Se você perguntar a Beto onde ele mora, não espere ouvir o nome da rua e o número da casa.
Beto nunca foi apegado a endereços. A casa dele fica em uma esquina, mas lembrar o nome de duas ruas não está entre as prioridades dele, que por décadas foi um cidadão do mundo. De tanto viajar, de cidade em cidade, ele aprendeu que na escola da vida o que vale é a experiência sem apegos. Seu bem mais precioso é o violão, que de tanto levar para onde vai, teve até que passar por alguns remendos.
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As marcas do mundo também estão na alma de Beto. E tudo começou aos 7 anos de idade.
Beto era um menino miudinho que ganhava seu dinheirinho vendendo picolé pelas ruas. O refresco era feito por uma vizinha, dona Cacilda, esposa de seu Nonô, um casal de amigos dos pais do garoto Betinho. Filho do marceneiro José e da costureira Ilda Cardoso, ele era um dos dez irmãos que moravam em um chalé nos fundos do Esporte Clube Avenida. Certo dia, de tanto chutar a bola nas paredes do estádio, Betinho resolveu conhecer o lado de dentro e assim iniciou no caminho da bola. E o vendedor de picolé, então, virou Pelezinho para os amigos. Ele conta que outros dois irmãos jogaram no Nida, o Moisés e o Ítalo, sendo que esse último atuou também pelo Futebol Clube Santa Cruz.
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A família de Betinho era numerosa e cheia de artistas, tanto da parte de pai como de mãe. E entre um treino e outro na escolinha de futebol, o Beto guri mostrou que herdou o talento musical, tornando-se autodidata na guitarra e no violão. Aprendeu a tocar sozinho, só de ouvido e sem partituras, e nunca mais largou o seu xodó de seis cordas.
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Aos 17 anos, o músico e atleta decidiu deixar de ser o Pelezinho. Por influência do avô, Generoso, que era capataz em uma fazenda em Pantano Grande, Betinho trocou a arena dos gramados pela arena das estâncias. Foi aprender a domar cavalos. Um ofício muito requisitado na época.
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Tempos depois saiu pelo mundo, e chegou a trabalhar nos três estados do Sul. Só no Rio Grande do Sul, acredita ele que foram mais de 40 lugares percorridos, em dezenas de fazendas. Por mais de 20 anos ficou longe da terra natal, até ficar sabendo que sua mãe, dona Ilda, não estava bem, e então retornou à cidade em que o batizaram de Pelezinho.
Atualmente ele reside no Bairro Santa Vitória, na companhia de dois gatos, o Tigre e a Pombinha, seus leais ouvintes das músicas de Teixeirinha. Ao lado de casa cultiva uma horta, com couves, aipim e hortaliças. E em suas andanças pelo mundo também aprendeu que os chás são importantes.
Poejo é para gripe; quebra-pedra, para os rins, e o pariparoba “é bom para tudo”, ensina ele.
Beto também cultiva fãs. É no Cras Beatriz Jungblut, nos encontros de idosos, que Carlos Alberto Cardoso, nascido em 1958, irradia alegria com sua música e seus causos, replicando muitas das lições aprendidas com o avô, Generoso, e com a escola da vida.
O projeto Longevidade é uma parceria entre Gazeta do Sul e Secretaria de Relações Institucionais e Esporte, da Prefeitura de Santa Cruz. Quem quiser sugerir histórias semelhantes pode contatar pelo WhatsApp (51) 98443 0312 ou pelo e-mail secom@santacruz.rs.gov.br.
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