Elas se completam: Ana Júlia, criativa e sonhadora; Francine, prática e pé no chão. Talvez o conjunto dessas características não possa, de fato, ser considerada a receita para o sucesso, mas, sem dúvida, para um bom café, é sim. As irmãs Assis, Ana Júlia, de 36, e Francine, de 38, fundaram, há oito anos, o Sorella, cafeteria especializada na bebida, localizada na Avenida Senador Pasqualini. Desde 2020, as duas também mantém o Sorella To Go, na Marechal Floriano. E em 2021, assumiram a Fornalha, empreendimento idealizado pelos pais delas. Além disso, são mães. Haja café, hein?!
Coordenando equipes que somam cerca de 30 pessoas, elas foram se descobrindo empreendedoras, aprimorando habilidades – e fortalecendo tanto a sociedade quanto a relação de irmãs. “O relacionamento de irmãs a gente já tinha; a gente construiu um outro, de sociedade”, sublinhou Ana Júlia. “Quando a gente começou, a gente só sabia ser irmãs, a gente não sabia ser sócias. E tivemos percalços grandes, mas, como eu sempre digo: tudo tem ônus e bônus. O nosso ônus é a intimidade profunda, mas o bônus é a confiança inquebrável que temos uma na outra”, completou Francine.
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Tudo ficou mais fácil quando as duas perceberam que o equilíbrio era a chave. “Quando duas irmãs não concordam, elas brigam. Quando duas sócias não concordam, é necessário achar uma solução”, afirmou Francine. Elas acreditam que as diferenças são o diferencial da parceria. Para a escolha de cardápios, no entanto, o gosto é parecido. O café filtrado, por exemplo, é o preferido das duas.
As tarefas, no entanto, são divididas. Mas não é nada definitivo, se organizam conforme a disponibilidade de cada uma. “A gente passou por várias fases de divisão, até porque as demandas mudam muito também”, disse Francine. Num geral, separam os setores administrativos e financeiros de cada estabelecimento e cada uma assume uma parte, de acordo com o contexto do momento. As equipes formadas por elas, totalmente femininas nos dois cafés, fornecem um suporte fundamental para os negócios.
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No meio de tudo isso, ainda há os desafios de ser mulher. Ana Júlia aponta que empreender exige muito mais do que apenas coragem, força de vontade e disposição. “A gente ainda é muito julgada, tem que se impor mais”, destacou Ana Júlia. Na Fornalha, por exemplo, logo que assumiram a administração, alguns clientes estranharam. “Houve muita comparação, porque éramos duas mulheres jovens chegando. Foi tipo: cadê os homens que estavam aqui?”, mencionaram.
Sorella é uma palavra em italiano que, em tradução livre para o português, significa irmã. Bem apropriado para um empreendimento que exala, além de cheirinho de café, muito amor. A ideia do nome surgiu, segundo Francine, de uma pesquisa árdua. “Foi bastante longa, porque não foi fácil encontrar algo que fizesse sentido para nós. Mas, uma vez que a gente ouviu esse nome, não teve mais dúvidas”, contou.
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O Sorella surgiu quando Francine retornou de Porto Alegre e queria mudar de carreira. A partir disso, o objetivo, conforme as proprietárias, foi criar um local que servisse café, e que elas mesmas gostassem de frequentar. “Apesar de já ter cafés na cidade, nenhum tinha a proposta que a gente tinha”, relembrou Ana Júlia. O último passo foi encontrar o lugar perfeito: a esquina da Praça da Pasqualini.
A expansão para a Floriano foi uma ideia da criativa Ana Júlia, que, por algum tempo, foi deixada de lado pela realista Francine. “Eu dizia: agora não dá para a gente pensar nisso. Vamos nos organizar aqui primeiro. Não dá para fazer”, relembrou. E aí veio a pandemia de coronavírus e um convite para se instalar nas proximidades do Charrua. “A gente se olhou na mesma hora e disse: aquele café para levar!”, contaram, sorrindo.
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No início da vida adulta, Ana Júlia e Francine tinham planos bem diferentes. A mais velha foi morar em Porto Alegre e trabalhava com comunicação. A outra ficou em Santa Cruz do Sul, trabalhava com os pais e iniciou a carreira de empreendedora com outros sócios, na Domcello Pizza Express. Aliás, o negócio da família era pizza. O pai e a mãe das gurias, Luiz e Áurea, eram proprietários da Fornalha, pizzaria localizada na Rua Borges de Medeiros.
Essa administração se manteve desde 1994, ano da inauguração, até 2021, quando Luiz faleceu. Lá em 2015, Francine se descobriu uma empreendedora, com o Sorella, e não foi difícil entender que, em mais uma parceria com a irmã, era necessário dar continuidade ao legado dos pais. Até porque Luiz sempre foi um dos maiores incentivadores das filhas. “Ele sempre depositou muita confiança na gente”, disse.
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Não foi fácil lidar com o luto e, ao mesmo tempo, assumir o negócio, mas simplesmente encerrar a operação não fazia jus ao que o pai e a mãe delas haviam construído. “A gente sabia que seria uma demanda muito grande, tanto financeira quanto de tempo, e emocional, mas valeu a pena”, resumiu Francine.
A conversa com Ana Júlia e Francine, acompanhada de um café expresso, é leve, tranquila e inspiradora. Divertidas, as irmãs encaram a vida com bom humor – o melhor jeito de lidar com as adversidades e os desafios. Sobre ser empreendedora e mãe ao mesmo tempo (um super desafio), elas foram sucintas: “é uma loucura, é uma loucura!”
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Elas têm suporte da família, mas afirmaram que é impossível continuar trabalhando da mesma forma depois que se tem filhos. “Com organização, planejamento… Sabendo que nem sempre o planejamento vai dar certo, a coisa flui”, disse. Francine é mãe do Lucas, de 5 anos, e Ana Júlia tem Helena, de 1 ano e 4 meses. Ela está à espera do segundo ou da segunda, em uma gestação próxima dos nove meses.
Para quem tem vontade de empreender, Ana Júlia e Francine Assis fazem um alerta: é correr risco todos os dias! Mas também é necessário equilibrar as emoções. Tem que estar preparado para a adversidade, mas trabalhar com positividade. Também é importante não fazer tudo sozinho, mas saber fazer tudo. “Você não pode ‘ficar na mão’ nunca.” Elas, por exemplo, fizeram cursos de barista e aprenderam a fazer todos os cafés disponíveis no cardápio. “Se tudo der errado, a gente tem a gente.”
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