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CADERNO ELAS

Luana e Ana: vida e propósitos compartilhados

A desvalorização da educação é uma realidade histórica brasileira. Esse processo acontece em diferentes ramos, entre eles o econômico, psicológico e social. A profissão de professor não é valorizada perante a sociedade, faltam políticas públicas que protejam esses profissionais; os valores da categoria e constantes atrasos de salário da rede pública também não contribuem. 

Talvez por esses motivos, apenas 3,3% dos estudantes brasileiros de 15 anos querem ser professores. Os dados são do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2015. Mesmo com a desvalorização, a área não deixa de ser uma das mais importantes, principalmente por ser ponto-chave para a formação de profissionais de todas as áreas. Nesse cenário, a nobre vontade de atuar na arte de ensinar perpassa pelas pessoas e é transmitida entre gerações, criando histórias inspiradoras.

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Uma dessas histórias inusitadas é a das irmãs Ana Paula Teixeira Porto e Luana Teixeira Porto. A paixão pela literatura e pelos livros entrelaçou a vida profissional. Juntas desde os primeiros minutos de vida, as gêmeas encontraram na área da educação um caminho para compartilhar conhecimentos, mas também explorarem a individualidade de cada uma. A história começa em 1998, quando as jovens, naturais de Candelária, estavam na dúvida sobre qual caminho seguir na graduação. Em 1999, ingressaram na Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e iniciaram uma trajetória permeada por insegurança em relação à escolha profissional.

“A inserção no curso de licenciatura em Letras não se deu necessariamente por uma escolha. Mas sim, por uma estratégia de ingressar no campo da universidade”, explica Luana. Atualmente, as duas são pesquisadoras pós-graduadas e lecionam no Centro de Ensino Integrado Santa Cruz, em Santa Cruz do Sul (Ceisc). 

A área da educação foi uma estratégia para estar no meio acadêmico, um desejo de Ana Paula e Luana, recém-saídas do Ensino Médio. Para as irmãs, foi uma oportunidade de transformar realidades de alunos e formar profissionais. “A educação é um ponto de partida para a nossa própria constituição. Primeiro, a constituição enquanto sujeitos, cidadãos e profissionais”, analisa Ana Paula Porto.

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Além disso, a área também permitiu gerar inspiração e aprimorar os conhecimentos dentro da própria família. Isso porque a educação não afetou apenas a história da dupla. Mesmo que sem intenção, elas se apaixonaram pela mesma área em que alguns integrantes da família já atuavam, entre eles sua mãe. Jucélia Teixeira Porto. Ela era professora, mas tinha formação somente no magistério. 

A trajetória das filhas foi inspiração para que ela ingressasse no curso de Pedagogia, para se qualificar. Atualmente, ela é professora aposentada da rede pública de Candelária. “A gente teve o nosso alicerce, mas também pôde impulsionar e fazer com que a família se desenvolvesse ainda mais, do ponto de vista afetivo, emocional e profissional”, diz Luana Porto. 

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De dupla na faculdade a colegas de trabalho

Em 1999, as duas se mudaram para Santa Maria e iniciaram o curso na UFSM. O caminho trilhado em conjunto contribuiu para que elas explorassem ainda mais o novo ambiente, os novos projetos, e aprendessem a se encontrar no curso. Aos poucos, o mercado profissional e acadêmico das letras tornou-se algo que almejavam juntas.  A companhia uma da outra reforçou o que elas mais têm em comum: a vontade de conhecer o novo, se desafiar, e isso foi feito mesmo nos pequenos gestos na nova cidade – maior e mais povoada que a antiga, Candelária Mas essa nova experiência também serviu para salientar as diferenças que cada uma necessitava para seu futuro.

“Nem sempre fazíamos as disciplinas juntas, então criamos momentos em que a individualidade se sobressaía. E em outros éramos uma dupla que tinha afinidade por ter um vínculo afetivo, de confiança, por ter objetivos de vida muito parecidos, e isso contribuiu muito pro resultado que a gente alcançou”, diz Luana. 

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Ana Paula e Luana trilharam caminhos semelhantes após a graduação. Realizaram mestrado e doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Luana buscou pós-doutorado em Letras e especialização em educação a distância. Mais recentemente, uma faculdade de Direito, a qual ainda cursa. Enquanto Ana Paula também especializou-se em educação a distância, fez estágio pós-doutoral e uma segunda graduação de Letras Espanhol. Ambas já tiveram experiências em cargos de coordenação pedagógica.

Fotografia lembra o ano da formatura em Letras

Atualmente, as duas são docentes da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões e professoras do Centro de Ensino Integrado Santa Cruz (Ceisc). Em um cenário de constantes mudanças no âmbito da educação, os encontros entre irmãs também são uma oportunidade de pensarem juntas formas de dinamizar as aulas. “O cenário do professor de quando nos formamos não é o mesmo, então a gente precisa estar em constante evolução. Seja nos temas, nas metodologias, na gestão da sala de aula”, diz Luana.

Companheiras para a vida

Quando se pergunta quem são Ana e Luana fora de suas profissões, a resposta é objetiva: “Somos muito simples, focadas e determinadas naquilo que a gente se propõe a fazer”, diz Ana. Na irmandade, elas são, acima de tudo, melhores amigas. “A gente divide experiências, sonhos e frustrações”, continua Luana.
Luana ama ler e se divertir com aulas de dança, shows e esportes como beach tennis. Já Ana é mãe da pequena Sthéfane Porto, de 5 anos, e utiliza o tempo livre para estar com a família, algo que as duas aproveitam juntas. “Quando uma está precisando de ajuda, a outra está lá, não precisa nem comunicar, a gente se entende pelos olhares. A gente tem na outra o porto seguro”, complementa Ana.

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Desafios

Apesar do amor pelo trabalho, as irmãs não escondem a dificuldade vivida na área. “Eu não tenho dúvidas de que a educação é um pilar essencial para o desenvolvimento de qualquer país. No entanto, o que eu vejo é que não conseguimos ter políticas de Estado voltadas para uma educação de qualidade”, explica Luana.

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Uma pesquisa feita em 2023 apontou que a maioria dos professores na rede pública e privada sofrem de distúrbios como síndrome de burnout, estresse e depressão. O estudo foi publicado no livro “Seminários trabalho e saúde dos professores: precarização, adoecimento e caminhos para a mudança”, lançado pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro).

As gêmeas percebem essa desvalorização na prática e lutam pela busca de seus direitos. “Valorização social, remuneração condizente, condições mais adequadas com o tipo de entrega que se quer. Hoje temos professores adoecidos, é uma das áreas que mais tem afastamento por saúde mental”, acrescenta Ana.

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