Não sei como se dá com você, mas comigo começa sempre com uma leve dorzinha de garganta que vai aumentando, aumentando, aumentando… até que eu tenha a nítida sensação de que uma população de formigas carnívoras, recém- saídas de um spa para emagrecimento, se instalou no meu gogó. Cada gole de saliva é um punhal nas amídalas.
Depois, vêm as vias aéreas interrompidas: ninguém decola, ninguém aterrissa, enquanto os controladores do tráfego promovem uma rave na minha cabeça. Badala um sino, da testa ao cocoruto.
E, por fim, um desânimo generalizado como se o corpo estivesse preso a correntes e essas correntes soldadas lá naquele trem do Nasário, da Praça da Estação Férrea. Tento sair de mim, mas uma voz interior me puxa e repete ad infinitum: cama, cama, cama…
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Gripe é tudo de ruim! É pior que a segunda divisão! É uma invenção do Diabo. E a febre, por exemplo… A febre só pode ser coisa do Demo!
Há mais ou menos uns cinco anos, tive a iminente sensação de morte por estar imerso em uma dessas malditas gripes. O troço foi tão poderoso que o seu nome oficial até parecia uma fórmula de química: H1N1 – e eu nunca fui muito bom em Química! Rapaz, eu fui parar no HSC. O apêndice, aquele, que uma vez eu deixei lá, foi picada de aparelhinho de medir a glicose em comparação com aquela gripe…
Esta, a de hoje, a que me atormenta enquanto escrevo estas mal traçadas linhas, com os dedos mergulhados na cascata de ranho que imunda o teclado do computador, é mais leve – se é que existe uma “gripe mais leve”. Mesmo assim, o suficiente para eu sentir vontade de largar tudo, me metamorfosear em uma panqueca (falta pouco) e ficar só na horizontal, esticadão, na cama, vendo Sessão da Tarde e gemendo… gemendo… gemendo baixinho… A fronha virada num lago dourado.
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