Fundada em 1979, a Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo) é uma das principais responsáveis pela governança da cadeia produtiva do tabaco, em especial das empresas que atuam no segmento. E é um cearense, Giuseppe Lobo, quem hoje ocupa a condição de gerente-executivo da entidade. Ele assumiu a função no segundo semestre de 2022, em lugar do gaúcho Carlos Galant, que se aposentou em julho do ano passado, após ter ocupado o cargo ao longo dos últimos 20 anos.
Giuseppe Uchoa Ribeiro Lobo graduou-se em Ciência Política pela Universidade de Fortaleza (Unifor), e possui especialização em Poder Legislativo pela PUC de Minas Gerais. Chegou a lecionar no mestrado em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Há quase duas décadas está radicado em Brasília, e há 15 anos atua em relações institucionais, com passagens pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
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Com a chegada à Abifumo, familiariza-se com um setor cuja atividade produtiva e industrial está em grande medida concentrada nos três estados do Sul do Brasil. E é da defesa dessa cadeia, pela sua importância socioeconômica não só para os produtores e as empresas, mas para os estados e para o País, que ele agora se ocupa, como enfatiza na entrevista exclusiva que concedeu à Gazeta do Sul. No radar, entre outros temas, a preocupação com a 10ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, cuja realização está programada para novembro, no Panamá.
ENTREVISTA
Giuseppe Lobo
Gerente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo)
Gazeta do Sul – O senhor está em vias de completar um ano na função de gerente-executivo da Abifumo, na vaga após a aposentadoria de Carlos Galant. Como foi esse primeiro ano de atividades e como foi a aproximação com o setor industrial do tabaco?
Giuseppe Lobo – Foi um ano desafiador, mas, ao mesmo tempo, de grande aprendizado. Apesar de trabalhar com o setor agropecuário há mais de uma década, a cadeia do tabaco tem suas peculiaridades e aspectos bastante distintos dos setores nos quais trabalhei. Foi gratificante ver que o setor tem lideranças engajadas e que a agricultura familiar está no coração da produção de tabaco no Brasil. Nosso maior desafio nos próximos anos será divulgar a importância socioeconômica não só para os produtores familiares, como para os trabalhadores da indústria e para toda a economia dos quase 500 municípios produtores de tabaco em todo o País.
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Antes de sua chegada à associação, o senhor tinha alguma familiaridade com esse setor? Como foi esse movimento?
Tive a oportunidade de conhecer o setor quando trabalhava na Confederação Nacional da Indústria (CNI), por volta de 2012. Na época, participamos, junto com meu antecessor, Carlos Galant, e as associadas, em algumas questões regulatórias relacionadas ao tabaco. Esse contato permaneceu, ainda que de forma indireta, no Instituto Pensar Agro (IPA), onde integrei a diretoria pela Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove).
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E como hoje o senhor enxerga o setor produtivo e industrial do tabaco? O que mais se salienta como mérito ou como exemplo nesse segmento?
A cadeia do tabaco é um exemplo em termos de estruturação no agronegócio. Poucas cadeias gozam de uma estrutura tão bem azeitada. Muito disso é fruto do sistema de integração, que estabeleceu uma relação duradoura de parceria entre o produtor e a indústria. Também devemos destacar que a indústria do tabaco é altamente inovadora e atenta às questões socioambientais. Posso citar, como exemplo, o pioneirismo no recolhimento de embalagens de defensivos agrícolas. A indústria do tabaco implementou um sistema de logística reversa muito antes de isso tornar-se uma obrigação legal.
E, claro, o tabaco também enfrenta muitos desafios. Quais são, em sua avaliação, os mais urgentes a resolver e como isso se processa?
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O principal desafio, nesse momento, é fazer um contraponto à narrativa de que devemos reduzir a produção de tabaco para produzir mais alimentos. Essa campanha comprova o enorme desconhecimento da cadeia. O produtor de tabaco aufere uma rentabilidade quatro ou cinco vezes maior que em outras culturas, como milho e soja. A produção é feita em pequenas propriedades, de 12 hectares, em média, nas quais o produtor dedica, em média, um quinto para a produção de tabaco, de onde tira metade de sua renda. É com esse recurso que o agricultor adquire implementos e insumos para a produção nos demais 4/5 da propriedade. Ademais, essa renda obtida gera emprego e renda nos quase 200 municípios produtores de tabaco somente no Rio Grande do Sul. Em diversos municípios, 70% da renda é fruto da fumicultura. Isso se reflete na arrecadação e, consequentemente, nas políticas públicas. Portanto, a produção de tabaco é aliada da produção de alimentos, e não antagônica.
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Sem dúvida, o contrabando, a concorrência ilegal, é um dos maiores entraves a esse setor. Como a Abifumo tem lidado com esse tema em seus gestionamentos junto ao governo e a outros organismos?
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O comércio ilegal de cigarros é um problema multifacetado e deve receber a devida atenção por parte das autoridades. São aproximadamente R$ 9 bilhões que deixam de ser arrecadados anualmente pela União e estados e poderiam reverter em políticas públicas em benefício da sociedade. Mas não é só isso. É também um problema de saúde, pois não existe controle fitossanitário, e também um problema de segurança pública. Nossa ação tem sido no sentido de mostrar os prejuízos e apoiar as autoridades na implementação de medidas para coibir o mercado ilegal.
