Poucos dias depois das comemorações alusivas aos 142 anos de emancipação de Santa Cruz do Sul, festejados em 28 de setembro, e ainda no contexto dos 170 anos de imigração alemã na região, transcorridos em dezembro de 2019, o Magazine convida a uma volta ao passado. O destino pode até inviabilizar viagem efetiva para um tempo que já passou, mas não impede que, como grata surpresa, notícias de outra época se presentifiquem para as gerações atuais. E é o que acontece com livros que, tendo sido publicados em décadas passadas, como por magia proporcionam olhar sobre uma Santa Cruz que já não existe mais – e que, no entanto, é a mesma, mas mais “jovem”, que ainda está aí.
Ao longo da segunda metade do século 19 e no começo do século 20, era frequente a passagem de visitantes estrangeiros pelo Brasil, e inclusive pelo Rio Grande do Sul. Em um tempo anterior ao rádio ou à televisão, pessoas se dedicavam a sair pelo mundo, para terras distantes; ao voltar para suas regiões de origem, registravam o que haviam visto em textos nos jornais ou em livros.
Com o advento da fotografia, agregavam ao conteúdo imagens do que encontravam. E o hábito da viagem era forte entre os alemães, que se deslocavam ao Brasil e à América do Sul a fim de ver como estavam vivendo seus compatriotas imigrados para essas terras.
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Foi assim que viajantes cruzaram também pelo Estado, visitando, num primeiro momento, Porto Alegre, com forte presença de imigrantes alemães. De lá se dirigiam para o interior, a São Leopoldo e, mais adiante, às novas colônias. Santa Cruz, fundada em meados do século 19, prontamente atraía a curiosidade diante das notícias de seu rápido desenvolvimento. Poucos anos após a fixação das famílias de colonos, o médico alemão Robert Avé-Lallemant já havia visitado a pequena Santa Cruz. Foi seguido nas décadas posteriores por outros.
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Alguns não necessariamente aventureiros, como o alemão Oscar Emil Arthur Canstatt, que esteve na região duas décadas depois do início da colonização. Sua vinda teve foro oficial: foi destacado para ser o diretor da Colônia de Mont’Alverne, adiante de Santa Cruz, e que hoje constitui distrito de Santa Cruz do Sul.
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Canstatt, também renomado gravurista, que deixou belas imagens de Porto Alegre, visitou Santa Cruz, com a qual se encantou, e por essa razão até demorou a seguir viagem, a cavalo, para assumir sua função em Monte Alverne. Por lá ficou por vários meses, respondendo pela gestão, como detalha no formidável livro Brasil: terra e gente (1871), um dos mais cativantes registros sobre Santa Cruz apenas duas décadas depois do início da colonização alemã.
Canstatt nascera em Ansbach, na Baviera, em 20 de outubro de 1842, e veio para o Brasil em 1868, viajando por vários estados. Naturalizou-se brasileiro em 1869 e casou-se em Santa Cruz (ainda dito Faxinal) no dia 4 de agosto de 1870, com Emma Caroline Trein, que, por sua vez, nascera em Asbacherhütte, no Birkenfeld, no dia 5 de novembro de 1850. Quando retornou para sua pátria, em 1871, lá Canstatt publicou muitos livros e registros sobre o Brasil.
O estudioso Abeillard Barreto inclusive classifica Brasil: terra e gente (1871) como “um dos livros mais lúcidos sobre o Brasil que se haja escrito”. E é Barreto quem informa que o autor faleceu em Tiefenbach im Allgäu, na Alemanha, a 13 de agosto de 1911.
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A visita de Grothe
Com a chegada do século 20, quando Santa Cruz já tinha mais de cinco décadas, o progresso local, a industrialização e a infraestrutura chamaram ainda mais curiosidade. E foi nesse contexto que, em meados da década de 1930, o alemão Hugo Grothe também visitou a cidade, e igualmente se impressionou com seu desenvolvimento. Jornalista e intelectual, Grothe nasceu em Magdeburg, em 1869, e foi redator do Aulandskunde, em Munique, numa época em que o jornalismo estava em franca expansão.
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Veio ao Brasil em mais de uma ocasião. Numa delas, em 1934, teve o ímpeto de visitar cidades do interior, em período no qual a aviação já estabelecera algumas rotas para regiões afastadas de Porto Alegre, inclusive em Santa Cruz.
Foi assim que, tendo visitado essa cidade, fez um registro fotográfico do antigo campo da aviação, na região Sul, onde hoje fica o Bairro Carlota. Essa foto, bem como uma surpreendente imagem de uma Santa Cruz da década de 1930, podem ser encontradas em seu livro Im Kamp und Urwald Südbraziliens (“No campo e na floresta do sul do Brasil”), editado em Berlim, em 1936, com 82 emocionantes fotos e 40 mapas de toda a região Sul, verdadeiras preciosidades.
Essa obra, editada em alemão, nunca foi traduzida, e só mesmo um grande esforço de pesquisa em sebos e livrarias permite acesso a exemplar, uma raridade. Grothe faleceu em Sternberg, na Alemanha, em 28 de dezembro de 1954, e seu livro segue como a presentificação, editada na Alemanha, de um valioso olhar sobre o passado de Santa Cruz do Sul.
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