“O limite é uma fronteira criada somente pela mente” é a frase estampada na maioria das camisetas de corrida de Condia Mendes, de 72 anos. A mesma mulher de sete anos atrás talvez não imaginaria que, hoje, o único limite que ela quer ver é o da linha de chegada. Mais alegre, mais saudável, mais disposta e com amigos que agrega e coleciona a cada corrida. Apesar da superação que é ter saído de uma realidade de saúde em 2015 para chegar ao que vive atualmente, é à teimosia que ela atribui a maior parte do sucesso em ter conseguido correr 21 quilômetros.
Condia tem certeza de que é mais feliz agora do que antes de começar a correr. “Sou mais alegre, muito mais! Sempre digo que eu acho que tenho 40 anos, mas com 40 eu não era tão feliz. Todo mundo que me conhece a vida inteira diz que eu mudei muito”, conta.
Uma das coisas que, segundo ela, fazem o diferencial da corrida é a integração entre os atletas. “O corredor não quer saber onde você mora, que carro você tem. Ele quer somente correr com você. É uma simbiose positiva.”
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Moradora de Santa Cruz do Sul há mais de 60 anos, Condia é dentista aposentada, e atualmente trabalha como revisora técnica da Uniodonto. Para ela, seguir na ativa a ajuda ainda mais a ter uma vida saudável e feliz. “Trabalho no computador. Sou autodidata, aprendi sozinha. E eu acho isso muito importante para mim.”
Condia acrescenta que existe, sim, preconceito, mas que seria pior se não trabalhasse. “Algumas pessoas acham que a gente não tem capacidade, olham de lado. E às vezes nem acreditam que eu corro com essa idade. Mas, se eu não trabalhasse, talvez sentiria mais esse preconceito.”
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Para manter o ritmo, Condia Mendes faz exercícios físicos diariamente, em todos os sete dias da semana. “Durante a semana, eu faço, em média, o total de 30 quilômetros, porque são quatro treinos de corrida, e é variado. Tenho academia, tenho personal, além da dança, que também continuo fazendo.”
A constância é o segredo. “Eu mantenho, repito, sou dedicada. É uma coisa planejada. Como eu comecei muito tarde, fui me cercando de cuidados, tênis bom, meias de acordo. E nunca me machuquei. Eu engato meu passo, mas vou no meu ritmo.”
Foi em 2015, aos 65 anos de idade, que a vida de Condia mudou. Orientada a fazer um exame do sono, descobriu que sofria de apneia gravíssima. Estava com 30 quilos acima de seu peso normal. “A apneia causa um monte de coisas malignas, os prognósticos são bem ruins. Na época, eu pesava 103 quilos”, relembra.
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Quando foi a um cardiologista levar os exames, foi encaminhada para um programa focado na prevenção, com nutricionista e incentivo de atividades físicas. “Quando a nutricionista me perguntou qual era o exercício que eu fazia, eu disse que era ir até a esquina com os cachorros, e dois dias de dança.”
Foi então que veio a decisão de aumentar a frequência das atividades. “Falei com minha professora de dança e disse que eu tinha que melhorar minha caminhada. Comecei a ir uma noite caminhar, depois eu passei para duas noites, depois para duas noites e dois meio-dias. Junto com uma dieta, consegui diminuir 20 quilos”, relata. Foi nesse aumento de frequência e velocidade que Condia começou a correr. “Eu caminhava dez passos e corria mais dez. Levei um ano para fazer três quilômetros sem parar.”
De repente, aconteceu a paixão pela corrida. “As pessoas me perguntam como eu consigo, pela questão de idade, e eu digo que primeiro é porque eu tenho disciplina, segundo porque tenho determinação, e terceiro porque tenho dedicação. Depois, mas muito importante: porque eu sou muito teimosa. Não me desafia, que eu vou conseguir!”, garante.
