O apelo ao consumismo pulsa forte nesta época do ano. Parece indispensável provar a amizade ou amor às pessoas queridas mediante a compra de um presente, um mimo que seja, sob pena de ser visto com olhos pouco indulgentes. Domingo, no programa Fantástico, da Rede Globo, uma reportagem mostrou o surrado cenário que assola o Nordeste brasileiro: a seca.
Ao caminhar pelas ruas de uma pequena cidade, muito pobre, o repórter perguntou aos moradores qual seria o melhor presente que gostariam de ganhar: – Eu queria ter água! – responderam em uníssono.
Sozinho, diante da tevê, fiquei tocado pela simplicidade de pessoas que sobrevivem de teimosos por desafiar o cotidiano de dificuldades. Afinal, falta o básico: uma torneira onde verta água. Um grupo de pessoas se cotizou com o drama da cidade e contratou caminhões-pipa que encheram os reservatórios.
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Com lágrimas nos olhos, uma mulher não hesitou: – Este é o melhor Natal da minha vida! – confessou entre soluços.
Terminada a reportagem, refleti sobre os tempos que vivemos, pautados pelo consumismo, pressa, pelo fenômeno da ostentação e pela “cultura do descartável”. Recém-terminado o Natal, muita gente já se debruça sobre os presentes da noite de ano-novo. Não importa o comprometimento financeiro ou a proliferação de lembrancinhas fúteis e sem utilidade. Importa, sim, mostrar “poder” por meio do acúmulo.
Há cinco meses perdi minha mãe, aos 81 anos. Meu pai se foi há mais de 20, com 52 anos, deixando uma enorme lacuna. Este foi o meu primeiro Natal como “órfão”. Lutei contra a tristeza, quase transformada em depressão. Aí, lembrei do conselho que repito aos que me cercam: é preciso, sempre, agradecer pelas coisas que temos e que milhões de pessoas apenas sonham em possuir.
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Olhei ao redor: há 30 anos compartilho minha vida com uma esposa solidária, que me deu dois filhos responsáveis e saudáveis. Tenho emprego, uma irmã – cunhado e sobrinhos –, além de muitos amigos e o mais importante: saúde. Milhões de seres humanos não possuem o básico: um teto, família, um ombro amigo nas horas amargas, trabalho, saúde ou algum outro motivo para despertar a cada manhã.
Não sou um eterno conformado ou de ver a vida cor-de-rosa. Prefiro a ideia de agradecer. Um 2017 iluminado, solidário, mais despojado e rico em saúde!
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