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200 ANOS DE IMIGRAÇÃO

Livros para entender a colonização alemã no Rio Grande do Sul

Historiador mantém uma biblioteca que hoje soma cerca de 30 mil livros. Destes, pelo menos 10 mil são em línguas estrangeiras, com destaque para o alemão

Ainda que o Vale do Rio Pardo tenha algumas das principais colônias de imigrantes germânicos do Rio Grande do Sul, muitas pessoas ainda desconhecem como esse processo se deu ao longo das décadas e de que forma influenciou a formação das cidades, a cultura e os costumes da população. Para entender essa história, o primeiro passo é compreender a situação da Europa Central no século 19 e quais motivos levaram aquelas famílias a se aventurarem pelo Oceano Atlântico em direção a um país recém-independente e desconhecido para todos.

Fonte inesgotável de conhecimento, os livros oferecem valiosas informações a respeito do tema, com levantamentos feitos por diversos pesquisadores em diferentes épocas. Muitos deles estão presentes na biblioteca do professor e historiador Jorge Luiz da Cunha, que tem sido colaborador da série de reportagens sobre o bicentenário da imigração germânica no Brasil desde o início, em meados de 2023.

Agora, trata sobre a importância da literatura e de manter bem guardados os livros físicos, bem como separou algumas indicações de leituras que considera fundamentais para quem deseja se aprofundar no tema.

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A formação do acervo de Jorge Luiz da Cunha

Mesmo com o avanço tecnológico que cria uma versão digital do mundo, o livro físico ainda tem lugar no registro do conhecimento

Hoje um historiador e pesquisador reconhecido e com centenas de trabalhos publicados, Jorge Luiz da Cunha veio de uma família humilde. Nascido no interior da atual Roca Sales, ele conta que morou nas cidades vizinhas de Encantado e Estrela até os 5 anos de idade. A família então mudou-se para Lajeado, onde o pai, Darcy, começou a trabalhar como motorista em uma empresa de ônibus.

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Jorge conta que acompanhava o pai em diversas viagens e, ao fim delas, ajudava a recolher os itens deixados pelos passageiros, entre eles revistas, jornais e, raramente, algum livro. Muito cedo, aprendeu a ler e escrever a partir do estímulo da família e, com os materiais que conseguia recolher, começou a formar uma biblioteca.

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Ao longo do tempo, conforme Jorge avançou na carreira acadêmica, o acervo ganhou muitos exemplares doados, sobretudo, por micro-historiadores – antes e depois de seus falecimentos – dos vales do Rio dos Sinos, Caí, Rio Pardo e Taquari. Também há livros adquiridos e recebidos de bibliotecas públicas e privadas.

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Cunha estima que a quantidade total atualmente esteja perto dos 30 mil livros, dos quais pelo menos 10 mil são em línguas estrangeiras, com destaque para o alemão. Para ele, a manutenção e preservação dos livros físicos é uma estratégia fundamental para o conhecimento, em função da manutenção das fontes históricas e suas possíveis abordagens em diferentes projetos de pesquisa, ensino e extensão.

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Professor titular dos programas de pós-graduação – mestrado e doutorado – em História e Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ele tem como principais temáticas o conhecimento crítico do papel político, social, cultural e econômico da imigração estrangeira no Brasil independente.

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Com toda essa experiência, ele tem sido colaborador da Gazeta do Sul em muitas das reportagens que envolvem o bicentenário da imigração germânica no Rio Grande do Sul. Suas contribuições vão desde a sugestão de leituras e fontes até o acompanhamento da reportagem em municípios como São Leopoldo, Lajeado e Forquetinha, onde auxiliou na contextualização da história para facilitar o entendimento sobre o passado e o presente.

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O virtual pode substituir os livros físicos?

ma biblioteca que antes ocupava um grande espaço passou a caber na palma da mão, dentro de um tablet ou outro aparelho utilizado exclusivamente para a leitura. Jorge diz reconhecer as mudanças trazidas pelo virtual, mas entende que ele não pode substituir o ambiente físico, pelo menos no que diz respeito aos livros.

“Reconheço as transformações proporcionadas por nossos acessos virtuais às fontes de nossas memórias, aos nossos diálogos humanos e a informações temporais imediatas”, afirma. Ainda assim, diz que os registros históricos e práticas de criações textuais e poéticas não estão todos virtualizados.

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“Por isso defendo a preservação de tudo, para não esquecermos erros e acertos que fizemos em nossas histórias e garantir um futuro humano no nosso planeta.” Por falar em História, ele chama atenção para a importância de conhecer a preservar a história da cidade e região onde se vive, bem como a trajetória dos antepassados.

Para ele, é de grande relevância a preservação da consciência humana, individual e coletiva, bem como refletir e dialogar sobre as memórias do passado guardadas e registradas em livros, revistas, jornais e documentos impressos ou escritos. “Eu, como reconheço o papel da educação na nossa condição humana, amo os diálogos humanos como ação social, cultural e política para a manutenção de nossas chances de sermos felizes e respeitosos.”