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Um tempo depois daquela primeira consulta com o médico que sugeriu o exame de apneia, em 2015, Condia fez questão de ir mostrar para o profissional, orgulhosa, as medalhas que já recebeu. Ela salienta que é importante o apoio que recebe da família, principalmente do filho e dos dois netos. Além, claro, dos amigos antigos e dos que fez nos anos de corrida. “Nas corridas, eu termino levando o troféu de atleta mais experiente. Como que eu não vou ir? Como não vou ser exibida?”, questiona, aos risos.
Tatuada no braço, Condia Mendes tem desenhada uma mulher correndo, a mesma figura que ela carrega em um pingente, no pescoço. Na tatuagem, ela também tem os quilômetros que fez, em ordem progressiva: 3, 5, 8, 10, 15, 16, 18 e, por fim, aos 70 anos, os tão esperados 21 quilômetros. “Se você começa a correr, se apaixona. Eu nunca me imaginei correndo, porque não sou magra, não sou pequena, sou pesada, tenho uma estrutura física que não é de corredor.”
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Mas, afinal, como se explica toda essa paixão pela corrida? Para Condia, a resposta está na endorfina liberada durante o exercício. “É um prazer imenso, ela te dá um resgate de atitude, de bem-estar que não se encontra em nada, nem na coisa mais boa de comer do mundo”, ressalta. Para quem está começando, a dica é certeira: “Não tem idade para começar, só precisa de dedicação, disciplina. A determinação e a teimosia vêm junto. Mas não pode se machucar. Se doeu, para”.
Condia já viajou para muitos lugares do Brasil para correr. Foi para estados como Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo, e para Brasília, Distrito Federal. Também já correu a São Silvestre, em São Paulo. Agora, para o futuro, planeja viajar para o Rio de Janeiro e para Punta del Este, no Uruguai. Correr mais longe, em Portugal e na França, também é algo cogitado por Condia. Quem sabe um dia?
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Conforme a professora Sandra Mara Mayer, do curso de Educação Física da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), praticar exercícios físicos regularmente faz com que pessoas idosas se sintam mais dispostas, com mais vontade de realizar tarefas, e de viver, além de melhorar a saúde, de aumentar capacidades físicas e de motivar para a autonomia.
“A prática regular de exercícios físicos proporciona aos idosos a ausência de patologias, como depressão; melhora a cognição e favorece um relacionamento familiar mais ativo. Pesquisas científicas indicam que as pessoas idosas que participam de programas de atividade física, acompanhadas por um profissional de Educação Física, melhoram a qualidade de vida em relação aos que não participam.”
Sandra destaca ainda que a corrida ajuda a aumentar o nível de vitamina D para evitar a depressão, previne o diabetes tipo 2 e fortalece os ossos, além de diminuir o risco de osteoartrite do joelho. “Isso porque, à medida que ela aumenta o fluxo de nutrientes para a cartilagem do joelho, também fortalece os ligamentos ao redor da articulação. Se uma pessoa correr entre cinco e dez minutos por dia, mesmo que em uma baixa intensidade, ela consegue prolongar sua vida em alguns anos,
se comparado com uma pessoa que não corre nada”, explica a profissional.
E por que a corrida é tão apaixonante? De acordo com a professora, o exercício é um dos esportes aeróbicos mais eficientes para melhorar a saúde do coração. “Quando você corre, seus músculos precisam de mais oxigênio do que o normal, fazendo com que seu coração bombeie mais sangue rico em oxigênio para eles.” De acordo com Sandra, estudos revelam que, ao treinar pela manhã, a pessoa dorme mais facilmente à noite. “Também melhora a qualidade e a quantidade do descanso noturno. Outro benefício da corrida é que esse esporte te deixa mais feliz, mais positivo e mais autoconfiante”, diz.
A professora observa que praticamente todos podem praticar a corrida, mas sempre mediante orientações de um profissional de Educação Física. Há, claro, algumas restrições, como para quem possui problemas no joelho, na coluna ou no quadril, dependendo de algumas variáveis, como idade, patologias e organismos.
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