Márcio Ricardo Fortes Nunes consolidou-se como um dos maiores nomes do Avenida na história. Aos 41 anos, tornou-se o primeiro a conquistar acesso ao Gauchão com o clube como atleta e treinador. Campeão em 2011, ele espera repetir o feito no dia 24, quando o Periquito decide o título do Campeonato Gaúcho da Série A2 contra o Esportivo, no Estádio Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves.
Durante a sessão na Câmara de Vereadores, na última segunda-feira, o presidente Jair Eich declarou que conta com Márcio Nunes para ser treinador do Avenida no Gauchão 2023. Para o técnico, o clube tem totais condições de permanecer na elite ao manter a evolução na linha de trabalho. Os detalhes organizacionais, de acordo com ele, são fundamentais para o sucesso da equipe, além do envolvimento de todos. O profissionalismo fora de campo reflete dentro de campo, aponta o comandante.
O Avenida conta com 26 atletas no elenco. Todos treinam e se empenham para que possam atuar. Para o treinador, é necessário escolher os 11 titulares por aspectos como modelo de jogo, estratégia e características individuais. “Sempre tive uma conversa leal e uma relação de confiança com os atletas. Quando esse vínculo é quebrado, eu descarto. O grupo deste ano comprou a ideia e esteve focado. Teve trabalho e organização da comissão técnica e o atleta enxerga isso”, aponta.
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Márcio orgulha-se da solidez ofensiva da equipe. Desde a sua chegada, na sexta rodada, o Avenida sofreu somente quatro gols em 13 jogos. “O setor defensivo pouco aparece. A cobertura de um prédio é bonita, mas se o alicerce não estiver firme, vai desmoronar. Tenho o foco e trabalhar o setor defensivo e de estimular a defesa. Se a tivermos segurança e não sofrermos gols, estaremos mais próximos da vitória. Hoje a gente vê que valeu a pena. O Avenida é destaque pela defesa sólida”, ressaltou.
Pela característica dos gramados encharcados na competição deste ano, Márcio Nunes adotou um tripé de volantes para ter força de marcação. Ao contrário do ano passado, o meia Alexandre foi pouco acionado pelo fato das condições não estarem favoráveis. “Nós atacamos marcando. O Tadeu não fez gols, mas sempre competiu muito. Ajudava a marcar os zagueiros e os volantes. O Alexandre nos ajudou muito no ano passado e tivemos essas condições adversas neste ano, com gramados pesados. O pessoal marcou muito sem a bola e teve coisas que eu gosto com a bola, como a mudança de corredor nas laterais.”
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Márcio Nunes exalta a atmosfera criada pela torcida no jogo que definiu o acesso. “Eu nunca tinha presenciado isso. Foi o maior público fora os jogos da dupla Gre-Nal. Nem na Copa do Brasil teve essa lotação. Gente agarrada na grade em toda a volta. Tenho certeza que foi um fator decisivo. A gente não estava bem e a torcida começou a cantar. Deu um gás a mais e os jogadores reagiram. Eles jogaram junto. Esse acesso em casa estava escrito.”
Márcio explica que sempre detalha a forma de jogar dos adversários aos atletas na concentração, durante uma hora. No dia do jogo, a palestra é de 20 minutos para os últimos ajustes. “Alguns adversários foram soberbos e não nos respeitaram. Ficaram em cima de coisas que não condizem com o futebol. O divisor de águas da nossa campanha foram os seis pontos com Inter-SM, um time de elenco forte e bem estruturado, e o bom enfrentamento nos clássicos Ave-Cruz. Fomos para não perder no primeiro e tivemos as melhores chances de vencer no segundo. Sofremos o gol em falha individual.”
Após tropeços diante de Guarani-VA e Pelotas, a classificação foi praticamente selada na vitória sofrida contra o São Paulo em casa, com gol de Xandy nos acréscimos. “Falei para eles que alguma coisa de certo nós estávamos fazendo. Colher o que plantou. É uma citação bíblica. O Alexandre deu um balão para frente, o Léo Bahia disputou e o Xandy foi feliz em acertar o chute.”
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Em Veranópolis, a classificação para a decisão chegou a ficar ameaçada, mas o goleiro Rodrigo se consagrou em uma jornada épica. “Eles tiveram a chance de definir e o jogador acertou a trave. Eu virei para o auxiliar e disse que a vaga seria nossa. Depois convertemos e o Rodrigo pegou. O Avenida nunca tinha vencido o Veranópolis e ganhamos no ano passado e neste ano de novo.”
