Setembro é um mês bastante caro aos gaúchos e sua cultura. Embora a ênfase recaia sobre os fatos que envolvem a mítica figura do gaúcho tradicional, há vários outros elementos que merecem consideração, como, por exemplo, a vasta e exuberante literatura. Não cabe, nestas poucas linhas, um panorama de sua história, mas valem alguns registros, que entendo como um convite à leitura.
O Rio Grande do Sul entra tardiamente na história da literatura brasileira. Enquanto outros estados tinham produções significativas já a partir do início do século 17 (na Bahia, Gregório de Matos e uma rica arte barroca; em Minas, um bom grupo de poetas, sobressaindo-se Tomás Antônio Gonzaga; São Paulo e Rio de Janeiro apresentavam aceitável cenário cultural), no Rio Grande há fracos registros, panorama que praticamente perdurou até o final do século 19.
Em 1821, Augusto Saint-Hilaire, de passagem por aqui, guardou boa imagem da região “pela beleza de seus habitantes, pela frescura e colorido de sua tez, pelo desembaraço de seus movimentos e pela impressão de bem-estar e naturalidade que se desprende de suas maneiras, embora a ofícios e artes ninguém ligue o menor preço”. O historiador Gonçalves Chaves enfatiza que os habitantes das vilas tinham tantos conhecimentos e instrução como as tribos selvagens que os cercavam.
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O panorama começa a se alterar com a criação do Partenon Literário, em 1868. Essa agremiação, cujos membros discutiam política, abolição, educação, culinária, convivência social, mas predominantemente literatura, sistematizou nossas letras, propiciando espaço aos primeiros escritores de alguma relevância da nossa literatura. O Partenon encerrou suas atividades em 1885.
A literatura gaúcha se consolidou a partir do forte pendor regionalista do final do século 19 e início do século 20. O Regionalismo, antes mesmo de ser carro-chefe do Modernismo brasileiro, aqui já descobrira o mundo interiorano, consolidara a figura do gaúcho, gerando obras de forte “cor local”, de raiz, com ênfase no tipo humano, na linguagem, na paisagem e nos costumes. Temas como carreiras, rodeios, charqueadas, tropeiros, contrabando eram frequentemente abordados. Vale citar Darcy Azambuja, Alcides Maya e, acima de tudo, João Simões Lopes Neto, cujos contos atingem um grau estético e de humanidade incomuns. Já para dentro do século 20 essa tendência se manteve com poetas como Jayme Caetano Braun, Apparício Silva Rillo, Dimas Costa e tantos outros mais.
Fruto do amadurecimento histórico e já com um ambiente cultural muito sólido, o Rio Grande do Sul, a partir dos anos trinta, gera uma plêiade respeitável de escritores, seguindo variadas vertentes temáticas. Continua o veio regionalista, mas outras vertentes pediram passagem.
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A matéria histórica está na base do excelente O tempo e o vento, de Erico Verissimo. Permanece em Assis Brasil, Tabajara Ruas, Letícia Wierzchowski; a imigração é contemplada por Viana Moog, Josué Guimarães, José Clemente Pozenato, Moacyr Scliar; o universo urbano, os temas intimistas, os dramas sociais encontram voz em Lya Luft, Cyro Martins, Lourenço Cazarré. Há Mario Quintana, há centenas de outros autores na crônica, na poesia, no conto, que aqui chancelam uma literatura vigorosa que merece ser conhecida e acolhida por quem aprecia a vida e a arte. E, se eu pudesse dar um conselho, diria: comece!
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