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Língua Brasileira de Sinais pode variar de acordo com hábitos de cada região

Mandioca, macaxeira, aipim e castelinha são nomes diferentes da mesma planta. Semáforo, sinaleiro e farol também significam a mesma coisa. O que muda é só o hábito cultural de cada região. O mesmo acontece com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Embora seja a comunicação oficial da comunidade surda no Brasil, há sinais que variam em relação à região, idade e até gênero de quem se comunica. A cor verde, por exemplo, tem sinais diferentes no Rio, Paraná e São Paulo. São os regionalismos na língua de sinais.

Essas variações são um dos temas da disciplina Linguística na Língua de Sinais, oferecida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) ao longo do 2.º semestre de 2020. “Muitos pensam que a língua de sinais é universal, o que não é verdade”, explica Angélica Rodrigues, professora e chefe do Departamento de Linguística, Literatura e Letras Clássicas da Unesp. “Mesmo em um mesmo país, ela sofre variação em relação à localização geográfica, faixa etária e até o gênero”, diz.

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Os surdos podem criar sinais diferentes para identificar lugares, objetos e conceitos. Em São Paulo, o sinal de “cerveja” é feito com um giro do punho como uma meia-volta. Em Minas, a bebida é citada quando os dedos indicador e o médio batem no lado do rosto.

Também ocorrem mudanças históricas. Um sinal pode sofrer alterações decorrentes dos costumes da geração que o usa. A contagem dos números, de um a dez, também varia de Estado para Estado. Não existe certo ou errado.

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O curso da Unesp foi concebido como bimodal, ou seja, possui apresentações em Português e em Libras. Nas aulas online, cada professor apresenta o conteúdo, mas em duas línguas diferentes. No último semestre, o curso foi o mais concorrido entre todos do programa de pós da universidade. A turma foi formada por 145 alunos, de várias partes do País, com 65% surdos.

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Uma das alunas foi a professora universitária Sueli Ramalho. Ela é surda, com perda auditiva bilateral neurológica profunda. Ela conhece as variações da língua de sinais desde criança: sua mãe é carioca e seu pai, que já morreu, era paulista.

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“Eles continuaram com os sinais de origem e o entendimento se manteve”, diz a professora de pós-graduação da Uninove. “Todas essas diferenças mostram a riqueza da língua. Ela é viva e deve ser explorada, explicada e ganhar cada vez mais visibilidade”, completa a educadora de 55 anos.

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Especialistas afirmam que a variação mostra como a língua de sinais está distante de uma mera reprodução icônica das coisas. Ela não é mímica, mas é o resultado da interação entre os surdos É uma forma da fala, ainda que não seja oral. A língua de sinais possui morfologia, sintaxe e também regras gramaticais próprias, como um idioma independente.

Por isso, alguns alunos do curso contatados pelo Estadão preferiram não conceder entrevista em Português e pediram ajuda de um intérprete de sinais. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o País possui cerca de 9,7 milhões de surdos ou pessoas com algum grau de deficiência auditiva.

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O desafio da máscara

Independentemente do sinal que utilizem para se comunicar, os surdos vivem desafios adicionais na pandemia. A máscara, item obrigatório de prevenção contra o novo coronavírus, dificulta a leitura labial, usada como suporte para a comunicação. Surdos estão especialmente acostumados a usar expressões faciais e corporais para entender o que é comunicado.

Os lábios também ajudam na pronúncia de palavras básicas, como “pão”, “água” e “dois”. Com essa limitação, a comunicação fica mais difícil. É importante lembrar que nem toda pessoa surda utiliza a língua de sinais. Nesse caso, uma solução é o uso de máscaras transparentes. Diferentemente do modelo clássico, ela permite ver a leitura labial.

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