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IMPACTO

Mais da metade dos médicos se dizem esgotados após dois anos de pandemia, diz pesquisa

Foto: Marcelo Casal JR/Agencia Brasil

Mais da metade dos médicos (57%) se queixam de deficiências que dificultam o tratamento dispensado aos pacientes com Covid-19, colocando em risco a integridade dos entrevistados. O resultado faz parte de uma pesquisa feita pelas associações Médica Brasileira (AMB) e Paulista de Medicina (APM) com médicos de todo o país. O levantamento, cujos resultados foram divulgados nesta quinta-feira, 3, ouviu 3.517 profissionais, tanto de estabelecimentos particulares quanto de unidades públicas de saúde, entre os dias 21 e 31 de janeiro.

Entre os entrevistados, 45% responderam que faltam profissionais de saúde para atender aos pacientes com Covid-19 nas unidades onde trabalham. O resultado é superior aos 32,5% registrados em fevereiro do ano passado. Também houve quem se queixasse da falta de máscaras, luvas, aventais, medicamentos e até de leitos de internação em unidades regulares ou em unidades de terapia intensiva (UTIs).

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Mais da metade dos médicos (51%) disseram que estão esgotados ou apreensivos frente ao aumento do número de casos, decorrentes da disseminação da variante Ômicron – cujas subvariantes são mais infecciosas, segundo os especialistas. Falando não só de si, mas também de colegas, a maioria dos entrevistados disse haver, no ambiente de trabalho, profissionais com claros sintomas de estarem sobrecarregados (64%), estressados (62%), ansiosos (57%), próximos à exaustão física ou emocional (56%) ou com algum distúrbio relacionado ao sono, como dificuldade para dormir (39%).

Aumento de casos

Entre os profissionais de saúde ouvidos, 96% afirmaram que o número de casos da doença tinha aumentado em comparação ao último trimestre de 2021, mas seis em cada dez (59,5%) disseram não observar tendência de alta no número de mortes. Há pelo menos seis semanas, o número de mortes pela doença vem aumentando no país.

Nessa quarta-feira, 2, o Ministério da Saúde contabilizou 893 óbitos em 24 horas, elevando para 628.960 o número de pessoas que já perderam a vida para a doença. A pasta também confirmou mais 172.903 novos casos de pessoas infectadas por coronavírus.

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O avanço da nova onda da Covid-19 por todo o país pode ser constatado na própria pesquisa das entidades médicas: 87% dos entrevistados relataram que eles mesmos ou colegas de trabalho próximos receberam diagnóstico positivo para a doença nos últimos dois meses. Ainda assim, 81% deles dizem que a ocupação das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) ainda era menor que nos momentos mais críticos de 2021.

Reprovação

A maioria (75%) dos entrevistados destacou como positiva a forma como vem sendo executado o Plano Nacional de Operacionalização de Vacinação contra a Covid-19. Até a noite desta quarta-feira, ao menos 164 milhões de brasileiros já tinham recebido pelo menos uma dose do imunizante contra a doença. Já os brasileiros que receberam duas doses (ou a dose única, no caso da vacina Janssen) totalizam 151,2 milhões. A dose de reforço já foi aplicada em 37 milhões de brasileiros.

Apesar disso, 72% dos médicos ouvidos disseram reprovar a atuação do Ministério da Saúde: 34,4% deles consideram que a gestão ministerial da crise é péssima; 16,6% a consideram ruim e 21%, regular. Todavia, há 18,9% de profissionais que a julgam boa e 6,3% que a avaliam como ótima. A avaliação da postura das secretarias estaduais de Saúde é um pouco melhor: no geral, 52,6% dos médicos entrevistados aprovam a gestão dos estados.

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“Do ponto de vista da estratégia, de informações, o ministério deixa muito a desejar. E, certamente, onde a falha é maior, é nas recomendações”, declarou o presidente da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes de Amaral. Segundo ele, enquanto 65% dos entrevistados disseram buscar referências para o tratamento de pacientes junto às associações e sociedades médicas, apenas 14,6% responderam consultar os documentos produzidos pelo Ministério da Saúde. “Passados dois anos do início da pandemia, o ministério ainda não é capaz de nos oferecer recomendações consistentes. Há um desencontro de informações”.

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Para o presidente da Associação Médica Brasileira, César Eduardo Fernandes, o ministério envia sinais conflitantes à população, chegando a colocar em dúvida a segurança das vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e distribuídas pela pasta. Assim como Fernandes, 68,7% dos médicos que responderam à pesquisa reprovaram o trabalho de orientação à população sobre a importância da vacinação. “Parece-me uma dubiedade. Fala uma coisa em um momento e outra em outro momento. Um exemplo foi a vacinação infantil, postergada através de uma consulta pública desnecessária para, no fim, o próprio ministro comemorar a chegada dos imunizantes”, disse Fernandes.

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Adesão

Para as entidades médicas, apesar de a polarização política ter contaminado o debate em torno das estratégias de enfrentamento à Covid-19, a população vem demonstrando ser amplamente favorável à vacinação. Entre os médicos entrevistados, 81% disseram que a maioria dos pacientes atendidos nas unidades em que trabalham já tomou ao menos duas doses dos imunizantes. Apenas 0,2% dos 3.072 profissionais que responderam a esta pergunta afirmaram ter contato com pessoas que se negam a ser vacinados.

Além disso, 71% disseram acreditar que a maioria dos pais ou responsáveis levará as crianças para tomar a vacina, contra 12% que acreditam que os adultos não farão isso por diversas razões – quase o mesmo percentual (13,7%) de entrevistados que disseram não crer que a divulgação de fake news ou de informações sem comprovação científica afete o enfrentamento à pandemia.

Sequelas

A pesquisa ainda mostra que sete em cada dez médicos, ou quase 71% dos entrevistados, confirmaram que tem atendido pacientes com sequelas pós-Covid, tais como dor de cabeça incessante, fadiga ou dores no corpo (50%); perda do olfato ou do paladar (39%); problemas cardíacos e trombose (23%), entre outras.

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Além disso, metade dos profissionais disseram conhecer quem deixou de buscar atendimento para outras doenças devido ao medo de serem infectados por coronavírus e, com isso, tiveram os quadros clínicos agravados, especialmente pacientes com câncer, diabetes, doenças cardíacas e hipertensão.

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