O cuidado é diurno, noturno e se repete a cada dia durante quase 28 anos. Janete Billig Mayerhofer, de 54 anos, natural de Arroio do Tigre, mas moradora de Sobradinho há quase 30 anos, tem uma rotina estabelecida há pelo menos 26 destes 28 anos. A parte da história dela, que será contada hoje, é a de mãe, sobretudo da mulher especial que cuida de uma jovem especial.
Casada com Rudi Elemar Mayerhofer, é mãe de dois filhos, Rudinei, do qual a gravidez, pouco tempo após o casamento, exigiu mais cuidados e repouso; e Janaína, que chegou dez anos depois, para completar a família. O sonho de ser mãe sempre esteve presente, e se realizou com a vinda dos filhos.
Trabalhando na agricultura, Janete e o marido tinham na lida do campo o sustento da família. Levando a vida no interior, na gravidez à espera de Janaína, conforme recorda Janete, tudo transcorreu bem, de maneira tranquila e sendo realizado parto normal. Foi então, pouco tempo depois, que os sentidos da mãe apitaram para a percepção de que algo poderia estar fora do rumo no desenvolvimento da filha. “Quando ela tinha uns quatro meses de idade comecei a desconfiar que poderia ter algum problema, mas na época não existia os exames que se têm hoje, além dos valores serem altos. Sequer havia o teste do pezinho, que ela veio a fazer algum tempo depois. Lembro que era um salário mínimo para realizar o teste e a gente não tinha como pagar”, conta.
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Janete recorda de ter falado sobre o assunto com pessoas próximas e acreditarem que poderia ser apenas algum atraso no desenvolvimento. “Naquela época não se tinha facilidade para ir a médicos. Um dia, quando ela tinha nove meses de vida, o filho do meu patrão me perguntou o que eu estava esperando para levar a Janaína consultar, e falei que não tinha condições. Estavam difíceis as coisas. Foi então que a madrinha do meu marido, quando a Janaína completou um ano, me deu 30 reais de presente, o que há mais de 20 anos atrás valia mais, e eu a levei consultar. Ali começou a minha luta e nunca mais parei”, salienta.
Conforme Janete, a partir desta primeira consulta se seguiram 23 anos de viagens a Porto Alegre em busca de recursos para a saúde da filha, diagnosticada com paralisia cerebral com 1 ano e dois meses de idade. “A partir dali foi uma série de outras consultas, exames, remédios, cirurgias, enfrentando dias frios para pegar a condução com ela no colo e, anos depois, na cadeira de rodas. Quantas vezes comemos pão com banana nestas viagens e às vezes sem ter nenhum dinheiro para comprar um lanche. Eu também não tinha fralda descartável, ia com uma sacolinha de fraldas de pano, mas nunca desisti. Sempre digo que só uma mãe especial para ter uma filha ou filho especial”.
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Desde o nascimento de Janaína, e ainda mais após o diagnóstico, Janete tem dedicado seus dias ao cuidado da filha. “Ela não fala, não caminha, usa fralda, não se alimenta sozinha. O dia do diagnóstico foi muito difícil. Chorei muito. Na época eu tinha 27 anos, a idade que a Janaína tem hoje. Quando ela tinha entre 8 e 9 anos achamos que poderia vir a caminhar, porque fazia alguns passinhos com alguém segurando embaixo dos braços, mas depois ela teve escoliose, precisou fazer cirurgia na coluna, colocar parafusos, e acabou perdendo ainda mais os movimentos, vindo ainda a surgir outros desafios relacionados a paralisia. Os profissionais costumam dizer que é preciso se preparar para receber um paciente assim. E nós, que preparo a mãe tem?”, indaga Janete sobre os desafios de algo até então desconhecido e que trouxe consigo muitos aprendizados.
Segundo ela, a fé foi e é essencial. “Às vezes tu mesmo não sabe de onde tira forças para superar tudo. A fé é fundamental, assim como o amor incondicional. Além disso, o apoio do marido, que sempre me ajuda muito. A Janaína não consegue falar, é muito difícil para entendê-la, principalmente quando tem alguma dor. Conseguimos perceber em algumas reações, em que ela tenta se expressar, mas é raramente”, frisa.
A Apae é um dos locais frequentados pela família, espaço que proporciona bem-estar a Janaína e conhecimento aos pais. “É muito bom. Lá a gente vê tantas histórias. Se tu fica só em casa acha que é só ‘eu’ que tenho esse problema. Nos sentimos bem e percebemos que ela também se sente bem, onde tem a convivência com outras pessoas”.
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Para Janete, olhar para sua trajetória e o exercício de seu papel de mãe é uma coisa sem explicação. “É preciso ter muita dedicação, muito carinho, muita paciência, e Deus me deu ela e vou cuidá-la enquanto eu viver. Aqui em casa é assim, se a Janaína está bem, tudo está bem. Emociona. E o que me dói muito é que muitas mães têm os filhos perfeitos e reclamam da vida, nada está bom. Eu diria para elas que cuidem, uma semana, de uma criança especial, que elas não vão mais reclamar. Eu vivo em função dela. Que Deus me dê sempre força e saúde para cuidar dela. E que todas as mães especiais continuem tendo força e garra para superar os obstáculos da vida. Tem os dias ruins, os dias bons, a gente sofre muito, mas também tem muitas alegrias”, salienta a mãe.
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