Um breve texto do escritor e teórico da literatura búlgaro Tzvetan Todorov, que estaria fazendo 80 anos em 2019 se não tivesse morrido em 2017, aos 77, publicado em 2008 no Brasil pela Civilização Brasileira sob o título A literatura em perigo, já escancarava a ameaça que cercava a leitura. Seu argumento era de que a superficialidade no consumo de bens culturais acabaria por comprometer para sempre o discernimento e o perfil intelectual das pessoas. Agora, o filósofo e também teórico da literatura inglês Terry Eagleton, de formação marxista mas aberto e receptivo às possibilidades de compreensão que as mais diversas correntes proporcionam, vem numa tentativa de socorro à capacidade de apreciação de bons textos. A L&PM acaba de lançar o livro Como ler literatura, que Eagleton, hoje com 76 anos, publicou de forma original de 2013.
É um desses esforços que devem ser compreendidos com alento, porque vão na contramão do desencanto e da rendição que muitas vezes marcam o empenho dos intelectuais das mais variadas áreas, impotentes diante do avalassador impacto das formas eletrônicas e instantâneas de interação e comunicação. Eagleton, como também foi o caso de Todorov (e certamente do norte-americano Harold Bloom e do francês George Steiner, dentre outros), é um dos últimos remanescentes de uma geração de grandes eruditos e sábios que colocavam a apreciação de literatura como um mandamento, uma condição indispensável para a percepção de si mesmos e do mundo. Já no prefácio ele adverte que sua obra é uma tentativa de vir em salvação do hábito, do prazer e do gosto pelo conhecimento. “Toda uma tradição de ‘leitura vagorosa’ (…) corre o risco de sumir sem deixar rastro”, menciona.
Eagleton é particularmente conhecido das salas de aula de Letras e Literatura, nas quais os bons e atentos professores costumam apresentar aos alunos um estudo das grandes obras literárias de todos os tempos tomando por base seu livro Teoria da literatura: uma introdução, de 1983, que, desde então, tornou-se referência obrigatória e algo incontornável para estudantes e especialistas. Vinte anos depois, reviu parte de suas reflexões e concepções em Depois da teoria, em que instiga e estimula o leitor (a cada leitor) a aproveitar ao máximo a sua própria bagagem de leitura e, depois de caminhar pela mão de mestres, ir além e dar passos por conta própria, lúcido, corajoso e sereno.
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O novo livro parece ser um terceiro tempo, uma síntese intelectual, em relação aos dois anteriores. “Procuro lançar alguma luz sobre temas como a narrativa, o enredo, o personagem, a linguagem literária, a natureza da ficção, problemas de interpretação crítica, o papel do leitor e a questão dos juízos de valor”, frisa. “O livro também discorre sobre alguns autores e correntes literárias como o classicismo, o romantismo, o modernismo e o realismo, para quem talvez se sinta precisado”.
De uma forma didática, o volume é estruturado justamente sobre cinco partes (inícios, personagem, narrativa, interpretação e valor) e, mesmo para quem em nenhum momento estudou ou se aprofundou em teoria ou crítica literária, é um convite a ensaiar sinapses e pensamentos – em suma, a existir. “Espero mostrar que a análise crítica pode ser divertida e, com isso, ajudar a destruir o mito de que a análise é inimiga do prazer”, aventa.
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