Colunistas

Leônia e Fedora

Leônia é uma das “cidades invisíveis” descritas pelo escritor Italo Calvino em sua obra clássica de 1972. Um aglomerado urbano que se renova todos os dias, por meio do consumo incessante de mercadorias.

“A população acorda todas as manhãs em lençóis frescos, lava-se com sabonetes recém-tirados das embalagens, veste roupões novíssimos, extrai das mais avançadas geladeiras latas ainda intactas”, segundo o autor. No dia seguinte, os restos da Leônia de ontem amanhecem envoltos em sacos plásticos, à espera dos lixeiros.

O luxo e a pompa da cidade se medem pelas coisas que são descartadas diariamente para dar lugar às novidades. Contudo, quanto mais Leônia se esmera na fabricação de produtos atraentes, seus rejeitos não apenas ficam mais numerosos, como também mais resistentes, indiferentes à corrosão e às intempéries.

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Somente o lixo se torna firme o bastante para perdurar enquanto o tempo passa. O resultado da geração interminável de resíduos é uma “fortaleza de dejetos indestrutíveis” que se forma em torno de Leônia, dominando-a de todos os lados, tal qual uma cadeia de montanhas.

Enquanto os bens de consumo rápido se degradam com velocidade ainda maior, o “lixo de ontem empilhado sobre o de anteontem e de todos os anos e décadas” é a forma definitiva que assume a riqueza aparente dos moradores.

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Leônia é fictícia, mas simboliza uma realidade identificável. Em março passado, a Organização das Nações Unidas (ONU) informou que 2 bilhões de toneladas de resíduos sólidos são gerados anualmente, mas 33% não recebem tratamento adequado. A quantidade equivale a um caminhão de lixo cheio de plástico despejado no oceano a cada minuto, segundo o órgão. O aviso é para o reforço de políticas de gerenciamento e reutilização de rejeitos.

Em As cidades invisíveis, Calvino nos fala também de Fedora. Nessa metrópole, destaca-se um palácio de metal onde cada sala guarda uma esfera de vidro. E cada esfera contém uma cidade em miniatura que serve de modelo a outra Fedora; o que ela poderia ter sido se, por uma razão ou outra, não fosse o que é.
Talvez uma cidade sem lixões a céu aberto também esteja ali, como possibilidade fértil.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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Carina Weber

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