Qualquer trabalho, quando mal executado ou quando não respeita os limites das pessoas, pode contribuir para o surgimento de lesões por esforço repetitivo (LER) ou de distúrbios osteomusculares (DORT). Por isso, é comum que após longas horas de trabalho ou exposição a fatores inadequados, tanto de organização quanto de ergonomia de uma atividade, se tenha, por exemplo, desconforto ou dor nas mãos, às vezes com formigamento, fraqueza e até dificuldade de segurar determinados objetos.
Embora tais sintomas pareçam inofensivos num primeiro momento, podem se tornar incapacitantes se não forem devidamente observados e tratados. A fim de alertar a população acerca disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o Dia Internacional de Combate ao LER/DORT. Da mesma forma, a Sociedade Brasileira de Reumatologia divulga frequentemente conteúdos sobre o assunto. No Brasil, entre os anos de 2006 e 2022, o maior número dessas notificações foi de trabalhadores de serviço doméstico, de alimentadores de linha de produção e operadores de máquinas.
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A fim de orientar os leitores sobre a importância da prevenção e dos cuidados necessários, em caso de diagnóstico para LER/DORT, a Gazeta do Sul conversou com o médico reumatologista Eduardo Pochmann. Confira a entrevista na íntegra.
Eduardo Pochmann – Atendo pacientes com as mais variadas lesões musculotendíneas relacionadas ao trabalho. Depende do tipo de movimento repetitivo que eles fazem. Os mecânicos, por exemplo, costumam ter tendinite dos cotovelos, com dor e formigamento nas mãos e até perda de força, por conta dos movimentos de torção que fazem com o braço, seja pelo manuseio de parafusos ou de engrenagens. As cozinheiras desenvolvem tendinite de ombros, os trabalhadores braçais ou até mesmo os de escritório apresentam lesões em punhos, cotovelos, região da escápula e cervicalgia postural por movimentos repetitivos.
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Normalmente, oriento alongamentos diários em casa, pela manhã e no fim do dia (costumo ensinar alguns exercícios e também peço ajuda aos fisioterapeutas). Além disso, sugiro mudanças dos movimentos repetitivos, como fazer a alternância de funções nas empresas de manufatura e melhorar a ergonomia de cadeira, mesa e computador nos escritórios. Já para quem trabalha no campo, especialmente no cultivo e na colheita de tabaco, que é o mais comum na nossa região, recomendo que evite ficar por muito tempo “abaixado” ou “encurvado” para não forçar a coluna. Por fim, ainda recomendo que, ao fazer tarefas domésticas ou laborais que possam forçar as articulações da coluna dorso-lombar, dos ombros, dos braços e das mãos, principalmente, se façam intervalos de cinco a 10 minutos durante a execução do trabalho, se alonguem as regiões mais afetadas ou doloridas e só depois se retorne ao trabalho. Atitudes simples como essas ajudam a evitar lesões mais graves ou crônicas e que, muitas vezes, podem resultar em afastamento do trabalho, em dores crônicas debilitantes e em tratamentos médicos. E o que vale para todos: fazer exercícios físicos pelo menos de duas a três vezes por semana, reforço muscular e alongamentos.
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Os trabalhadores precisam evitar excessos nas suas atividades (ficar muitas horas na mesma postura), fazer intervalos de 15 minutos para alongar o corpo e, se tiverem piora das dores, podem usar relaxantes musculares ao deitar (há os que podem ser adquiridos sem receita), bem como massagens e calor no local da dor, preferencialmente com bolsa de água quente por 40 a 50 minutos, em especial se for na região de coluna, quadril e cervical.
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O diagnóstico de lesões por esforço repetitivo é geralmente feito por médicos da área trabalhista, reumatologistas e ortopedistas. Muitas vezes é necessário fazer exames de imagem para avaliar possíveis rupturas de ligamentos (mais comum em ombro), situação na qual é necessário cirurgia ou tratamento medicamentoso acompanhado de fisioterapia e reabilitação funcional. Nem toda dor significa esse tipo de lesão tendínea. Em alguns casos, os pacientes apresentam dor no ombro, cotovelo, punho, quadril ou coluna por outras causas, como a artrite reumatóide ou a espondiloartrite, que é um processo inflamatório crônico e mais agressivo, podendo, inclusive, ocasionar deformidades. Nessas situações, os pacientes apresentam dor, inchaço e calor (ou febre) nas articulações de modo mais prolongado e intenso.
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