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Mancha na imagem

Quando penso que já vi de tudo, mais absurdos aparecem. Há quanto tempo ouvimos falar sobre notícias falsas e os impactos negativos, perigosos, da proliferação de mentiras ou meias-verdades? Faz anos. Muito pior quando acontece na área da saúde. Estimuladas não raro por impostores, gente que ganha dinheiro às custas do sofrimento alheio, pessoas arriscam a vida apostando em tratamentos “alternativos” comprovadamente inúteis.

Redes sociais servem como vitrine para anúncio das mais diversas curas milagrosas. Mas esse fenômeno já é conhecido, não causa espanto. O que surpreendeu foi decisão judicial divulgada neste mês em São Paulo. Um nutricionista havia publicado em perfil no Instagram postagem afirmando que a diabetes é causada por vermes, algo sem nenhuma comprovação científica. Ao mesmo tempo, ele promovia a venda de “protocolos de desparasitação” aos interessados, como tratamento eficaz para a doença.

Duas cientistas e influenciadoras digitais, responsáveis por canal no YouTube, leram a postagem e publicaram vídeo de esclarecimento, no qual desmentem a relação entre diabetes e vermes. O caso foi parar na Justiça, após o nutricionista sentir-se ofendido e denunciar por danos morais a bióloga Ana Cláudia Bonassa e a farmacêutica Laura Marise.

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A juíza Larissa Boni Valieris exigiu que o vídeo onde as cientistas expõem a notícia fake fosse removido das redes sociais – e não o contrário –, sob pena de multa. Ana e Laura ainda foram condenadas a pagar indenização ao nutricionista, mas a defesa vai recorrer.

Chegamos então a um novo nível de “pós-verdade”: quem desmente é processado por quem mente. E perde. Na decisão, a juíza considerou que as cientistas causaram uma situação de “vergonha e tristeza” ao demandante e que o conteúdo “resultou em ‘mancha’ de sua imagem na venda de seus serviços”.

O fato de que esses “serviços” correspondem à promessa de cura ilusória para uma doença crônica grave é, aparentemente, irrelevante. Lembrando que, sem o tratamento necessário, as complicações da diabetes podem causar até morte.

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Um balde de água fria naqueles que lutam contra a desinformação e pela veracidade. Que precedente nós temos aqui?

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Ricardo Gais

Natural de Quarta Linha Nova Baixa, interior de Santa Cruz do Sul, Ricardo Luís Gais tem 26 anos. Antes de trabalhar na cidade, ajudou na colheita do tabaco da família. Seu primeiro emprego foi como recepcionista no Soder Hotel (2016-2019). Depois atuou como repositor de supermercado no Super Alegria (2019-2020). Entrou no ramo da comunicação em 2020. Em 2021, recebeu o prêmio Adjori/RS de Jornalismo - Menção Honrosa terceiro lugar - na categoria reportagem. Desde março de 2023, atua como jornalista multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, em Santa Cruz. Ricardo concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira (2016) e ingressou no curso de Jornalismo em 2017/02 na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Em 2022, migrou para o curso de Jornalismo EAD, no Centro Universitário Internacional (Uninter). A previsão de conclusão do curso é para o primeiro semestre de 2025.

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