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Livro sobre a trajetória de Francisco Frantz revela como jornal ganhou forma

A história da Gazeta de Santa Cruz, hoje Gazeta do Sul, foi escrita a muitas mãos. Nestes 75 anos, na redação, na gráfica, no setor administrativo, no departamento comercial ou na área operacional, profissionais com diferentes competências deram sua contribuição para que o noticiário chegasse e continue sendo entregue diariamente a leitores e internautas. Mas para que tudo isso se tornasse possível, o empenho de um grupo de oito santa-cruzenses, dentre os quais Francisco José Frantz, destaca-se pela ousadia e visão empreendedora.

Em meio à Segunda Guerra Mundial, Frantz e seus parceiros deram os primeiros passos para que Santa Cruz voltasse a ter um jornal. E, para isso, como não é difícil de se imaginar, os esforços e os desafios foram grandes. Mas, mesmo diante das adversidades, a persistência e o comprometimento com a causa garantiram o sucesso da empreitada.

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A trajetória do santa-cruzense e da Gazeta foi resgatada pelo jornalista Guido Ernani Kuhn (1944 – 2010) no livro Um homem de fibra: Francisco J. Frantz & outras memórias, publicado em 2007 com selo da Editora Gazeta Santa Cruz. Na obra, além de fazer um resgate histórico em torno da imprensa santa-cruzense, incluindo publicações como A Cruzada, de 1887, e o Kolonie, que circulou de 1891 a 1941, Kuhn convida os leitores a um passeio pelo passado de Santa Cruz do Sul e do Vale do Rio Pardo. Em seus relatos, mostra importantes fases do desenvolvimento local, registra as marcas deixadas pelas duas grandes guerras e apresenta como Francisco Frantz, ou simplesmente Schloka – apelido que recebera em família e que o acompanhou ao longo da vida –, fez sua parte pelo município.

Descrito como um homem culto e motivado pelo trabalho, Francisco Frantz nasceu no dia 23 de março de 1917, em uma família descendente dos primeiros imigrantes alemães que chegaram à colônia de Santa Cruz em dezembro de 1849. Seu avô Augusto Raffler estava entre os 12 colonizadores. O pai, Jorge Frantz, teve importante atuação como homem público, com participação na constituinte municipal de 1892, chegando ao posto de vice-intendente em 1897, além de marcar presença em outras organizações locais. A mãe, Maria, dedicou-se ao cuidado da prole. Schloka cresceu em um sobrado ainda existente nas atuais esquinas da Rua Marechal Floriano e Ramiro Barcelos. Após a morte do pai, antes de completar 6 anos, o pioneiro da Gazeta iniciou seus estudos no Colégio São Luís, onde se formou perito contador nos anos 1930. Começou sua vida profissional como funcionário da Souza Cruz, que se instalou a partir da década de 1920. Durante o período da Segunda Guerra Mundial, Francisco Frantz foi secretário da Associação do Comércio, Indústria e Agricultura de Santa Cruz do Sul. Ainda integrou, como sócio, o escritório Soteca e manteve uma carteira de seguros por vários anos. Foi ali que surgiu a ideia de criar a Gazeta de Santa Cruz.

No jornalismo, Frantz teve ainda destacada atuação ao participar da fundação da Associação de Diretores de Jornais do Interior (Adjori), integrar a Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e o Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Estado do Rio Grande do Sul. Ainda foi membro do Rotary Clube e participou, por 12 anos, do Conselho do Plano Diretor de Santa Cruz. Foi fundador do Conselho Municipal de Clubes 4-S, que atuava junto à juventude rural. Casado com Nelly Ema Schütz, teve duas filhas, Beatriz, já falecida, e Ângela. Schloka morreu aos 64 anos, no dia 15 de junho de 1981.

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“Uma das coisas mais marcantes em sua personalidade foi que, mesmo do alto de sua gigantesca bagagem cultural e moral, sabia descer até a singeleza dos mais humildes, partilhando com eles as responsabilidades e os méritos do que se construía de forma conjunta. Sua liderança propunha esta cumplicidade, e cada elo da corrente sempre tinha reconhecida e destacada a sua importância”, escreveu Guido Kuhn. O relato do jornalista, que foi diretor da Gazeta, ajuda a conhecer um pouco mais a respeito de Francisco Frantz e, acima de tudo, da filosofia adotada pela empresa ao longo dos 75 anos de história.

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Para os leitores, pelos leitores e com os leitores

Bagagem cultural
Ao mesmo tempo em que demonstrava habilidade para gerir o jornal e um forte espírito de liderança, Francisco José Frantz tinha como característica a habilidade para a escrita. Apesar de ter formação na área contábil, desde cedo mostrou-se apto ao jornalismo. Entre as pessoas que tiveram a oportunidade de conviver com ele destacam-se os relatos acerca de sua bagagem cultural.

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Sobrinha de Frantz, a escritora Moina Fairon Rech lembra que ele apreciava música e gostava de cantar sempre que havia festas em família. “Era dono de uma bela e potente voz barítono-baixo”, conta. Desde cedo, demonstrou talento e facilidade para a escrita. “Escrevia muito bem. Acho que, no fundo, já sonhava em, um dia, ter um jornal”, elogia a sobrinha.
No livro com as memórias de Francisco Frantz, Guido Kuhn ressalta outras passagens que evidenciam o seu conhecimento. “O diretor era pessoalmente apaixonado por livros. Principalmente os de história, mas também todos os livros”, escreveu, destacando a preocupação em sempre apresentar a informação precisa aos leitores.

Durante a década de 1970, Frantz fazia tratamento médico em Porto Alegre. Em uma dessas viagens, descobriu que uma livraria estava fechando e iria liquidar o acervo. Ao ver as coleções de enciclopédias e demais obras, decidiu arrematar o estoque. De volta, passou a promover concursos de redação entre os estudantes e distribuiu parte das coleções como prêmio aos três primeiros colocados.

O transporte das obras para Santa Cruz exigiu algumas viagens na Veraneio de Schloka. “Caixas e mais caixas ocuparam um depósito especial, que precisou ser providenciado. Deu muito trabalho, mas as escolas abriram as portas e seus professores de português envolveram a meninada. Foi bonito de ver. Depois ia o diretor Frantz entregar pessoalmente os prêmios aos vencedores, com fotografia publicada no jornal”, assinalou Kuhn. Mas eram tantos livros que, no final de cada ano, Francisco Frantz, como forma de estimular a leitura, costumava presentear seus colegas com as publicações adquiridas.

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