Comemorado em 21 de janeiro, o Dia do Combate à Intolerância Religiosa foi exaltado em Santa Cruz do Sul. Durante o sábado, dois eventos, promovidos pelo Centro Cultural Valeu Zumbi e pelo Centro Cultural Afro-Brasileiro Salve Jorge, aproveitaram a data para refletir sobre os preconceitos que afetam especialmente a prática de religiões de matrizes africanas no município e aproximá-las da comunidade.
O 2º Encontro de Kimbandeiros reuniu dezenas de pessoas de várias regiões do Estado – incluindo Rio Pardo, Vera Cruz e Santa Maria – em um dos pavilhões do Parque da Oktoberfest. Organizado pelo Pai Leandro Liban de Ogum, o evento foi aberto a toda a população para apresentar suas tradições e, com isso, acabar com o preconceito em relação à prática religiosa.
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Para o líder religioso, essa aproximação é uma forma de combater a intolerância, pois oportuniza conhecimento sobre a doutrina e as práticas dos devotos. A kimbanda, segundo ele, possui grandes influências nos rituais afro-brasileiros e é devota às entidades de exus e pombagiras que, desencarnadas, recebem a missão de voltar ao mundo espiritual e ajudar as pessoas que buscam auxílio e paz.
“As pessoas ainda têm medo da nossa religião. Ela é acusada de adorar o diabo. Exu, por exemplo, é taxado como um espírito que só vai fazer mal”, explicou. “Sem estudo e conhecimento, não podemos evoluir.”
Era próximo da meia-noite quando os tambores começaram a tocar. Pai Leandro Liban de Ogum reuniu os kimbandeiros – considerados os médiuns responsáveis por invocar as entidades – em um grande círculo. “Laroyê, Exu”, entoavam os presentes, uma saudação à divindade da comunicação e considerada a mais próxima do ser humano. A ritualística prosseguiu com a chegada dos exus e das pombagiras ao pavilhão, chamadas pelo Pai Leandro com a sineta. Se marcava ali o grito de enfrentamento à intolerância religiosa.
Para os devotos da kimbanda, a intolerância ocorre de diferentes maneiras. E muitas vezes, são feitas de forma mais discreta, como em um olhar de desaprovação ou medo. O simples fato de os praticantes da religião andarem na rua com a roupa típica de matriz africana faz com que as pessoas olhem de outro jeito. “Até corridas de aplicativo já cancelaram por estarmos trajados. É esse o preconceito, às vezes discreto, que ninguém fala, que ninguém vê, que ninguém comenta”, diz o Pai Leandro Liban de Ogum.
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No entanto, há casos mais graves. “Pessoas que se dizem religiosas são as que mais nos atacam”, relata o Pai Deja de Oya, líder do templo Ile Africano Ventos de Oya, de Santa Cruz do Sul. “Muitas vezes nos ofendem com palavras de baixo calão ou chutam as oferendas que colocamos aos nossos sagrados”, afirma. Diante disso, considera importante a união de forças dos kimbandeiros para levar informação à comunidade.
Ainda no sábado, durante a tarde, o grupo de capoeira Ginga Sul, do mestre Moa Fanfa, realizou um evento para comemorar os 25 anos do Centro Cultural Valeu Zumbi, responsável por promover a cultura afro-brasileira com atividades em escolas e oficinas, além de participar da organização do 2º Encontro de Kimbandeiros.
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Durante o ato, realizou o ritual em que os iniciantes recebem a primeira corda – o equivalente à faixa no judô e no karatê – e os demais, mais avançados, fazem a troca para o próximo nível. A celebração reuniu capoeiristas de outras partes do Estado e foi marcada por muita música e a prática do esporte afro-brasileiro que mistura dança, musicalidade e arte marcial.
O Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa foi instituído por lei federal em 2007. A data, 21 de janeiro, marca a morte da Iyalorixá baiana Mãe Gilda, fundadora do Ilê Asé Abassá, em Salvador (BA), em 2000.
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Após ter sua casa e terreiro invadidos por um grupo de outra religião – além de ser caluniada, perseguida e agredida física e verbalmente –, acabou falecendo vítima de um infarto fulminante. Mãe Gilda foi ativista atuante contra o preconceito. “É um momento oportuno para reflexão, sobretudo atualmente, em que é crescente o número de denúncias de prática de atos de intolerância religiosa no País”, afirmou Pai Leandro Liban de Ogum. “Toda a religião é do bem. Quem faz o mal é o próprio ser humano.”
Em 2023, o Brasil registrou 2.124 violações de direitos humanos relacionadas à intolerância religiosa. Conforme os dados do Disque 100 – Disque Direitos Humanos, trata-se de um aumento de 80% na comparação com o ano anterior, quando foram denunciadas 1.184 violações provenientes de diversas regiões do Brasil. Entre as mais afetadas, estão as religiões de matriz africana.
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