Um véu se move na praia. Galhos retorcidos, de idades acinzentadas pelo tempo, juntam-se ao redor. Ela, envolta no tecido flutuante, percorre a areia. Alcança o canto e a tarde se faz finda. A tela reabre. Agora, sobre ladrilhos a figura se move ao fluir do véu. Ela revoluteia, se achega, se afasta. Fecha-se sobre si mesma. Inerte, amostram-se os pés. Um grito surdo abre-se na boca sob o manto. Grito a plenos pulmões, deixado dos sons.
Sem demora, com a leveza de um relógio sem ponteiros, ela levanta. Caminha. Desaparece. Ressurge. Crava, sem ruído, uma estaca na areia. Deita-se com a cabeça voltada para a estaca de madeira trazida de terras desconhecidas. Faz seu corpo girar em torno do galho referencial. Levanta. Junta ramos e troncos sem compromisso com um círculo. Observa. Adensa madeiras largadas pelas águas que já foram continentais. Faz. Desfaz. Cata mais restos de madeira. O quase círculo já se apresenta feito ninho. Traz uma vasilha de contornos apenas adivinhados. Enterra-a na areia. Três banhistas atravessam a areia. Escurece. Ela se abriga sob o véu ou é o tecido que a encobre?
Sons humanos ecoam sem origem precisa. Dois veranistas caminham junto às ondas que, cansadas, gostariam de permanecer. Mas não podem. Retornam. Retornam. Rebentam. Rebentam. Rebentam e retornam. Andantes, eventuais banhistas pouco ligam para a pessoa que se retorce sob o manto. Esquece-se. Abandona-se. Atravessa o cenário. Despe-se do manto. Curva-se, abrigando seu corpo no próprio corpo.
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Silêncios. Reinícios. Metamorfoses. Cenas que seguem, sem finais. Estes desnecessários.
O observador, tomado pela rigidez do antigo cofre que abriga o mar, a praia, os passantes, a madeira amontoada, o piso, o véu e a moça, respira saídas. Volta sobre si mesmo, sem dar as costas à tela que se move à frente. Tela presa a um cubo de concreto e ferro. Volume hermético aberto à possibilidade da porta de ferro se fechar. Antes é preciso sair. Ainda, antes de antes é preciso ler: “às vezes é assim, bate uma angústia profunda que a gente não faz ideia de onde veio, muito menos se um dia vai conseguir ir embora. Dentro do peito a dor doía grande. Tão grande que precisou achar um jeito de sair. De alguma forma precisou sair”. O observador quase tropeça nos tecidos envoltos por galhos que demarcam os cantos do esconderijo, que já guardou “valiosidades”, mas que agora abriga uma parte da imperdível exposição “Terra Chama”, da artista Magui que sabe das emoções da Terra.
ENCONTRO PASCAL
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– Que tenhamos todos uma Páscoa abençoada.
– Que na Páscoa do ano que vem possamos comemorar significativos ganhos socioambientais na perspectiva de toda comunidade que se prepara para o futuro, incluindo consensos resolutivos de proteção e recuperação do Cinturão Verde e de aprimoramento das soluções para a Várzea e outros ecossistemas biodiversos.
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