficiais de segurança, como Brigada Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Forças Armadas; de ações dos entes públicos, como os anúncios feitos pelos gestores dos municípios, Estado e União, resta lamentar as perdas de vidas humanas e de animais e agradecer pelas vidas salvas, como Merdeces Sosa, “Obrigado à vida que me tem dado tanto. Me deu duas estrelas que quando eu as abro distingo perfeitamente o preto do branco”.
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