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Ao comentar as fontes existentes para possíveis interessados em saber mais sobre a imigração germânica para o Brasil, Jorge Luiz da Cunha afirma que há inúmeros trabalhos que ele considera indispensáveis para compreender o processo, que ocorreu em dois períodos distintos: 1824, com a fundação da colônia de São Leopoldo, e 1849, com a colônia de Santa Cruz.

Com experiência de mais de quatro décadas de atuação, Jorge se coloca à disposição para auxiliar pesquisadores, docentes e curiosos que quiserem mais informações sobre fontes históricas. O contato pode ser feito pelo e-mail [email protected] ou pelo WhatsApp (55) 99152 4713.

Importância das bibliotecas para a humanidade

Na compreensão do professor Jorge Luiz da Cunha, as bibliotecas são acervos e registros documentais vinculados com interesses sociais, culturais, religiosos, políticos e econômicos.

Os primeiros registros históricos datam de mais de 2 mil anos antes de Cristo, no Oriente Próximo. No antigo Egito, as bibliotecas eram chamadas de “Casas da Vida”, que atuavam na reprodução e preservação de obras de registros científicos, bem como religiosos e políticos – no que diz respeito ao reconhecimento do papel político dos faraós.

Os gregos, que iniciaram a civilização greco-romana-cristã-ocidental, deram início ao período de fundamentação filosófica e prática da liberdade para a constituição e vivência da cidadania. Do período, algumas das mais importantes localizadas por arqueólogos estão no próprio Egito, na Grécia, na Turquia e no Líbano. “Das grandes bibliotecas antigas, pouco restou, mas eu considero que as memórias e suas significações nos fazem entender o presente e valorizar a preservação das memórias e da história.”
Com a consolidação do Império Romano, muitas bibliotecas foram criadas com o objetivo de preservar justificativas das ações militares e políticas de Roma para que, no futuro, todos pudessem entender as motivações. Cunha diz ainda que nem todos os livros são fontes verdadeiras. “As mentiras também devem estimular a educação pessoal e coletiva para entendermos o que não devemos reproduzir como verdades.”

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Na Idade Média, muitos desses acervos foram destruídos durante guerras e invasões. Os mosteiros se tornaram lugares seguros para a preservação de obras seculares, como as bases filosóficas de Sócrates, Platão e Aristóteles. Conforme o historiador, essa prática pode ser vista muito bem no filme O Nome da Rosa, baseado na obra do escritor italiano Umberto Eco.

Cunha defende a preservação das fontes bibliográficas e de bibliotecas como uma preservação da memória que, para ele, não pode e não deve ser apenas virtual. “A virtualidade, na minha opinião, não estimula as novas relações humanas mantidas e desenvolvidas por diálogos e discussões que nos colocam e mantêm em movimento.” Para ele, essa é a única possibilidade de que continuemos humanos, individual e coletivamente.

Quem é Jorge Luiz da Cunha

Natural de Roca Sales, no Vale do Taquari, Jorge Luiz da Cunha é graduado em Estudos Sociais – Habilitação em História pela antiga Faculdades Integradas de Santa Cruz (Fisc). Fez mestrado entre 1983 e 1988 na Universidade Federal do Paraná (UFPR), cujo tema da dissertação foi sobre os colonos alemães e a fumicultura em Santa Cruz. Entre 1991 e 1994, fez doutorado na Universidade de Hamburgo, na Alemanha, e novamente tratou sobre a imigração germânica para o Rio Grande do Sul. Em 2019, fez um pós-doutorado em que abordou a história das migrações humanas, desta vez pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Além de ter sido professor da Fisc, atuou na escola Educar-se como docente e como diretor, entre 1987 e 1990. Foi ainda membro do conselho diretor da Associação Pró-Ensino em Santa Cruz (Apesc) e um dos fundadores do Centro de Documentação e Pesquisa Histórica (Cedoc) da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Desde 1996, é professor titular da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e integra o quadro docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação – mestrado e doutorado; Programa de Pós-Graduação em História – mestrado e doutorado e Mestrado Profissional em Ensino de História.

Escritor

Além de professor e pesquisador, ao longo da carreira acadêmica Jorge Luiz da Cunha também se dedicou à literatura. Dois de seus trabalhos podem ser de grande valia para os interessados pelo tema e para pesquisadores que pretendem se dedicar ao assunto. Publicada em 1988 com o título Os colonos alemães de Santa Cruz e a fumicultura, a dissertação de mestrado de Cunha ganhou formato de livro. Aborda desde a realidade dos territórios que viriam a formar a atual Alemanha até a formação e consolidação da colônia de Santa Cruz.

Já em Imigração Alemã no Rio Grande do Sul: história, linguagem e educação, o escritor, junto com Angelika Gäertner, aborda temas como a formação da imprensa teuto-brasileira, o linguajar alemão-gaúcho, identidade étnica e outros pontos importantes. Trata-se de uma reunião de artigos acadêmicos publicados a respeito do tema.

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