Os domínios teóricos e técnicos das ciências naturais, em especial da Anatomia, podem ajudar a explicar algumas das soluções mais originais e surpreendentes que um dos gênios da arte em todos os tempos, o italiano Michelangelo Buonarroti, encontrou em suas célebres criações. Quem trouxe contribuição valiosa a esse contexto é um especialista nascido no Vale do Rio Pardo, e que atua na região, como professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), na qual ajuda a formar novas gerações.
O que o venâncio-airense Deivis de Campos, de 44 anos, identificou em obras de Michelangelo é o que se poderia, sem receio, chamar de “divino achado”. Em um livro que acaba de ser lançado, O dedo de Deus pelas mãos de Michelangelo, o professor compartilha algumas descobertas impressionantes que fez sobre o aproveitamento dos cálculos matemáticos e sobre os conhecimentos de anatomia em algumas das obras mais conhecidas do mestre florentino.
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Deivis talvez nunca tivesse se ocupado com Michelangelo, não fosse sua insaciável curiosidade para aprender mais sobre os estudos e os usos dos conhecimentos anatômicos. Uma área eram justamente as artes (pintura, escultura etc.), onde, no período da Renascença, ao final do século 15, começo do século 16, a retomada dos modelos e dos ideais de beleza gregos levavam artistas a buscarem, ao máximo, serem fidedignos ao pintar o corpo humano, que deveria ser coerente em suas proporções.
Foi assim que Deivis se deparou com o conceito de “divina proporção”, a partir do qual artistas elaboravam obras dentro de formato específico (na proporção 1,6, como explica). E em seus estudos descobriu que Michelangelo também explorou tais cálculos: eles podem ter sido adotados pelo artista, por exemplo, para posicionar o dedo de Deus em sua aproximação com o dedo do ser humano na célebre imagem da criação de Adão, pintada por volta de 1511 em um dos afrescos no teto da Capela Sistina, em Roma.
A igreja homenageia o papa Sisto IV, que encomendara a reconstrução (iniciada em 1475), e foi seu sobrinho, o também papa Júlio II, quem, como mecenas, contratou Michelangelo para a pintura do teto, feita ao longo de quatro anos, entre 1508 e 1512.
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Mas essa foi apenas uma das inferências feitas por Deivis sobre esse artista, e isso cinco séculos após a execução das obras. Nascido em 1475, em Caprese, e falecido em 1564, em Roma, esse pintor foi também arquiteto, poeta, anatomista e escultor, e desde jovem mostrou pendor incomum para as artes. Aprofundou-se em estudos em várias áreas, o que envolveu conhecimentos dos antigos gregos, bem como sobre os judeus, e ainda técnicos em anatomia, inclusive frequentando aulas de dissecação de cadáveres.
Primeiro livro de autoria de Deivis de Campos, O dedo de Deus pelas mãos de Michelangelo foi lançado originalmente na 69ª Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro. No volume, fartamente ilustrado, o professor apresenta resultados de investigações que vem fazendo nos últimos anos, alguns deles já compartilhados em artigos científicos que repercutiram em todo o mundo, inclusive junto ao universo especializado das artes e dos estudos sobre Michelangelo, em plena Europa.
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O primeiro registro ocorreu através de um artigo veiculado na prestigiosa revista Clinical Anatomy, em 2015, no qual referiu que as medidas que identificara no afresco da “Criação de Adão”, as quais apontavam para o uso da “divina proporção”, poderiam não ser casualidade. Até porque essa mesma possibilidade ele identificara em diversas outras situações nos demais afrescos da Capela Sistina.
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Era o caso, por exemplo, da indicação da mesma “proporção divina” na criação de Eva, informação que motivou alguns intelectuais a retomarem Michelangelo por sua sensibilidade no que tange a tratar o feminino. Além disso, Deivis recorda, com uma profusão de exemplos, que o mestre italiano pode ter se valido de conhecimentos da Cabala e de outros domínios especializados, o que promove amplitude e agrega uma simbologia toda especial a obras-primas da humanidade.
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Deivis de Campos nasceu em Mariante, a cerca de 28 quilômetros da sede de Venâncio Aires, no dia 10 de abril de 1979. É filho de Paulo, já falecido, e de Maria Lúcia, e tem um irmão gêmeo, Tatiano, professor de Educação Física em General Câmara. Concluído o Ensino Médio em sua terra natal, Deivis veio estudar Biologia na Unisc, curso que concluiu no início de 2004. Vocacionado para as Ciências Naturais, logo se interessou por Anatomia. Tornou-se monitor, e depois funcionário, por oito anos do Laboratório de Anatomia.
Assim, há mais de 20 anos está vinculado a essa área na instituição. Em 2008 concluiu mestrado na Ufrgs, e no ano seguinte passou a lecionar na Unisc. Em 2012 doutorou-se, também na Ufrgs, e em 2014 ainda se tornou professor de Anatomia e Fisiologia na Universidade Federal de Ciências e Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Hoje mora em Santa Cruz e se desloca para os compromissos na capital, com paradas em Mariante. Tem os filhos Laura, 14, e Rafael, 8, de um relacionamento anterior.
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