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Luiza Reis: não podemos tudo!

*Por Luiza Reis

Não, não comece me xingando por esse título. Afinal, é verdade, não podemos tudo, não por não sermos capazes (porque somos, e muito), mas sim porque existe um sistema feito para que a gente não possa! A propaganda em homenagem ao Dia Internacional da Mulher desse ano dos canais Sportv nos remete ao questionamento “como é ser mulher no esporte?”. Na sequência, a resposta dada: ser mulher no futebol é como ser mulher na sociedade.

Está mais inclusivo? Está! Estamos tendo mais oportunidades? Estamos! Agora, estamos vivendo sem discriminação e preconceito? Me diga você, mulher, o que você sente no seu dia-a-dia? Era 2009 e eu, mulher, resolvi me aventurar num curso de arbitragem de futebol. Parece recente, não? Mas os tempos eram outros, o futebol feminino praticamente não “existia” para a mídia e federações esportivas e as árbitras dessa modalidade eram vistas de certa como forma como símbolos sexuais.

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Logo no primeiro momento, quando fui fazer minha inscrição, me bateu um choque da realidade onde estava “me metendo”. Ao entrar no elevador para subir à Federação Gaúcha de Futebol entregar meus documentos, ingressa junto um outro candidato ao curso, homem, militar, muito sério e carrancudo, no auge do seu 1,90 metro de altura. Naquela hora pensei “o que estou fazendo aqui?”.

Eu, que nunca tinha percebido que havia coisas que mulheres não eram “encorajadas” a fazer, pois desde pequena meus pais me deixaram claro que eu sempre poderia escolher e fazer o que bem quisesse, passei a me questionar se aquele lugar era para mim. Hoje, digo com propriedade, aquele lugar não só era para mim, como continua sendo, como é para qualquer mulher. O decreto-lei 3.199, de 1941, excluía as mulheres do futebol, por considerar que não podíamos praticar modalidades incompatíveis às condições da natureza feminina. Apenas em 1983 esse decreto-lei foi revogado.

Então, faço a você leitor um outro questionamento: é importante ter mulheres no futebol? A lei dificultou a vida de quem gostava de futebol. Até hoje, a presença feminina muitas vezes é vista como inferior e de menor valor.
Por isso considero que aquele lugar era para mim! Por isso é relevante ter mulheres nos representando em todas as instâncias do futebol. Por isso é importante incentivar e apoiar qualquer mulher que você veja que está trabalhando com futebol. Você, torcedor e leitor (torcedorA e leitorA principalmente), não sabem o que passamos para estar lá nos representando. Não sabem o quanto foi batalhado e o quanto é difícil.

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Então, apoie mulheres, olhe a vida do ponto de vista de nós mulheres. Tudo que uma mulher não precisa quando erra é gente a atacando por isso. Assim, você está punindo a mulher duas vezes. E você, leitor, você também erra! Usando as palavras de Simone de Beauvoir, “nós mulheres não deveríamos tratar umas as outras como a mulher, mas como nós”. Futebol e arbitragem de futebol são sim lugares de mulher!

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