É a história de uma relação familiar, antes de mais nada. Um homem investiga suas lembranças na tentativa de compreender melhor o pai, que acabou de morrer em trágicas circunstâncias, e com quem ele sempre convivera pouco. Nessa jornada da memória, revive episódios traumáticos de racismo que contribuíram na formação das identidades desses personagens, todos eles negros.
Também é uma história sobre educação pública. É com extrema sensibilidade que o autor expõe os desafios enfrentados por um professor negro de 52 anos, com duas décadas de magistério e uma boa dose de frustração acumulada nesse tempo, em um sistema educacional cheio de problemas que, aparentemente, ninguém se esforça para resolver.
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Mesmo assim ele se empenha, esse professor de literatura, para atrair a atenção de alunos quase sempre alheios. Em certa noite inspirada, ele conseguirá animá-los para a leitura de Crime e castigo, de Dostoiévski. Ou seja, nem tudo está tão perdido assim.
E há tantas outras questões significativas e relevantes em O avesso da pele, de Jeferson Tenório, que eu não consigo parar de me perguntar: como um livro tão rico foi reduzido a três ou quatro palavrões em duas ou três páginas (de um total de 190)? Como ele virou alvo da fúria de pessoas que nunca o leram, mas vão às redes sociais gritar que gostariam de queimá-lo? Entendo que cada um concentra sua atenção no que julga mais importante, e talvez o equivocado seja eu; talvez os longos trechos sobre temátcas sociais não sejam nada perto dos palavrões.
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Mesmo assim, é espantoso. E triste. Nem vou entrar no mérito do debate em sala de aula, pois é uma discussão de educadores. Mas o que há de intolerável em O avesso da pele perto de vários livros de Rubem Fonseca, João Ubaldo Ribeiro, Moacyr Scliar e outros? Nos meus 15 anos, eu chegava a esses autores na escola.
As referências a sexo são mesmo o problema nessa história? Ou seria alguma outra coisa?
E enquanto a “caçada” continua, agora com recolhimento de livros em outras partes do Brasil, Tenório tem motivos para comemorar: ele poderá chegar ao fim deste ano como o novo best-seller da literatura brasileira.
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