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HISTÓRIA DE VIDA

Longevidade: tio Dóia, o “Romeu” de dona Reni

Foto: Clarissa Gomes

Falar de Tio Dóia sem mencionar dona Reni, com quem dividiu as agruras naturais da vida por 65 anos, seria como citar Romeu e ignorar sua amada Julieta, dos contos literários. Seria uma história com enredo pela metade. E desde que veio ao mundo, em 1937, com o Tio Dóia é assim: ele gosta das histórias com início, meio e fim.

João Itamar Rodrigues era ainda Joãozinho quando conheceu sua alma gêmea no bom-dia de todas as manhãs. As casas de João e Reni eram tão próximas, que da janela de uma via-se o amor pretendido na outra.

Joãozinho cresceu guiado pela mãe, sem nunca conhecer o pai. O mais velho de quatro irmãos, teve que assumir responsabilidades de adulto antes mesmo de chegar à adolescência. Com dignidade no peito e sem ter vergonha de aceitar qualquer serviço que aparecia, seu primeiro emprego foi o que na época chamava-se de lixeiro, hoje gari, função que exerceu até atingir a idade militar.

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Os 11 meses no Exército lhe serviram para alavancar seus sonhos. Além da maturidade, conquistou a tão sonhada habilitação para dirigir. E foi na função de motorista que retornou à vida profissional do lado de fora dos muros do quartel, inclusive criando vínculos com as lideranças políticas da época.

Para ele, duas personalidades foram muito marcantes em sua trajetória de homem honrado: Elemar Gruendling e Arno Frantz, dois prefeitos que lhe abriram as portas da oportunidade. O primeiro o chamou para gerenciar a Cooperativa dos Servidores, função que exerceu por 15 anos. Já seu Arno, como ele se refere, precisava de um homem com pulso firme para comandar 60 funcionários na usina de lixo, no hoje Bairro Dona Carlota. Tio Dóia aceitou o desafio, e lá ficou por dez anos.

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Além da paixão pelo trabalho, e por sua “Julieta” Reni, João Itamar teve outro amor em sua vida: O Esporte Clube Avenida. A relação com o chamado clube do povo teve o pontapé inicial ainda muito jovem, na posição de goleiro. Por isso do apelido Dóia, em referência a um jogador do Internacional da época. Tempos depois, o menino defensor tornou-se presidente do Nida, pela primeira vez em 1984, o que lhe deu o título de respeitado Tio Dóia pela garotada. Ele presidiu o Periquito em outras quatro ocasiões, nos anos 1980. Orgulha-se por ter contribuído para estruturar as piscinas do clube e fazer o Nida retornar a competições importantes, além de ter trocado, em sua última gestão, o gramado do campo.

Para concluir a história desse homem corajoso e determinado, precisamos voltar no tempo em que ainda o chamavam de Joãozinho, o guri apaixonado que avistava sua amada pela janela.

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O romance de João e Reni precisou de uma boa dose de ousadia para dar certo.

Os pais da moça não aceitavam a relação dos dois de jeito nenhum, pelo fato de Joãozinho ser negro. Mas ele e ela não se deram por vencidos e, diante do impedimento, resolveram fugir de casa. Abrigaram-se na casa da tia de João, na vizinha Rio Pardo, sem que os pais dela soubessem do paradeiro dos dois.

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João conta que levou um tempo para provar que era um rapaz do bem, até que os pais da moça, ao perceberem que não haveria como impedir o grande amor, permitiram o casamento.

Como dissemos no início, passaram-se então 65 anos de matrimônio, com seis filhos gerados. Dona Reni, a “Julieta” de João, faleceu no ano passado, aos 83 anos.

Hoje, Tio Dóia, o menino gari que virou presidente de clube, que liderou equipes em órgãos públicos e precisou provar que era honroso para conquistar o amor de sua vida, reside no Bairro Arroio Grande, em Santa Cruz do Sul, e tem uma grande família, com oito netos, 14 bisnetos e dois tataranetos. Ele tem também um fiel amigo, Olmiro da Rocha, a quem se refere com sorriso aberto e de um jeito brincalhão: “Esse é dos meus”.

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O projeto Longevidade é uma parceria entre Gazeta do Sul e Secretaria de Relações Institucionais e Esporte, da Prefeitura de Santa Cruz. Quem quiser sugerir histórias semelhantes pode contatar pelo WhatsApp (51) 98443 0312 ou [email protected]

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