Em 2011, o grande rival era o Brasil de Farroupilha. Com investimento do empresariado local e um elenco destacado, o time da Serra era favorito para o acesso. Mas não contava com a garra avenidense para a ‘remontada’ nas Castanheiras. “A gente não tinha vencido eles naquele ano, nem nos amistosos. Nosso time era bom e estávamos confiantes. Acabamos ganhando de virada e sendo campeões. Eles tinham champanhe gelando e Corpo de Bombeiros preparado. No fim, acabaram não subindo.”
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Márcio Nunes recebeu a primeira oportunidade nos juniores do Guarani-VA após ter passado em peneirão, aos 17 anos. No clube, tornou-se profissional e permaneceu por quatro anos. Em 2002, teve uma experiência internacional ao atuar no IK Brage, da Suécia. Depois de retornar ao Brasil, passou a rodar por diversos clubes.
Na terra natal, Cachoeira do Sul, Márcio Nunes era centroavante nos campeonatos de várzea. Foi um treinador que o colocou como zagueiro. Apesar de ficar bravo, acabou aceitando e teve bom desempenho no Municipal. Desde então, passou a receber convites de outros times. No peneirão, em Venâncio Aires, não arriscou e se inscreveu como zagueiro. A altura, 1,90 metro, também foi fator a ajudar na carreira defensiva. Posteriormente, já como profissional, voltou para casa e defendeu o São José em duas oportunidades, quando o clube esteve no Gauchão. Agora, ele relembra os tempos de centroavante somente nos ‘rachões’.
Márcio tinha o objetivo de ser jogador profissional desde pequeno. Quando passou na peneira aos 17 anos, comunicou aos pais, Dilson e Tânia, que seguiria o desejo de infância. Apesar da tristeza dos pais, Márcio destaca que conseguiu dar alegria aos familiares pelo sucesso obtido em sua trajetória.
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Márcio enfatiza que o futebol oferece inúmeras dificuldades. “Sigo trabalhando sério para superar as dificuldades. Os desafios da minha carreira sempre foram grandes. Mas sempre consegui vencer. As coisas estão acontecendo como fruto da dedicação”, sublinha. O futebol para Márcio Nunes é sinônimo de imersão total. Ele pede concentração total durante os treinos e jogos. Não permite brincadeiras durante as atividades. Para o treinador, um conjunto de fatores cria o contexto para uma campanha de sucesso. Desde o presidente até o responsável pela manutenção do gramado.
Quem sempre o acompanha é o preparador físico Matheus Coelho, o homem de confiança. Além de assistir os jogos dos adversários, Márcio aproveita o material editado pelo analista de desempenho para rever algumas questões. Ele também busca informações e observa se há alguma coisa que possa estimular os atletas em relação aos rivais. “O jogo de bastidores é importante para motivar o grupo. O Rodrigo e o Alexandre brincam que estou careca e com cabelos brancos. Digo que é a rotina intensa de treinador. Muitas vezes vou dormir tarde e acordo cedo, pensando nas melhores estratégias. Não pode ser diferente. Precisamos ter a busca constante pelos objetivos”, frisa.
Márcio Nunes salienta que sabe o que é estar do outro lado do balcão. Por isso, entende os aspectos envolvidos no grupo de jogadores. Pela experiência, consegue detectar como estão os atletas somente pela maneira de olhar. Márcio identifica se algum jogador está insatisfeito por não jogar ou até mesmo se não dormiu bem por ter dado uma ‘esticada’ na noite anterior. “Esse filtro faz uma diferença enorme para quem é treinador após ter sido jogador. Sempre tive o perfil de liderança. Isso nasceu comigo e se desenvolveu desde a época da escola.”
Muitos atletas de grande potencial, conforme Márcio, ficam pelo caminho por não contar com o suporte familiar. O treinador defende a presença de um (a) psicólogo (a) nos clubes. Para ele, a cobrança por vitórias é muito grande. Seja dos torcedores ou da imprensa. “Nas redes sociais, todo mundo escala o melhor time e ninguém perde. A realidade é diferente. Os atletas acompanham e são influenciados. Antes, os companheiros conversavam sobre o adversário. Atualmente, cada um fica no celular e os momentos juntos são mais raros. Muitos jogadores sofrem um abalo psicológico por essa atmosfera”, considera.
Após três anos no RS Futebol, de Alvorada, Márcio Nunes viu a parceria de Paulo César Carpegiani com os sócios chegar ao fim. Em um clube estruturado, o capitão não pensava em sair, mas deparou-se com o encerramento do projeto que o obrigou a procurar novos rumos, em 2005.
