Poucas cidades no Estado – arrisco em dizer que nenhuma mais – têm um ambiente tão peculiar para as pessoas vivenciarem a fé na Semana Santa como Rio Pardo. Enquanto Gramado e Canela se destacam mais pelos aspectos do ponto de vista comercial da data, na Cidade Histórica predomina o clima da religiosidade. A tal ponto que no início dos anos 1970 houve a criação da Feira de Artes Plásticas. Artistas de todo o Estado eram convidados durante esta época do ano para virem a Rio Pardo, ver e pintar as belezas da cidade. Após a conclusão das obras de arte, eram expostas e vendidas, tornando-se assim um trabalho autossustentável.
Uma pena que iniciativas como estas se perderam no tempo, pois faziam do município uma referência no Rio Grande do Sul neste período do ano. Talvez tenha faltado alguém como Biagio Soares Tarantino, criador dos museus Barão de Santo Ângelo e de Arte Sacra e do Arquivo Histórico Municipal, para seguir liderando esse movimento. Foi ele também que, por volta de 1960, com a ajuda da esposa, passou a preparar os sonhos e servi-los aos jornalistas, repórteres e artistas plásticos que participavam das comemorações da Semana Santa. Assim, a iguaria passou a ser um atrativo turístico e divulgada nos jornais de Porto Alegre.
Defensor da preservação do patrimônio histórico de Rio Pardo, Biagio Tarantino divulgava a arquitetura colonial existente e todas as características peculiares locais. Inclusive, se não fosse ele, provavelmente hoje não teríamos mais a Rua da Ladeira, com suas pedras irregulares, no estilo romano, como um dos pontos turísticos locais. Também, infelizmente, ficaram nas recordações os saraus e o belíssimo acervo que existiu até há alguns anos no Espaço Cultural Panatieri, prédio que hospedou D. Pedro II durante a sua visita à cidade em 1865.
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Mesmo assim, desconhece a cidade quem diz que não tem (ou tem poucas) atrações turísticas. Falta, talvez, melhor exploração para atrair mais visitantes e consciência das pessoas sobre a riqueza que se hospeda no município. Nesta Sexta-feira Santa, por exemplo, a cidade oferece a possibilidade de um roteiro perfeito para viver o clima desta época do ano. Na Igreja de São Francisco, além do Museu de Arte Sacra, há no interior cinco estátuas raras, em tamanho natural, mais a Nossa Senhora da Boa Morte e a Nossa Senhora da Glória, que simbolizam parte da Via Crucis e representam Jesus Cristo em cinco das 14 estações até a crucificação.
A Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, com a riqueza dos seus sete altares de madeira e origem barroca, conserva a Imagem do Senhor Morto, escultura em tamanho natural, com membros articulados. A estátua deixa o templo no final da tarde desta sexta, carregada por fiéis, e é levada em caminhada pelas principais ruas, mantendo uma tradição centenária. E ainda à noite, a partir das 20h30, ocorre a sempre emocionante encenação da Paixão de Cristo, espetáculo a céu aberto com acesso gratuito no centro de eventos do antigo Forno de Cal.
A cidade ainda oferece muitas outras opções, com o acervo dos museus, prédios históricos, igrejas centenárias e a tradição dos pratos com peixes na Praia dos Ingazeiros, formando um belo roteiro para vivenciar o clima da Páscoa, independentemente do credo das pessoas. E não dá para esquecer do Centro Regional de Cultura, onde nesta sexta-feira e neste sábado, 30, os visitantes têm a oportunidade de conhecer os produtos da Feira de Páscoa, incluindo os tradicionais sonhos. Muito já se perdeu das riquezas históricas que Rio Pardo guarda. Mas ainda há muito também para conhecer e é preciso valorizar esse patrimônio cultural e histórico, que faz o diferencial da cidade em relação a todas as demais no Estado.
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