É desesperador o que vem acontecendo: ondas de calor, baixa umidade do ar e queimadas têm devastado o país. Estamos respirando fuligem, particulados e cinzas. Corredores de fumaça nos alcançam para além das frentes em chamas. Pessoas adoecem, animais viram carcaças, árvores carbonizam, águas se esgotam, lavouras se perdem, solos esturricam e comunidades se desorganizam.
O desespero dos atingidos ecoa a tragédia, não raramente provocada por incendiários inescrupulosos. Estes sequer hesitam em pagar “testas de ferro” para que ateiem fogo. Os possíveis mandantes, como se nada tivessem a ver com o desastre, imaginam-se acima da lei e da culpa, ao transferi-la para terceiros. Todavia, a culpa silenciada grita por justiça. Justiça dolorida pela imediaticidade do fogo e duramente avaliável enquanto consequência futura. Todavia, a noite se achega e, com ela, a certeza de que amanheceremos com o futuro diminuído.
Na cama do adormecimento inquieto, em verdade, nos deitamos todos juntos. Mesmo que não seja a gente que, de forma direta, atrite o palito de fósforo ou induza a incineração, em alguma medida somos corresponsáveis com o que vem acontecendo. O mesmo vale para as guerras e o não acolhimento aos refugiados de todos os lugares. Como aceitar que qualquer tipo de calamidade humanamente provocada possa estar ocorrendo e nós, enquanto cidadãos do mundo, ficamos inertes? Podemos nos comportar como se nada disso tivesse a ver conosco? Basta o lamento, ou é preciso exercer o ativismo transformador?
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Se mais não fosse, qual o legado que pretendemos para nossos sucessores? Lhes servirá de alimento a cinza, o gás tóxico, a água envenenada, o solo depauperado, a diversidade colapsada e a desesperança?
Imaginemo-nos no momento da solidão decisiva. Aquele em que derradeiramente seremos tomados pela prestação de contas registradas no livro das páginas que não podem ser arrancadas, até porque levaremos o que deixarmos.
Dia de Preservação do Cinturão Verde
A par das catástrofes aparentemente distanciadas de nossa operosidade diária, podemos atuar resolutivamente naquilo que se faz proximal. A reforçar esse chamamento, oportuniza-se lembrar que o dia de início da primavera coincide com o “Dia de Preservação do Cinturão Verde de Santa Cruz do Sul,” conforme disposto na Lei 6.376, de 22 de novembro de 2011.
Todos sabemos que precisamos preservar o Cinturão Verde e os demais ecossistemas todos os dias, durante os 12 meses de cada ano, naquilo que cada um de nós pode realizar e reconhecendo o que o outro, conhecido ou não, esteja fazendo. Reconhecimento que nos remete à manifestação da senhora Denise Xavier, ao nos dizer que precisamos disseminar o conhecimento também a partir do ponto de vista dos proprietários de áreas preservadas.
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Também é oportuno lembrar a relação preservacionista entre os orquidófilos e a cidade enquanto ecossistema socioambiental, conforme acentuado pelo senhor Ernani Baier, quando da abertura da exuberante 52ª Exposição de Orquídeas. Por certo, cada um de nós tem sua forma de se expressar e atuar em favor da vida ecossistêmica, que encontra no Cinturão Verde força integradora. Nossa ação será crescentemente virtuosa à medida que nos conectarmos organicamente com a natureza, até porque, como nos inspira o escritor e editor Romar Beling: “precisamos, todos, coletivamente, de alguns afagos de bem-estar, e isso depende em essência do contato com o mundo natural.”
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