Santa Cruz do Sul

Maiquel e Morgana: a história de dois bombeiros que atuaram nos resgates durante a enchente

O bombeiro militar Maiquel Rodrigo Toillier, 35 anos, integra a 1ª companhia operacional do 6º BBM. Na manhã do dia 30 de abril, terça-feira, ele estava de folga porque havia saído do curso de aluno sargento, quando foi atender a primeira ocorrência no Várzea. Ele conta que uma colega e amiga da Brigada Militar ligou, perguntando se poderia auxiliar a mãe dela, moradora do bairro, que estava com a casa prestes a alagar. “Removi a mãe dessa amiga de casa e mais uma vizinha dela. Depois, fui para o quartel para ver se precisavam de ajuda”, relatou.

A partir daí se iniciariam 18 dias de dedicação ininterrupta aos trabalhos de resgate das vítimas das enchentes. Tão logo chegou no quartel, Toillier formou uma equipe para atendimento no Várzea. Nos dias subsequentes, atendeu no Distrito Industrial, em Monte Alverne, em Sinimbu (na área urbana e na localidade de Alto Rio Pequeno), em Mariante e em Cruzeiro do Sul. Depois, passou mais nove dias em Pelotas. “Onde tinha vítimas, ‘estava inteiro’ ali”, destacou. Dentre os diversos momentos de tensão que enfrentou e presenciou, Toillier disse ter visto muitas pessoas em cima de telhados, em meio à água, pedindo ajuda, em estado de hipotermia, há dias sem comer e tomar água.

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Dos locais que mais o impactaram, ele considera Cruzeiro do Sul. “Era o local que mais tinha riscos por conta da força da correnteza. Não era só eu que precisava sair dali, mas também as outras pessoas, e a gente era a última esperança delas”, contou, acrescentando que uma das tantas cenas comoventes foi quando saíram com 14 barcos de resgate para prestar socorro e, no retorno, presenciou as pessoas esperando, com os olhos fixos (e em lágrimas) para as embarcações. “Elas tentavam ver se havíamos trazido seus familiares e quando apoitamos a emoção tomou conta de todos que estavam ali.”

Apesar da pressão e do caos pelo que acontecia ao redor, Toillier disse que o importante era agir. “As coisas vão acontecendo, mas não podemos nos deixar abalar. Do contrário, deixamos de salvar mais pessoas. Quanto mais firmes nos mantemos, mais segurança passamos para a população”, enfatizou. No entanto, ele reconhece que cada ocorrência atendida era também um pouco de si que deixava. “Essa última catástrofe me fez refletir um pouco sobre a minha conduta, sobre as pessoas que convivem comigo e sobre a população. Por mais difícil que seja, a união faz o povo mais forte e aguerrido. Vimos isso lá no front, independente de classe social, o espírito de fraternidade ainda paira entre nós. No fim das contas, vimos que o povo gaúcho se tornou um só, sem distinções.”

Toillier está há 12 anos na corporação e nos últimos seis atua em Santa Cruz do Sul. É condutor de embarcações e tem curso de guarda-vidas. Participa anualmente na Operação Verão no Litoral e depois retorna para o quartel. É natural da localidade de Alto Boa Vista, interior de Santa Cruz.

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Morgana Faller, sete dias de resgate

Em 29 de abril, quando chegou para assumir o serviço de comandante de socorro no quartel do 6o BBM, a segundo-sargento Morgana Pires Koelzer Faller, 33 anos, não tinha ideia do que a esperava. Tampouco, tinha entendimento da magnitude que a enchente alcançaria. “Cada chamado que atendíamos era um grito de socorro. Depois de uma breve triagem e montagem das equipes, nos preparamos para enfrentar o que seriam os dias mais difíceis de nossas carreiras”, disse.

O primeiro ponto em que Morgana atuou foi na ponte de ferro, em Rio Pardinho. Logo que chegou com a equipe, já não conseguiu avançar com a viatura. “Precisamos deixar a viatura e seguir a pé, puxando o barco, para acessar as primeiras famílias. As levamos para um ponto mais alto e contamos com a ajuda de um grupo de voluntários, que estava com caminhões”, disse. Depois de um tempo, foi para Balneário Panke, também em Rio Pardinho. “Foi lá que a gente teve noção do real poder de destruição”, observou.

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Na sequência, Morgana foi para Mariante e Cruzeiro do Sul, onde ficou por três dias e atuou juntamente com Toillier. Cita como marco a ajuda recebida de voluntários. “Foram eles que nos guiaram e nos deram a exata localização dos atendimentos. Cada membro da equipe trouxe consigo talentos únicos e uma dedicação inabalável. Juntos, enfrentamos desafios que, sozinhos, pareceriam intransponíveis. Vi a abnegação em cada gesto, em cada sacrifício silencioso, em cada noite sem dormir e em cada momento que alguém colocou o bem-estar do povo acima do seu.”

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Na missão, Morgana diz ter atendido um pouco em cada lugar. “Tudo foi com muita responsabilidade. Precisamos lidar com a incerteza do que teria nos próximos locais e entender que esse esforço era para garantir que as pessoas que dependiam de nós não ficariam desassistidas”, considerou. Ao todo, foram sete dias atuando nos resgates e, no retorno para Santa Cruz, se envolveu em outras frentes de trabalho no quartel.

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Ao falar sobre os aprendizados dessa catástrofe, Morgana enfatizou o trabalho em equipe, a solidariedade e a resiliência. “O amor das pessoas pelas pessoas”, resumiu. A segundo-sargento afirma nunca ter tido dúvidas sobre sua escolha e nem arrependimento. Ela diz que é um ofício que lhe traz propósito. Quando questionada sobre a diferença entre um bombeiro militar e qualquer outra pessoa, ela responde que “o mundo está cheio de pessoas comuns fazendo o impossível” e que a diferença é que receberam treinamento e decidiram colocar a vida do outro à frente da sua.

Morgana é a primeira mulher a assumir uma guarnição de serviço no setor operacional de Santa Cruz do Sul. Natural de Rio Pardo, ingressou na corporação em 2012 e há cinco anos presta serviço no município. Sua irmã, Vanessa, também é bombeira militar em Santa Maria e foi a primeira mulher a compor o pelotão local.

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Guilherme Bica

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Guilherme Bica

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