Foi no fim da década de 1990 que o fundador da Microsoft, Bill Gates, disse que seus filhos teriam computadores, mas primeiro teriam livros. Nos mais de 20 anos que se passaram desde então, o mundo enfrentou uma revolução tecnológica a cada semana e os bebês nascidos nesse período tiveram um convívio diário com computadores e smartphones.
Um mundo cada vez mais digital planta a dúvida: como instigar nossas crianças a se dedicarem ao hábito da leitura, quando os livros precisam competir com telefones celulares e tablets repletos de jogos e vídeos que podem parecer aos pequenos, pelo menos no primeiro momento, mais estimulantes e divertidos? Para responder a essa pergunta, a Gazeta do Sul buscou exemplos de pais que foram bem-sucedidos na hora de incentivar a leitura nos filhos.
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Aos 6 anos, e a caminho do segundo ano na escola, Nina tem uma grande coleção de livros. Filha da gerente do Sesc de Santa Cruz do Sul, Roberta Corrêa Pereira, e do músico Killy Freitas, a pequena descobriu há pouco o prazer de ler sozinha e está viciada nos gibis da Turma da Mônica. Mas, antes disso, a leitura foi muito incentivada pela família desde que ela era um bebê.
“Antes de nascer, ela já tinha livros. O primeiro foi um presente do professor Elenor Schneider”, diz Roberta. A coleção de livros fica no quarto e ela mesma escolhe aqueles que quer ler, levando-os para a sala de casa.
O contato com muitos escritores por causa do envolvimento na organização da Feira do Livro também garantiu à filha de Roberta muitas obras com autógrafos de autores locais, como Léla Mayer e Valquíria Ayres Garcia. Roberta, que gosta de livros de todos os gêneros, ensina a filha também pelo exemplo, além de as duas gostarem de ler juntas.
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“Quando os livros dela possuem mais texto, às vezes ela precisa de ajuda. Tudo vem do exemplo. Com a leitura, a criança vai falar melhor, escrever melhor, tudo flui. Ela vai fazer 7 anos e já sabe até soletrar as palavras, tudo vem desse incentivo”, afirma.
Um dos livros marcantes da infância da mãe entrou na coleção de Nina: A curiosidade premiada, de Fernanda Lopes de Almeida. Contudo, o favorito dela no momento é Romeu e Julieta, de Ruth Rocha. Uma das dicas de Roberta é a coleção da Fundação Itaú Cultural, que envia gratuitamente títulos infantis todos os anos. “São livros com muita qualidade, gosto de todos. Um que li quando era criança foi o Chapeuzinho Amarelo, do Chico Buarque”, conta. A mãe, que lia muito para Nina, sempre fez questão de contar quem são o autor e o ilustrador de cada obra, deixando claro que muitos profissionais estão envolvidos até o livro chegar às nossas mãos.
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O pequeno Antônio Goldschmidt Xavier de Oliveira, de apenas 4 anos, já tem o seu livro favorito: Quero colo!, de Fernando Vilela e Stela Barbieri. A bióloga Verushka Goldschmidt Xavier de Oliveira conta que começou o incentivo à leitura com os livros de banho, quando o filho tinha apenas alguns meses. “Ele sempre gostou. Depois começamos a adquirir livros com capas mais duráveis, para não rasgar. Primeiro ele folheava, e agora já está tentando ler, ouve a história com muita atenção, e isso estimula muito a criatividade”, frisa.
A experiência de Verushka começou com a mãe, que era professora. “Os livros sempre fizeram parte da rotina. Toda Feira do Livro de Rio Pardo, eu e minhas irmãs frequentávamos e voltávamos com um exemplar para casa.” Sua história favorita da infância era A galinha ruiva, livro que ela e o marido, o jornalista Dejair Machado, adquiriram para o filho ao lado de contos de fadas clássicos, como Os três porquinhos, e costumam ler para Antônio.
“É uma atividade em família, que aumenta o vínculo entre pais e filhos. Ele, com 4 anos, já é muito esperto e curioso e já começou a aprender a escrever sozinho. A curiosidade está fazendo com que ele aprenda”, salienta a mãe.
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A assistente comercial Jéssica Borba Fischer e o vendedor Jeferson Luis Lopes da Silva perceberam cedo que a filha Mariah, de apenas 3 anos, já se interessava pelos livros. “Já no segundo ano de creche, quando começou o momento de ler histórias, ela demonstrou interesse, e então fomos incentivando. Ela adora ouvir histórias, então acabou sendo muito natural. Procuramos sempre títulos que sejam compatíveis com a idade e a percepção dela”, explica a mãe, que adquiriu o hábito da leitura igualmente na infância.
