Estudos divulgados nos últimos dias têm apontado que, após imunizadas com vacinas contra a Covid-19, mulheres que amamentam produzem leite com anticorpos contra o novo coronavírus. Nos Estados Unidos, já há movimentos de retomar o aleitamento em busca da proteção dos bebês. Embora seja uma notícia positiva, pediatras alertam que as pesquisas ainda não comprovaram se as crianças realmente ganham imunidade e, se sim, quanto tempo isso duraria.
No fim de março, foi divulgado estudo com 131 mulheres em idade reprodutiva, entre elas gestantes e lactantes, que receberam as duas doses da vacina da Pfizer/BioNTech ou da Moderna. O monitoramento apontou a presença de anticorpos no sangue do cordão umbilical e no leite materno das participantes.
Os pesquisadores, do Massachusetts General Hospital (MGH), Brigham and Women’s Hospital e do Ragon Institute of MGH, MIT e Harvard, compararam ainda anticorpos produzidos por mulheres infectadas e os induzidos pela vacinação, encontrando um número significativamente mais alto entre as imunizadas.
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Publicado em 30 de março, um estudo da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis também encontrou anticorpos contra o vírus e detectou que eles apareceriam duas semanas após a primeira dose da vacina, permanecendo por, ao menos, 80 dias – tempo que a pesquisa durou.
Os pesquisadores sugerem que eles poderiam passar por meio da amamentação para os bebês e conferir algum tipo de proteção. Revisado por pares, o estudo analisou uma pequena população, de apenas cinco mães, que foram imunizadas com a vacina da Pfizer/BioNTech, e com filhos entre um mês e 2 anos.
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Mais recente, uma pesquisa israelense divulgada pelo periódico científico Jama na última segunda-feira, 12, apontou a presença dos anticorpos específicos para o Sars-CoV-2 em um grupo de 84 mulheres que forneceram 504 amostras de leite materno ao longo do estudo, que durou de 20 de dezembro de 2020 a 15 de janeiro deste ano. As amostras foram colhidas antes da administração da vacina da Pfizer/BioNTech e, duas semanas após a imunização, passaram a ser colhidas semanalmente pelo prazo de seis semanas
A vacina da Pfizer, que tem taxa de 95% de eficácia, ainda não está sendo aplicada no Brasil, mas o governo fechou contrato para comprar 100 milhões de doses. Desse total, 15,5 milhões estão previstos para chegar ainda neste semestre.
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Mais pesquisas são necessárias
Médico pediatra do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Moises Chencinski explica que, entre as recomendações da amamentação, está o fato de que o bebê transmite informações do quadro infeccioso quando está doente, fazendo com que o leite materno comece a passar anticorpos. “São as imunoglobulinas IgA secretória, que protegem contra infecções digestivas e respiratórias, e a IgG, que dá uma imunidade mais prolongada. O que o estudo mostra é que, depois de seis semanas da vacina, IgA e IgG específicos para Sars-CoV-2, que é o que interessa para quem tomou a vacina, foram encontrados e nenhum evento colateral sério foi relatado.”
Apesar do achado animador, Chencinski alerta que mais estudos devem ser feitos para avaliar os reais impactos desses anticorpos para os bebês. “Quais são as limitações deste estudo? Ele não permite concluir que o bebê está protegido contra a Covid e não se sabe quanto tempo duraria a imunidade. O estudo só mostrou que tem a produção do anticorpo e que ele passa para o leite, mas não quanto o anticorpo passado pelo leite protege o bebê. De forma alguma exime a mãe de se proteger adequadamente. Então, continua tendo de usar máscara, higienizar as mãos e fazer distanciamento social.”
O pediatra diz que retomar a amamentação, como mães americanas têm feito, pode ter aspectos positivos. O mais importante, porém, seria não interromper o aleitamento materno antes do que é preconizado pelas entidades de saúde, que recomendam amamentação exclusiva até os seis meses e complementada por outros alimentos até dois anos ou mais.
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“Isso gerou outra questão. Elas voltaram a amamentar, mas pegam o leite e colocam na comida e na bebida dos outros filhos. E para outras crianças próximas à família. Isso se caracteriza como amamentação cruzada e é totalmente contraindicada, porque traz riscos de infecção por outras doenças”, afirma o especialista.
Resultado esperado
Presidente do Departamento de Imunizações da SBP, Renato Kfouri diz que o resultado da pesquisa já era esperado. “Quando se promove a vacinação de uma gestante, a tendência é de que, por meio da placenta, ela passe anticorpos para o bebê. A vacina da coqueluche passa, a do tétano também. A da gripe passa, mas é menos. E também tem um nível de excreção pelo leite materno.”
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Mesmo sendo confirmado que os anticorpos protegem o bebê, segundo ele, estudos ainda terão de verificar, por exemplo, qual o melhor momento para imunizar as gestantes para garantir a passagem de anticorpos para os bebês. Além disso, como o evento ocorre de acordo com o imunizante tomado pela gestante ou lactante.
“Não se sabe o grau de proteção se vacinar no primeiro trimestre ou no último. No caso da mãe infectada pelo vírus na gravidez, já está mais consolidado e foi detectado que os bebês nascem com anticorpos para Covid, mas não se conseguiu estabelecer o nível de proteção no bebê, até porque a doença é rara no recém-nascido”, acrescenta ele.
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Amamentação em casos de Covid e vacinação para lactantes são recomendadas
O que permanece inalterado, segundo ambos os especialistas, é a orientação de continuar amamentando mesmo em casos de infecção pela Covid. “Ainda se mantém a recomendação de amamentação com todos os cuidados, em casos leves ou importantes, desde que a mãe tenha condições. Ela pode amamentar usando máscara ou pode tirar o leite para que outra pessoa dê. Os demais cuidados com o bebê podem ser feitos por outra pessoa também. E não pode doar o leite com Covid aguda”, diz Chencinski.
No mês passado, a Sociedade Brasileira de Pediatria publicou documento científico com a indicação da vacinação para lactantes, diante da inexistência de estudos específicos sobre a imunização desse grupo. “A orientação segue o que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS), que se posiciona claramente ao afirmar que, se a lactante é pertencente a um grupo no qual a vacinação é recomendada, ela deve ser oferecida. Além disso, a SBP não aconselha a interrupção da amamentação após a vacinação”, informa.
O documento diz ainda que as duas vacinas disponíveis até o momento no Brasil, a Coronavac e a de Oxford, “são consideradas conceitualmente vacinas inativadas”. E completa: “o principal documento nacional, que define as ações vacinais do Sistema Único de Saúde (SUS), orienta a vacinação de gestantes e lactantes com precaução, caso a mulher e o seu médico prescritor decidam, de forma compartilhada, pela aplicação”.
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