Alvo de boatos e comentários ao longo da última semana entre moradores do Bairro Faxinal Menino Deus, em Santa Cruz do Sul, o suposto suicídio de Peterson Diego dos Santos, de 30 anos, ainda levanta dúvidas. O homem saiu de casa por volta da 0h10 do dia 16 de dezembro e não voltou mais. Por volta de 1 hora da mesma madrugada, foi encontrado pela Brigada Militar enforcado no ferro de sustentação de uma parada de ônibus, pendurado por fios de extensão elétrica presos ao pescoço, a cerca de cinco quadras da casa onde morava, na Rua Curitiba.
Na oportunidade, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi até o local e atestou a morte. A Polícia Civil também esteve na cena do fato e acionou a perícia para os levantamentos. No atestado de óbito, a causa de morte é enforcamento por asfixia mecânica. No entanto, as circunstâncias por trás do possível suicídio ainda estão sendo investigadas pela Polícia Civil. Sabe-se, porém, que em seus últimos dias, Peterson aparentava estar mais agitado do que o normal.
À mãe, Rosângela dos Santos, de 46 anos, que morava com ele em uma casa simples do Bairro Faxinal Menino Deus, Peterson dizia estar sendo seguido por dois homens em um veículo Chevrolet Celta, cor prata. Já na segunda-feira, dia 14, se mostrava ansioso e muito agitado. Um registro em seu celular, às 2h23 da madrugada do dia 15 de dezembro – menos de 24 horas antes de ter, supostamente, tirado a própria vida – mostra uma ligação para o 190.
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“Eu ouvi ele dizendo à Brigada Militar que dois homens estavam o seguindo. Não entendi o que responderam, mas ele falava que esse Celta prata estava nas imediações de onde, pouco antes, ele havia sido deixado pelos próprios policiais, próximo à nossa casa”, relatou Rosângela.
Segundo a mãe, ele havia comprado um Chevrolet Chevette de forma fria, com um desconhecido. Naquela madrugada, Peterson foi parado a bordo do carro em uma barreira policial na Rua Capitão Fernando Tatsch, no Centro de Santa Cruz do Sul.
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Na ocorrência, houve três autos de infração: por ele não estar habilitado; pelo veículo estar com licenciamento vencido; e porque o proprietário (um terceiro) permitiu que pessoa não habilitada dirigisse o automóvel. A abordagem realizada pelos PMs a Peterson foi confirmada pela reportagem, junto à Brigada. O Chevette foi recolhido ao guincho e será restituído ao dono, mediante pagamento do licenciamento e comprovação da propriedade. Segundo Rosângela, depois da ocorrência, Peterson teria sido deixado perto de casa pelos policiais.
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Após o corpo ser removido da parada onde foi encontrado, no dia 16, foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) de Santa Cruz do Sul. Naquela manhã, segundo a mãe da vítima, ela acabou não sendo comunicada da morte do filho. O primeiro a ser avisado da morte de Peterson foi o ex-cunhado, irmão da ex-mulher dele – que não teria avisado a família de Peterson.
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Depois de o corpo passar um dia inteiro no IML, apenas no dia 17 Rosângela recebeu uma mensagem por WhatsApp da Polícia Civil, solicitando que fosse ao IML retirar o corpo. Momentos antes disso, no mesmo dia, Rosângela, que trabalha no caixa de um supermercado do Bairro Arroio Grande, havia recebido a notícia enquanto trabalhava, por intermédio de uma das filhas.
“A morte aconteceu no dia 16, por volta de 1 hora, e só entraram em contato dia 17, depois das 9 horas. Não entendi porque demoraram para entrar em contato. Me falaram na delegacia que tentaram ligar, mas que meu celular estava desligado. Mas podiam ter mandado mensagem pelo WhatsApp, como fizeram no dia seguinte, ou por Facebook”, contou a mãe, que passou algumas horas do dia 16 em uma área de Sinimbu, onde possui residência e não há sinal de linha telefônica, apenas de internet.
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Ela ainda busca as roupas do seu filho, utilizadas no momento da morte. “Na imagem em que ele aparece na parada, estava com as roupas que saiu de casa naquela noite. Com chinelo, bermuda jeans e camiseta amarela que eu dei pra ele. Acharam R$ 10,40 no bolso, acharam um isqueiro, mas as roupas dele ninguém me entregou até agora”, reclama a mãe.
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“Me tiraram o direito de poder ver logo ele. Tive que me despedir de uma forma rápida. Queriam caixão fechado, devido ao estado já avançado de decomposição e do mau cheiro, mas eu implorei para que não fosse. No fim, não deu nem três horas de velório”, relatou Rosângela. Peterson foi velado no Cemitério Santo Antônio, onde também foi enterrado. Era de pai de um menino de 4 anos, com a ex-mulher. No próximo dia 9, completaria 31 anos de idade.
Peterson Diego dos Santos era usuário de drogas e bebia álcool. Possuía antecedentes por violência doméstica pela Lei Maria da Penha. Filho mais velho de quatro irmãos, trabalhava como pedreiro. “Tive ele com 15 anos. Era mãe solteira. Foi um filho exemplar até os 23 anos, quando se envolveu em um relacionamento complicado, com agressões mútuas, com ele indo buscar drogas pra companheira”, comentou a mãe.
Segundo Rosângela, Peterson teve envolvimento com mulheres ligadas ao crime. “Chamavam ele de ‘Don Juan’, que na língua dos traficantes quer dizer ‘pegador’. Sei que ele usava drogas e muitas vezes não sabia se o que estava dizendo era verdade ou mentira. Nada vai me trazer ele de volta, mas estou de coração aberto em buscas de respostas”, salientou.
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A Polícia Civil não entra em muitos detalhes sobre o caso. Uma investigação, porém, está aberta para apurar as circunstância da morte. Um boato de que o homem teria sido morto e encontrado com as mãos amarradas já foi desmentido. As afirmações devem-se a uma imagem que circulou em grupos de WhatsApp, que mostra Peterson enforcado no suporte da parada e dá a impressão de que ele estava com as mãos amarradas por uma espécie de fio.
A perícia revelou que o objeto era uma pulseira usada por Peterson. “Temos alguns laudos pendentes, que deverão esclarecer de forma definitiva o caso. Inclusive, já solicitamos imagens de câmeras para buscar confirmar o que efetivamente ocorreu, mas os elementos preliminares coletados indicam que ocorreu um suicídio. Isso, no entanto, está sendo averiguado no decorrer da investigação. Já temos um procedimento instaurado e isso está sendo checado”, comentou o delegado responsável pela 2ª Delegacia de Polícia, Alessander Zucuni Garcia.
A possibilidade de Peterson ter tirado a própria vida para proteger a família intriga a mãe Rosângela. “Quando ele me falava que estava sendo seguido, eu dizia que não tinha nada atrás dele, e ele falava: ‘A senhora não está acreditando. Quando eu aparecer morto, vai sentir a minha falta. Se entrarem aqui em casa não vai sobrar nada de nós’. Existe a possibilidade de ele ter sido seguido, ameaçado, de ter feito isso sob pressão, para não colocar a mim e a irmã dele em risco.”
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