A Abifumo tem feito uma atualização constante dos prejuízos que o contrabando causa ao setor? Que impacto esse tipo de comércio tem sobre os produtos de tabaco brasileiros na atualidade?
A Abifumo acompanha a evolução do mercado ilegal e tem feito um trabalho, em parceria com as empresas, para levar informações às autoridades sobre os impactos diretos e indiretos do comércio ilegal. Devemos ressaltar que não se trata apenas de uma questão de mercado, mas também de saúde e segurança pública. As mesmas organizações criminosas que mantêm o comércio ilegal de cigarros atuam no contrabando de armas e drogas e no financiamento de milícias e facções criminosas.
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Outro ponto que tem sido debatido é a possível liberação, em realidade de Brasil, do comércio de dispositivos eletrônicos para fumar. Como a Abifumo vê hoje esse tema e como pretende conduzir ele perante os organismos, em especial a Anvisa? Que implicações a não liberação tem hoje para o País?
A Abifumo entende que esse debate deve ser conduzido de forma técnica, sempre baseado em estudos e evidências. Ao longo dos últimos anos, diversos estudos têm comprovado que os DEFs representam um instrumento importante para as estratégias de redução de danos para tabagistas.
O senhor também lidera um grupo de trabalho que se ocupa de avaliar os impactos da próxima Conferência das Partes da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, a ocorrer em novembro, na Cidade do Panamá. Quais são as tratativas realizadas até o momento por esse grupo?
Há muito desconhecimento sobre a importância da produção de tabaco para os mais de 128 mil agricultores familiares espalhados por quase 500 municípios. Adotamos boas práticas socioambientais; geramos renda ao produtor e ao trabalhador da indústria, receita para municípios, estados e para a União; contribuímos para a entrada de divisas; e tantas outras coisas. Mas se continua a aceitar uma falsa narrativa que prejudica o produtor e a produção. O objetivo do grupo tem sido o de levar essas informações de maneira clara e objetiva para o governo.
Medidas restritivas à produção de tabaco no Brasil não reduzirão o consumo de cigarro no País, mas condenarão milhares de agricultores familiares à pobreza e à fome. A delegação brasileira precisa ter uma visão sistêmica e levar em consideração que somos os maiores exportadores de tabaco do mundo há 30 anos consecutivos, com 90% da produção exportada para mais de 104 países.
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Quais são as principais demandas que a Abifumo e as demais entidades pretendem levar ao governo federal no que tange à COP e à Convenção-Quadro?
Nossa principal demanda é que o governo efetive o compromisso assumido por meio da Declaração Interpretativa da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco de “não impor restrições ao plantio de tabaco e às práticas discriminatórias ao livre comércio”.
Em paralelo à COP ocorre a edição da MOP, a reunião que se ocupa de contrabando ou de comércio ilegal de produtos de tabaco. Em relação a essa instância, qual é a expectativa da Abifumo?
Nós esperamos que a MOP debata medidas de rastreabilidade e coerção para dificultar o comércio ilegal de produtos do tabaco.
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O senhor tem participado com frequência de reuniões com líderes do setor de tabaco. Como enxerga, hoje, a sintonia entre as entidades e suas lideranças no sentido de promover e resguardar a cadeia do tabaco de ataques ou de ações antitabagistas?
O setor tem lideranças muito experientes e dedicadas. São pessoas que sabem que o trabalho deles nas entidades tem impacto não somente na produção do tabaco, mas também na vida de muitas pessoas que dependem dessa cadeia para seu sustento. Para mim, tem sido um privilégio e um aprendizado constante.
Como o senhor avalia a forma como os organismos públicos, dos governos federal e estaduais, costumam lidar com a cadeia produtiva do tabaco? Faltaria maior clareza ou até uma maior exposição dos méritos econômicos, sociais e ambientais desse setor?
Há muito desconhecimento sobre a cadeia do tabaco. Parte disso é fruto de uma posição tradicionalmente defensiva do setor, que, a meu ver, não se justifica. Temos relevância econômica; temos boas práticas socioambientais para apresentar; geramos renda para mais de 128 mil produtores familiares e 40 mil trabalhadores na indústria; são 100 anos de contrato de integração, propiciando assistência técnica e boas práticas no campo; somos o setor que, proporcionalmente, mais paga tributos no Brasil. Enfim, temos muita coisa boa para mostrar.
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Que papel o tabaco cumpre hoje no todo do agronegócio brasileiro? Tal proeminência é de pleno conhecimento dos demais setores desse mesmo agro?
O tabaco é uma das cadeias que mais empregam agricultores familiares e, certamente, a que garante maior rentabilidade para esse produtor. Essa renda obtida na produção de tabaco acaba se transformando em fertilizantes, agroquímicos, sementes, máquinas e equipamentos, estrutura de irrigação e outros investimentos na propriedade, que fomenta a produção de alimentos pelos agricultores familiares.
É possível desenvolver um equilíbrio entre a produção de tabaco e a produção de alimentos, reconhecendo a importância de ambos os setores e buscando a sustentabilidade e o bem-estar sobretudo da agricultura familiar.
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