Aos 91 anos, seu Osvaldo tem os olhos bem abertos. Ao sair do banho, estende a toalha no varal e logo tenta emendar uma pegadinha aos recém-chegados. Contador de piadas desde os tempos em que era caminhoneiro pelo Brasil afora, é assim que ele se apresenta: “Meu nome é Osvaldo, somos em três irmãos e cada irmão tem uma irmã, em quantos somos?”
É na casa branca, de janelas e portas brancas, de piso, grade e muro brancos, que reside o casal que, nos últimos 20 anos, tem na canastra o principal exercício para manter uma mente boa e saudável.
Ele é da família Bock, filho de comerciantes do hoje município de Sinimbu. Célia, de 89 anos, é dos Wiesel, de Linha São João, interior daquele município.
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Foi naquela cidade que, na época de juventude do casal, havia um salão de baile, o dos Staub – onde atualmente há uma fábrica –, no qual Célia e Osvaldo iniciaram um romance, embalados pelos músicos das famílias Kothe e Osche. Foi ela quem deu o primeiro passo em direção a ele, e dançam juntos há sete décadas.
Osvaldo, conta ela, era mais “fechado”. Célia teve que ser mais incisiva na troca de olhares pelo salão.
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Desde lá, são três filhos – Sérgio, Marilene e Édila – , mais sete netos e sete bisnetos.
Osvaldo viveu quase toda sua vida conduzindo um caminhão, e ela, uma máquina de costura. Ele, com uma memória que não perde detalhes, lembra bem da situação em que adquiriu seu primeiro veículo com carroceria grande. Convicto de que queria ganhar dinheiro transportando mercadorias, foi até uma agência bancária de Santa Cruz e falou direto com o gerente da época, Arno Frantz, a quem disse que não tiraria o pé de lá sem o valor de que precisava.
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E assim, Osvaldo e seu xodó cheio de rodas viveram juntos por mais de quatro décadas. Célia recorda, inclusive, que deu a ele os últimos centavos que guardou de suas costuras para que pudesse abastecer o dito caminhão. “Ele sustentava o caminhão e eu sustentava os filhos”, diverte-se ela, ao relembrar.
Célia e Osvaldo residem há 44 anos na casa branca do Bairro Santo Inácio, em Santa Cruz. E é nesse endereço que toda segunda-feira eles têm um compromisso com outros dois fiéis casais que os visitam: sentar no entorno de uma mesa retangular, de madeira de lei, e sobre ela uma toalha personalizada de baralho acolhe as cartas. “Quem joga canastra em seis não para mais de jogar, é viciante”, conta Célia.
O esquema funciona assim: em forma de rodízio, toda segunda o carteado acontece na casa de um dos casais, sempre regado a cuca, bolo, petiscos e chimarrão. Hoje, inclusive, a partir das 13h30 – pois eles dizem que não cochilam após o almoço – ocorre mais um encontro, mas Célia e Osvaldo não serão os anfitriões, pois o desafio de praxe das segundas ocorre em outro endereço.
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Portanto, filhos, netos e bisnetos, não os procurem durante toda a tarde; esse casal nonagenário não estará em casa. Eles vão sair de novo, com o carro branco.
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