Há 30 anos, 20 dos 25 edifícios mais altos do planeta estavam nos Estados Unidos e apenas dois na Ásia. Hoje, a situação se inverteu, com 20 na Ásia (13 na China) e somente dois nos Estados Unidos. Kuala Lumpur tem quatro prédios nessa lista, incluindo o segundo do mundo, com 679 metros de altura, além das torres gêmeas mais altas, as Torres Petronas, com 452 metros. Seria a existência de tais megaestruturas um indicativo de desenvolvimento e prosperidade futura?
País jovem, proclamado em 1963, a Malásia é resultado da independência de vários reinos que até então estavam sob domínio da Grã-Bretanha, com 13 estados divididos entre a Malásia Peninsular, ligada ao continente asiático, e a Malásia Oriental, na vasta ilha de Bornéu. A nação é uma monarquia constitucional e o sistema de governo é parlamentar, semelhante ao britânico. O rei é o chefe de estado, escolhido de forma rotativa a cada cinco anos entre os nove sultanatos existentes no país. A propósito, o reino deve estar arrependido de ter expulsado, em 1965, Singapura, hoje um dos países mais desenvolvidos do mundo.
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Kuala Lumpur, ou simplesmente KL, é a capital e maior cidade, com cerca de 2 milhões de habitantes. O progresso econômico da metrópole é evidente em cada visita, com taxas de crescimento entre as maiores do mundo. Antiga capital do Sultanato de Selangor, hoje um dos estados da Malásia, a cidade foi formada no final do século 19 por mineradores e, nas últimas décadas, soube conciliar prosperidade com eficientes políticas públicas de infraestrutura, transporte, pesquisa científica e educação. KL se tornou o maior centro financeiro islâmico mundial, com forte presença de bancos do Oriente Médio, em um país que tem PIB per capita 50% superior ao brasileiro.
A cidade oferece muitos pontos de interesse aos 14 milhões de visitantes anuais (como referência, o Rio de Janeiro recebe cerca de 3 milhões). Museus, parques, templos, arranha-céus e, principalmente, preços atrativos em enormes shopping centers e distritos comerciais trazem hordas de turistas, a maioria vindos de países asiáticos.
No aspecto religioso e populacional, dois terços dos malaios são adeptos do islamismo sunita e os demais se dividem, sobretudo, entre hindus, cristãos e budistas. Um quarto da população tem origem chinesa, representando o maior número de oriundos da nação de Confúcio entre os países do sudeste asiático, na chamada diáspora chinesa. Na área de direitos humanos, infelizmente, a Malásia ainda deixa a desejar. A homossexualidade é ilegal, a pena de morte é frequentemente utilizada e métodos medievais como a surra com vara de bambu são práticas correntes no sistema judiciário.
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Além da capital, percorri na Malásia locais pujantes do setor petrolífero, como Ipoh e Johor Bahru, e não posso deixar de citar a lendária Málaca, cidade capturada por navegantes lusitanos em 1511 e onde ainda se fala um dialeto derivado do português. O local dá nome ao estreito entre a Malásia e a Indonésia, por onde atualmente passa 40% do tráfego marítimo mundial.
Alcançar o topo de prédios nunca fez parte da minha lista de desejos. Pessoalmente, não vejo nada de extraordinário nas vistas ofertadas por megaedifícios. Voltando à pergunta inicial, é claro que arranha-céus por si só não sinal de abundância e muito menos de desenvolvimento sustentável. Citando um exemplo próximo, uma cidade da orla catarinense tem seis dos 10 edifícios mais altos do Brasil, em um desvario arquitetônico onde as construções à beira-mar escondem o sol da praia no final da tarde e, graças a um precário planejamento sanitário na região, milhões de litros de esgoto são despejados nas águas da baía que já foi um dos locais mais bonitos da costa brasileira.
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Na Ásia, contudo, a proliferação de megaconstruções é apenas um dos exuberantes exemplos do desenvolvimento acelerado e sustentável, que parece estar engolindo o ocidente a passos largos. A China e o sudeste asiático, de forma relativamente discreta, avançam econômica e culturalmente sobre o resto do mundo, em um caminho sem volta que influenciará, pelo menos, as próximas gerações. A propósito, arrisco fazer uma previsão – espero estar errado –, baseada na experiência de lidar com países asiáticos que seguem enriquecendo: quem acha os Estados Unidos demasiadamente arrogantes e exploradores em sua dominação cultural e econômica, possivelmente sentirá saudade dos americanos dentro de poucas décadas.
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