No ano seguinte, o técnico Chicão, que o lançou no Guarani-VA, fez o convite a Márcio para que fizesse parte do elenco do Avenida. Ele aceitou a proposta, mas viu a direção enfrentar problemas financeiros durante a Divisão de Acesso, quando a equipe liderava a chave na primeira fase. “Os diretores largaram o clube e queriam desistir da competição. Todos ficaram apavorados. O Jair Eich chegou e assumiu tudo. Pagava salários e a comida dos atletas. Tenho o máximo respeito por ele. Ali começou a era encabeçada por ele”, recorda.
Nas duas vezes que o presidente Jair Eich ligou para Márcio Nunes assumiu a equipe como treinador, fora as quatro passagens como atleta, o ex-zagueiro nunca negou pela gratidão. “Ano passado não conseguimos subir. Depois fui para o Luverdense e fiz um grande Mato-Grossense, chegando na semifinal. Eu estava aguardando algo surgir para Série C ou Série D, mas ele me ligou pedindo que eu viesse”, conta. “Ele brincou dizendo que precisava de um treinador bom. Ele queria que eu indicasse um. Falei para ele que estava falando com o melhor. Ele perguntou se poderia contar comigo e disse que eu não poderia negar um pedido dele. Não falamos nem sobre salários. Fui dar o treino à tarde e nos acertamos depois”, confidencia. Para ele, a conversa daquele dia e o elo de confiança com Jair Eich foi o início do processo para a equipe obter o acesso.
Márcio Nunes atuou pelo Remo, do Pará, em 2010, e foi contratado pelo Avenida no ano seguinte, por indicação do meia Alexandre. Jair Eich foi a Porto Alegre com o diretor de futebol, Lúcio Collet, para acertar o retorno com o defensor.
A partir deste momento, passou a projetar o encerramento da carreira. Um dos conselhos recebidos foi o compadre Rodrigo Caetano, um dos diretores de futebol mais respeitados do Brasil. “Ele sempre me dizia para preparar o que faria depois de encerrar a carreira. Sempre fui capitão e ajudava os treinadores a montar os elencos. Eu tinha uma boa relação de confiança. Na maioria das vezes, indicava nomes e os caras correspondiam. Aos poucos, passei a gostar e vi que tinha o perfil. Como gostava do campo, de estar naquela adrenalina, optei por virar treinador”, relata.
Em 2016, Márcio foi para o São Paulo e joguei com o técnico Tiago Nunes na Série D do Brasileiro. Em 2017, o zagueiro iria disputar o Gauchão e depois se transformaria em auxiliar. “Na pré-temporada, o treinador era o Gilson Maciel. Ele estava sem auxiliar. Falei para o gerente, Renan Mobarack, que eu estava disposto a assumir. Ele disse que o técnico estava com vergonha de me convidar para não me aposentar antes.”
Após a queda de Gilson Maciel, Márcio Nunes assumiu como treinador e livrou o São Paulo do rebaixamento. A equipe de Rio Grande empatou com o Veranópolis, treinado por Tiago Nunes, fora de casa, e ainda conseguiu vencer o Grêmio, que depois seria campeão da Libertadores, em casa na rodada final. “Ali foi um trampolim. Comecei a carreira de treinador na fogueira. Depois do bom desempenho, fiquei para a Série D e acabei indo para o Ypiranga depois, que estava na Série C do Brasileiro.”
Pela característica de profissão, os jogadores de futebol mantêm uma vida de ‘nômade’, sem saber ao certo quanto tempo irá permanecer em determinado local. Márcio Nunes está com a esposa Nadieska, também de Cachoeira do Sul, desde 1999, quando começaram a namorar.
“Ela me conheceu nessa vida. Sempre entendeu e apoiou muito. É uma vida difícil, a gente sente saudade. Mas é a profissão que escolhi e amo fazer. Ela está sempre comigo, nos momentos de glória e de sofrimento. Entende perfeitamente como funciona. Ela carrega o fardo de cuidar das crianças. Não podemos trocar toda hora de escola e alterar toda a rotina.”
Márcio é pai de quatro filhos: Jan Luca (15 anos), Ana Luisa (9 anos), Davi Luca (um ano e nove meses) e Manuela (cinco meses). Nadieska revela que a condição do marido no futebol faz a família abrir mão de alguns sonhos. Mas, segundo ela, a ideia de carreira idealizada por Márcio foi comprada por toda a família. “Somos todos fãs dele e temos muito orgulho. O Jan Luca entende e tem uma visão sensacional de campo e vestiário. Tem uma grande vivência e o Márcio sempre permitiu que ele participasse disso. Ele conversa muito com o pai. A Ana Luisa se ofende se falam alguma coisa do pai. O acesso foi prazeroso para toda a nossa família. Somos unidos e vivemos isso com ele”, destaca.
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