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O casal também mantém diariamente a leitura da Bíblia, e Mariah ganhou seu primeiro livro de histórias bíblicas antes de nascer. Um espaço foi criado pela família no quarto da menina para que ela sempre tenha acesso aos livros, alguns dos quais pertenciam à mãe e estavam guardados há quase 25 anos.
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“A leitura é sempre um momento especial para ela. E ela deixa de ver televisão, vídeos e outras brincadeiras para ouvir histórias, pede para nós, para os dindos, e às vezes solicita leitura de coisas que nem são histórias. Esperamos conseguir manter e incentivar esse hábito nela”, enfatiza Jéssica.
Para o escritor e professor Rudinei Kopp, do Curso de Comunicação da Unisc, a leitura é um hábito desde que era criança. “Meus irmãos sempre tinham muitos livros e histórias em quadrinhos. E eu acabava indo muito à Banca. Uma hora antes da aula, ficava sentado lá olhando as revistas e lendo.” Dessa forma, a filha, Júlia da Conceição Kopp, de 9 anos, cresceu em meio aos livros. “Ela se criou com livros em toda a casa. A mãe dela incentiva a ler bastante, os dindos dão livros de presente, ela ia aos lançamentos dos meus livros”, explica.
Júlia conta que gosta de ler bastante e já tem os seus favoritos: Diário de Pilar no Egito, de Flávia Lins e Silva, e O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Este último ela leu com a mãe, a bióloga Grasiela da Conceição. “Quando eu era pequena, não tinha tanto esse costume, mas agora eu consigo ler mais. Na escola eu leio muito”, relata.
Ela consome cerca de 30 páginas por dia, gosta de marcar as páginas com post-its, hábito que serve de incentivo, e seus títulos preferidos no momento são os de aventura. A menina também guarda com carinho as obras infantis que os pais liam para ela quando era menor.
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Um dos textos preferidos de Rudinei na infância era o Manual do Escoteiro Mirim, da Disney. “Era um livro que lembro que eu tinha e perdi. Um dia achei em um sebo e comprei para ela, mas acho que era muito nova e não deu muita bola.” No entanto, o hábito pela leitura e por adquirir publicações já foi plantado com sucesso. “Agora estou começando a querer ter mais livros. Quero ter uma biblioteca igual à do meu pai, que tem uma biblioteca enorme”, diz Júlia. Ela também pretende escrever um livro no futuro.
Na casa da advogada Patrícia Tavares Ferreira Kaufmann, o hábito adquirido com a família na infância está sendo repassado aos filhos Isadora, de 5 anos, e Vicente, de 1 ano e 2 meses. “Eu sou de uma família que lê muito, que sempre incentivou muito a leitura. Lembro de alguns episódios bem legais de família: depois do almoço, eu e minhas irmãs e primas íamos para a cama do meu avô e ele contava as histórias para todo mundo, lia as históricas clássicas e outros livros”, relembra. A mãe professora também incentivava a leitura, e o hábito permanece na pilha de obras ainda não lidas que ela mantém na cabeceira da cama e no escritório.
Com os filhos, ela e o marido, Diego Kaufmann, tentaram encorajar o hábito desde pequenos. “Mesmo quando a Isa ainda não entendia, a gente já lia os livrinhos mais simples, introduzindo a leitura. Temos um baú dos livros que a gente mantém; veio o Vicente e já estamos usando com ele os da sua faixa etária. Eles mesmos procuram as obras.”
Isa, que ainda não lê sozinha, conta com a ajuda dos pais e do avô para entender os livros da escolinha. Os favoritos são os mesmos que agradavam à mãe quando era pequena: contos de fadas, como os de Branca de Neve e Chapeuzinho Vermelho. Uma das práticas diárias dos pais é ler A Bíblia da Família, que traz histórias bíblicas adaptadas para as crianças.
Patrícia espera que os filhos continuem lendo e se preocupa com o futuro do formato impresso. “O contato com o livro é tão importante, não gostaria que isso morresse. Acho a leitura na tela mais cansativa, mas ainda que seja feita, que bom. Quero que pelo menos fique o hábito; se não for pelo livro físico que eu incentivo, que seja pelo digital”, ressalta Patrícia. Além de obras adquiridas diretamente com os autores, e agregando as dedicatórias de cada um deles nos exemplares, a mãe assinou para os filhos o Clube Leiturinha, do qual recebe um título novo todo mês.
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