Alguém escreveu certa vez, não lembro quem, que a loucura nos indivíduos é uma exceção, uma transgressão; mas em grupos e povos, nos grandes coletivos humanos, ela se transforma em regra. Não tenho certeza de que entendi absolutamente, mas arrisco uma leitura ligeira.
Por exemplo: um homem saca um revólver e começa a atirar a esmo em todos que passam pela rua. Dirão que sofreu um surto psicótico ou algo do gênero. Dificilmente alguém em sã consciência tentará justificar o que ele fez. Mas se um país invadir outro, bombardear cidades inteiras, áreas residenciais, hospitais e escolas, em pouco tempo isso se tornará aceitável e parte da rotina. Eventuais protestos indignados terão fôlego curto e logo se renderão a um silêncio cúmplice e racionalizações políticas, econômicas, religiosas etc. É como as coisas são.
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Pois quem comete “crime” é o excêntrico lobo solitário. A alcateia apenas se defende, impregnada de espírito comunitário. Nada está errado quando existe aprovação coletiva. Lembro de um filme policial dos anos 80, Mississipi em Chamas. Em uma cidadezinha no Sul dos Estados Unidos, agentes do FBI investigam o desaparecimento de três ativistas dos direitos civis, que por sua vez combatiam a violência racista da Ku Klux Klan.
Desde o início, ninguém acredita que estejam vivos; e, para boa parte da população, eles só “tiveram o que mereceram”. O preconceito é um alicerce cultural tão sólido que, a certa altura, tem-se a impressão de que qualquer um, ou quase, poderia estar no lugar dos criminosos. E se enxergaria como herói.
A História é cheia de exemplos dos extremos a que se pode chegar quando existe “aprovação coletiva”. Desnecessário enumerá-los.
Isso parece distante? Mas aqui, discute-se se um “lobo solitário” foi o responsável pelas explosões de quarta-feira em Brasília, em frente ao Supremo Tribunal Federal. Não é de hoje. Em dezembro de 2022, forças de segurança desativaram bombas que seriam detonadas no aeroporto de Brasília.
Francisco Wanderley Luiz teria feito o que fez se não tivesse o aval, mais ou menos explícito, de muitos que gostariam de “explodir” o STF? Ele estava sozinho ou apenas morreu sozinho?
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