Após mais de três décadas atuando em salas de aula, nos ensinos público e privado, a professora Ligia Hertzer aposentou-se de sua rotina junto às escolas. Mas não de seu entusiasmo e de sua mobilização em favor da leitura e da importância desta para a expansão de conhecimentos. Até muito pelo contrário. Ela é, na atualidade, uma das pessoas mais envolvidas e engajadas em projetos e ações de valorização da literatura, em todas as suas formações. Não por acaso, foi escolhida para ser a Personalidade Incentivadora da Leitura, destaque criado pela Comissão Organizadora, da 34ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul.
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É um belo coroamento para um esforço de décadas que Ligia tem feito junto a crianças, adolescentes e pessoas de todas as idades, nas escolas em que atuou e também em eventos ou entidades. Esta santa-cruzense de 63 anos, nascida a 14 de março de 1959 (portanto, perto de completar 64 anos) tem no termo “encantar” uma expressão recorrente quando se refere a livros. Em reuniões ou atividades diversas, não raro pede licença, saca de uma obra que tenha na bolsa ou entre seus pertences, e lê, com ternura e emoção na voz, poemas, trechos, passagens.
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E assim, com sorriso no rosto, segue em sua jornada para semear o gosto pela leitura, para iluminar mentes e ampliar horizontes. Se até agora já fazia isso junto às plateias com as quais convivia, dentro e fora de salas de aula, a comunidade de Santa Cruz do Sul e da região passará a se deparar com essa entusiasta da leitura com agenda intensa durante a Feira do Livro, na praça, em maio.
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Uma vida inteira de envolvimento com os livros e a leitura
A professora aposentada Ligia Hertzer cumpriu toda a sua caminhada de formação em Santa Cruz. Fez o primário na escola Professor José Wilke e o ginásio no Colégio Sagrado Coração de Jesus. Primogênita, veria nos anos seguintes chegarem os irmãos Letigia, Raquel, João Ubiratan e Ubirajara, o Bira Hertzer.
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Concluído o então 2º Grau, Ligia ingressou no curso de Letras Português, Licenciatura Plena, em 1979, formando-se em 1982. Ainda ampliaria os estudos com um pós em Linguística. E já em 1984 iniciava a caminhada em sala de aula, justamente no Colégio Sagrado Coração de Jesus, no qual estudara. Ficou por oito anos, até 1992, quando se transferiu para o Colégio Mauá, onde contribuiu por 23 anos na formação de sucessivas gerações. Em paralelo, atuou no ensino público, na antiga escola Murilo Braga de Carvalho, na Escola Estado de Goiás, na Alfredo Kliemann e também em Monte Alverne.
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Em todas as ocasiões, a convicção de que a leitura era fundamental, essencial, para a expansão dos conhecimentos dos alunos, de todas as idades, foi se fortalecendo cada vez mais. Ela acredita que isso tenha surgido como uma missão durante o curso de Letras, embora por volta dos 11 anos já frequentasse assiduamente a Biblioteca do Serviço Social da Indústria (Sesi).
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Sobre o que representa ser a personalidade incentivadora da leitura? Ligia se entusiasma: “Gostaria que essa oportunidade me permitisse cativar cada vez mais pessoas, todas as pessoas, para a importância da leitura, sobre o quanto os livros enriquecem a existência, ampliam nosso conhecimento e a percepção das coisas à nossa volta”, frisa. E lamenta o pouco espaço que livros e leituras têm no ritmo de vida contemporâneo, de muita velocidade e dispersão. “Desconfio que a maioria das pessoas hoje dedica pouco tempo ao livro, à leitura, à ampliação do conhecimento, ao saber. Isso precisa mudar, e com urgência. Quero fazer minha parte para que isso aconteça.”
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Memória de infância
Os pais de Ligia, seu Eloar, já falecido, que era de Taquari-Mirim, Venâncio Aires, e dona Dulce, hoje com 86 anos, natural de Passo do Sobrado, fixaram-se em Santa Cruz na reta final dos anos de 1950. Por um tempo ocuparam um quarto em prédio na esquina das ruas Marechal Floriano e Tiradentes.
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Nos anos seguintes, quando ela era menina, a família esperava o ônibus para Taquari-Mirim na frente do prédio que se situa do outro lado da rua, e que também sediava a Cadeia Pública. Detalhe: hoje funciona ali justamente a Biblioteca Pública Municipal, presentificando, na paisagem urbana, o templo dedicado aos livros no espaço que Ligia, uma fã absoluta da leitura, tanto costumava frequentar.
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Entrevista – Ligia Hertzer, professora
- Magazine – Por que ler? Porque ler faz bem para a alma. Ler te leva a conhecer mundos desconhecidos, mundos muitas vezes bem diferentes daquele que é o mundo em que nós vivemos, mundos com realidades muito difíceis. Então, ler porque faz bem, porque me alimenta, porque através da leitura eu me realizo.
- O que ler? Ler jornal, e, nos jornais, not´icias, crônicas, reportagens mais específicas, crônicas, em jornais como Gazeta do Sul e Zero Hora, que são minhas mais frequentes leituras. Eu gosto muito de poesia, como sempre friso; tenho adquirido e lido muitos livros de poesia. Além de jornais e livros, ainda sugiro revistas.
- Quando ler? Em qualquer momento. Dependendo do texto, é possível ler aguardando uma consulta, na fila do banco, no ônibus, na praia, na calçada. Quando for, quando a leitura nos chamar. Eu diria ler sempre, sempre que possível.
- Como é a experiência de organizar saraus e eventos desse gênero? A ideia de organizar saraus, eventos culturais com música e poesia, é bastante significativa, porque é minha tentativa de continuar aproximando as pessoas da literatura, da música. E proporcionar momentos de encantamento, de alimento para a alma, sem querer ser piegas usando essa expressão. Penso que a música e a poesia têm uma força imensa no nosso cérebro, elas funcionam de maneira maravilhosa, e o que falta talvez, ou pode ser melhorado, é justamente aproximar mais as pessoas da poesia. É essa minha tentativa: reaproximar as pessoas da poesia. Porque isso acontece; pude testemunhar isso em muitos saraus que fiz.
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