Na última quarta-feira, 3, o porto-alegrense Breno Alcaraz Caldas teria estado de aniversário (nasceu em 1910). É uma data que, para sempre, remete a uma lenda do jornalismo gaúcho e brasileiro: aquele que por 49 anos esteve à frente da Companhia Jornalística Caldas Júnior, cuja maior referência é o Correio do Povo. Assumiu a direção em 1935, e nela permaneceu até 1986, quando a empresa foi vendida. Faleceu em 10 de setembro de 1989, aos 79 anos.
Breno teve o grande mérito de levar adiante, e de projetar ao máximo, o veículo de comunicações fundado por seu pai, Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior (sobrenome que se alinhou como marca de todo esse conglomerado de imprensa). O Correio do Povo, fundado em 1º de outubro de 1895, quando recém a Revolução Federalista havia terminado, já estava plenamente estabelecido quando o fundador faleceu, de forma precoce, em abril de 1913, aos 44 anos.
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Caldas Júnior tivera três filhos do primeiro casamento, com Arminda Porto Alegre, a “Mimosa” (Fernando, Dejanira e Marina); e dois do segundo, com Dolores Alcaraz, de Sant’Ana do Livramento (Breno e Lúcia). Foi justamente Breno quem se ocuparia do legado do pai, como evidencia Breno Caldas: a imprensa e a lenda, biografia romanceada de autoria do jornalista Tibério Vargas Ramos, lançada pela AGE, em 384 páginas, edição de capa dura. A obra recupera a vida de um ícone das comunicações, e torna-se leitura obrigatória para os que desejem compreender melhor a história da imprensa no Estado.
Olhar de quem esteve no time
O desafio de elaborar uma biografia de Breno Caldas definitivamente não seria pequeno. Primeiro, pela importância desse personagem na imprensa e, logo, por sua complexidade; depois, pelo tempo a ser abrangido em um olhar retroativo, meio século de atuação efetiva dele na cena empresarial. Mas o jornalista Tibério Vargas Ramos mostra-se à altura da empreitada, que demandou cinco anos.
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Natural de Alegrete, 75 anos, é jornalista profissional desde 1969, quando começou na Zero Hora, tendo se formado em Comunicação em 1971. Logo passou para a Folha da Tarde, idealizada justamente por Breno Caldas, e mais tarde atuou no Correio do Povo. Em 1977, começou a lecionar Jornalismo na PUCRS, função da qual se aposentou em 2017, depois de 40 anos auxiliando na formação de novas gerações de jornalistas. Atualmente, dedica-se à literatura, com romances, e em paralelo administra um site.
Tempo & Destino
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O volume sobre Breno Caldas lançado por Tibério Vargas Ramos inaugura uma série que ele denomina Tempo & Destino. O autor detalha para a Gazeta do Sul o propósito do projeto: “São histórias reais, personagens próximas, como Breno Caldas, e outros importantes do imaginário coletivo de um tempo. Os outros dois volumes estão escritos, mas não sou poeta, incapaz de interferir em sua criação. Sou jornalista, corrijo, reescrevo, corto, acrescento. O livro sobre Breno Caldas me impactou tanto que tentarei passar aos outros o mesmo estilo”, comentou. É um estilo no qual, embora se trate de biografia, lança mão de alguns recursos da ficção.
Ficha
Breno caldas: a imprensa e a lenda, de Tibério Vargas Ramos. Porto Alegre: AGE, 2024. 384 p. R$ 159,90.
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“É o retrato de um tempo”
Personagem singular, Breno Caldas, diretor da Companhia Jornalística Caldas Júnior, conciliava a atuação na empresa com atividades pessoais ou familiares. Por exemplo: em vias de se casar, adquiriu área de terras na zona Sul de Porto Alegre, a Fazenda do Arado, que transformou no Haras Arado, para criação de cavalos e ainda de gado de corte (chegou a ter cinco fazendas, com cerca de 13 mil hectares). Seus cavalos de elite competiam no turfe, com amplo sucesso. Em paralelo, adorava velejar, sendo proprietário de iates.
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O jornalista Tibério Vargas Ramos, no romance biográfico (ou em sua biografia romanceada) dedicado a Breno, busca iluminar em detalhes cada uma dessas facetas. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, por e-mail, Tibério assim definiu o que, em seu entender, o livro pode inspirar em empresários ou nos que atuam no ramo da comunicação. “É o retrato de um tempo. Tem acertos e erros de uma época e nenhum juízo de valor. Passou pela República Velha, Estado Novo, democracia, regime militar. O Jornalismo e o Direito não podem deixar de acreditar na verdade e na justiça, o passado mostra que a luta é permanente; às vezes parece que não há futuro, mas é preciso seguir, a luz pode aparecer no fim do túnel”, frisa.
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Na entrevista, Tibério rememora o seu contato pessoal com Breno e com os veículos da Companhia Caldas Júnior, bem como reflete sobre as marcas da imprensa gaúcha e brasileira ao longo do século 20.
Entrevista – Tibério Vargas Ramos, jornalista
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