O ator Márcio Kieling é responsável pelo roteiro e atua na produção “Até que a internet nos separe”, que estará em cartaz no Teatro Univates no próximo dia 12. A peça é uma reflexão bem-humorada sobre a influência da internet no cotidiano das pessoas. Conversamos com Márcio sobre aspectos de sua carreira e, também, sobre a inspiração para abordar a conectividade e a internet em uma peça de teatro. Os ingressos para o evento ainda estão disponíveis (clique aqui para comprar).
Univates – Como é escrever e atuar em uma peça ao mesmo tempo? O que é mais desafiador entre as tarefas?
Márcio Kieling – Quem dirige é o Fernando Gomes, diretor carioca, que tem experiência na direção de peças de comédia. O texto é meu. É o primeiro que escrevi para o teatro, já fiz alguns curtas e fiz um longa também. Entre escrever e atuar, o mais desafiador para mim é escrever. Eu tenho muita preocupação com o que o público vai achar. Procuro me envolver em projetos que tenham algo a dizer, alguma mensagem… Essa peça eu resolvi escrever porque eu mesmo passo por isso e vejo muitas pessoas passarem por isso: o mundo virtual, as redes, a tecnologia… Quanto isso influencia, nos prejudica ou favorece? Muitas pessoas acabam passando dos limites. É um assunto que está em alta, é contemporâneo. Com certeza as pessoas vão se identificar. Sabemos muito bem que as pessoas só querem mostrar o que lhes convém. Temos que ter uma dosagem. A peça fala sobre isso. É um desafio. É uma comédia que é ao mesmo tempo reflexiva. Eu gosto de provocar o espectador para saber.
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Univates – E a transição entre a atuação nos palcos e a atuação na TV?
Kieling – São dois veículos similares e ao mesmo tempo completamente diferentes. Por que eu digo isso? No teatro, quando você está no palco, tem que atuar para 500, 600 ou 1.000 pessoas assistirem. Então é necessário ter domínio. Na TV, não. É mais intimista. A câmera vai até você. Você pode estar a 1 km de distância e ela vai até você, você não precisa atuar para uma grande plateia. O que tem de muito comum entre as duas é que a gente precisa trabalhar com a verdade, tem de ser o mais sincero possível, porque a gente trabalha com experiências de vida, com personagens – nada mais que sensibilidade. Para mim, o desafiador neste momento está sendo o teatro, é no que eu tenho menos experiência. Eu comecei na TV, fazendo publicidade em Porto Alegre, e hoje estou mais focado no teatro porque é onde a gente ganha um estofo de aprendizado. Quando você está no palco, se errar, você tem que continuar a peça. São fatores externos que acabam influenciando na atuação. Na TV não, você erra, para e grava de novo. O desafio no teatro é bem maior.
Univates – Onde você concentra seus maiores esforços atualmente: teatro ou TV?
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Kieling – O ator precisa estar sempre aberto para novos projetos, independentemente de onde ele seja. Eu atualmente estou fazendo a peça, viajando em turnê, e acabei de fazer uma série para a TV, de três episódios, que se chama Chuteira Preta. A estreia é prevista para o fim deste ano ou início de 2019, no Prime Box Brasil. Meus esforços estão voltados para o teatro. Quando a série for lançada eu provavelmente vou ter de fazer alguma campanha de divulgação. A dedicação hoje é para a turnê da minha peça, com a qual eu tenho o maior prazer de estar viajando e podendo levar diversão e, ao mesmo tempo, uma reflexão para as pessoas que curtem teatro.
Univates – Como se deu a aproximação com a Carol Nakamura, que ocupa o outro papel de destaque da peça?
Kieling – Eu conheço a Carol Nakamura há algum tempo. Ela é amiga da minha esposa, a Jaqueline Fernandes. Elas se conheceram no balé do Faustão. Carol é bailarina e atriz. Depois a gente veio a se aproximar na novela Sol Nascente, na qual eu fiz uma participação, e ela fez também a novela. Acabamos nos encontrando nos corredores do Projac. A Carol está substituindo a Gabriela Durlo, que já tinha trabalhado comigo na Record (a gente já fez umas três ou quatro novelas, eu e a Gabi). Ela acabou engravidando e teve que sair do projeto. Como eu já acompanhava a Carol nas redes sociais, me deu uma luz de que ela era muito parecida com a personagem, de estar engajada com as redes e postando, mostrando o dia a dia da vida dela. A Pâmela, da peça, é uma blogueira – uma digital influencer -, e eu vi que a Carol, com o humor dela, tinha muito a ver com a personagem. Ela é muito engraçada. Hoje ela está arrebentando. Às vezes eu preciso me segurar em cena para não rir, porque ela tem umas tiradas muito bacanas que cabem direitinho na peça.
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Univates – Em “Até que a internet nos separe” o tema central é a influência da conectividade digital sobre a vida das pessoas. Neste caso em particular, sobre um casal. De onde partiu o desejo de retratar essa realidade por meio de uma peça de teatro? Foi fácil escrever sobre esse assunto? Em quanto tempo a ideia completa esteve formada?
Kieling – Surgiu a necessidade de se colocar a questão em evidência. Todo mundo se identifica. Incomodou o fato de as pessoas estarem muito ligadas à internet enquanto a vida passa na frente de seus olhos. Por que eu falo isso? Normalmente a gente vai sair com os amigos e numa mesa, entre cinco ou seis pessoas, quatro estão no telefone. Às vezes a gente exagera no uso. Eu já me peguei muito tempo na internet, minha esposa também. Deixamos de dar atenção para quem está do nosso lado para dar atenção a quem está longe. Costumo falar que a internet aproxima quem está longe e distancia quem está do lado.
Univates – Como você pessoalmente avalia a influência digital? Na sua opinião, chega a ser um problema?
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Kieling – Esse foi um dos motivos que me levou a escrever. O uso exagerado está levando a um problema. Muitas vezes elas acabam vendendo uma vida que não é real. Ninguém gosta de mostrar as derrotas nas redes sociais, só as vitórias. A gente precisa refletir sobre isso. É com humor, mas a gente precisa refletir. A pessoa pode viver uma vida alheia e não realmente a vida que tem.
Univates – E o público, qual é o feedback que vocês têm recebido sobre o espetáculo?
Kieling – Minha maior preocupação era o que o público iria achar. É o meu maior desafio, meu primeiro texto teatral, então sempre se quer saber qual é o feedback. O que eu tenho recebido de crítica é o melhor possível. As pessoas saem do teatro se identificando e, com certeza, refletindo sobre o que acabaram de ver. O papel da peça está sendo cumprido, o de levar com humor e leveza até que ponto o uso é bacana ou não.
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Univates – Tornamo-nos dependentes da internet para muitas coisas, desde as mais triviais até as mais complexas. Nesse contexto, é fácil abordar esse lado (supostamente) “negativo” da digitalização?
Kieling – É um caminho sem volta. A gente depende muito da internet para muitas situações. É óbvio que ela veio para facilitar a comunicação. O que a gente precisa refletir é até que ponto o que estamos mostrando na rede social é verdade ou não, está vendendo uma falsa realidade. O caminho da internet não tem mais volta, o que tem volta é a gente se adaptar ao meio de uma forma transparente e verdadeira, e não se escondendo atrás de aparências.
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