Maria Gabriela tem a alegria de um pássaro. Caminhando em meio às folhagens e rosas, de repente olha para o rapaz a seu lado e dispara o primeiro versinho: “Açucena quando nasce, toma conta do jardim, os olhos desse menino, tomaram conta de mim”.
Mais dois passos, apoiada em sua bengala, e começa a cantarolar uma letra de sua autoria, em que retrata a vida em chão batido nos tempos de São Jerônimo, nos idos de 1930.
Filha de Antonieta e seu Olmiro, Maria Gabriela veio ao mundo debaixo de um teto de capim, com um fogão erguido com terra molhada, em uma casa cercada por aipim, batata e feijão.
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Era Maria, o braço direito do pai, que o auxiliava no serviço pesado, na montagem de cercas, e abria campos derrubando mato. Da mãe, costureira e dona de casa, além de Maria Gabriela, outros nove irmãos usavam vestimentas produzidas por dona Antonieta. Mas a vida sem facilidades no campo abriu horizontes na casa dos Colombo de Souza.
Nem bem Maria Gabriela completara 15 anos, quando a familia inteira com uma dúzia de gente, e seus cinco a seis pertences, mudou-se para a conhecida região do tabaco, espalhando-se entre Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires.
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Foi então que a jovem Maria Gabriela descobriu que jamais viveria sem três coisas nos dias que estariam por vir: terra, ar puro e água. E, de lá para cá, nunca mais saiu do meio das borboletas.
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Atualmente, aos 91 anos, ela mora em lugar cujo lar é cercado por um bosque, quatro a cinco cães, gatos, um pássaro, alguns pés de chás e muitas flores.
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Diz ela que sua boa saúde, de corpo e de mente, vem das plantas que a cercam e do contato das mãos e dos pés com a terra. E da água. Em tempos de férias dos netos e bisnetos, por exemplo, por uma sequência de anos levava-os para acampar na beira do rio, mostrando a eles que a vida deve ser simples, aproveitando bem o que ela oferece.
É da água também que vem sua disposição física desde as manhãs. Todos os dias, após a sesta da tarde, ela veste suas roupas de banho e faz sua hidrognástica particular e solitária, na piscina nos fundos de casa.
Maria Gabriela sempre gostou de cantar e declamar versos como uma andorinha sem gaiola, porque, segundo ela, sempre se sentiu amada. Primeiro pelo papai e pela mamãe, como refere-se ela quando os menciona. Depois pelo esposo, Ulisses, há tempos falecido, mas que a conquistou ao deixar um bilhete debaixo de seu travesseiro, no qual escreveu “o único consolo que tenho em minha vida és tu, Maria”.
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O amor e o afeto ainda é muito presente na vivência com os seis filhos, que veem na mãe, avó e bisavó, uma luz que está sempre acesa.
Sim, Maria Gabriela tem tanta energia que até cura os doentes que a procuram. Com orações e um galho de arruda, ela faz benzeduras para aliviar dores de desconhecidos que vão até ela. Diz que é um dom de Deus e ele precisa ser replicado com gratuidade.
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O alimento para a alma vem da oração. Ela acompanha a missa diária das seis da tarde, às sete reza o terço, e antes de deitar faz o roteiro do livrinho de preces.
Esta é Maria Gabriela Machado da Rocha, moradora de Rio Pardinho, interior de Santa Cruz do Sul. Se um dia a encontrares por aí, podes lhe pedir um versinho, que ela sabe improvisar. E podes chamá-la até de “Maria donzela”, porque tudo na vida dela é rima, verso, água, ar puro e terra.
O projeto Longevidade é uma parceria entre Gazeta do Sul e Secretaria de Relações Institucionais e Esporte, da Prefeitura de Santa Cruz. Quem quiser sugerir histórias semelhantes pode contatar pelo WhatsApp (51) 9 8443 0312 ou pelo e-mail [email protected]
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