Há aproximadamente 400km de Lagoa Bonita do Sul, no município de Alegrete, a vendedora Marina Terres, 21 anos, deu à luz Júlia Terres Lucas, sua primeira filha. Fruto da união com o motorista de caminhão, Jardel Darlan Lucas, 28 anos, Júlia nasceu no último dia 7 de julho, e veio ao mundo pesando apenas 520 gramas e medindo 28,5 centímetros, quando Marina encontrava-se com 26 semanas e 4 dias de gestação.
A surpresa e alegria da descoberta da gravidez, já aos três meses de gestação, se misturaram com o medo e a necessidade de repouso absoluto quando, com cerca de 20 semanas, Marina teve sangramentos, de outra intercorrência da gestação, e realizou novos exames. “Foi uma gravidez muito desejada, sonhada. A escolha do nome Júlia foi uma sugestão do irmão Henrique”, conta a mãe, que revelou também que nem mesmo as fotos da gestação deu tempo de fazer.
Conforme a médica ginecologista e obstetra, Juliana de Moura Severo, que acompanhou o caso, foi identificado em Marina uma restrição de crescimento intrauterino, alguma alteração placentária que só é vista na hora do parto, com a qual acabou não conseguindo nutrir adequadamente para o crescimento do bebê. “O crescimento restrito pode acontecer por vários motivos, mas, a grande maioria acaba sendo por alteração placentária mesmo, em que não consegue passar o fluxo necessário, então o bebê acaba não crescendo. Quando é muito prematuro e o fluxo de sangue não é suficiente para o desenvolvimento, às vezes ele precisa nascer antes, pois dentro do útero ainda é um ambiente muito inóspito para ele, para que tenha alguma chance de sobrevida. No caso dela foi bem complicado, pois foi muito precoce, muito prematuro e muito baixo peso, então as chances do bebê eram muito pequenas”, explica a médica.
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No dia 20 de junho, com cerca de 24 semanas, foi necessário que Marina internasse no Hospital São João Evangelista – Unidade de Sobradinho, onde a corrida contra o tempo começou. “Para o nenê prematuro, o ideal é que sempre seja feito o parto em um centro de alto risco, hospital terciário, que tenha acesso ao pediatra, UTI Neonatal, leito de UTI. Então, quando a gente tem um caso grave no interior do estado, temos que cadastrar no sistema em que estão todos os hospitais gaúchos para que consigamos achar uma vaga”, acrescenta a médica. Foram horas de telefonemas para conseguir um leito disponível na Santa Casa de Caridade de Alegrete. “O fato de estar em uma UTI Neonatal bem equipada é muito importante, ajuda muito no desenvolver do bebê daqui para frente. Mas, com certeza, ela vai ter um bom tempo aí de luta. Se Deus quiser vai dar tudo certo. É um pequeno milagre, uma guerreirinha”, reforça a obstetra.
Já no centro de saúde referência, os pais Marina e Jardel precisaram tomar uma decisão. “Foi uma decisão bem difícil, a gente tinha que escolher entre interromper a gestação e ela não teria chance nenhuma devido o tamanho, pois tinha apenas 470 gramas quando chegamos aqui, ou arriscar esperar e tentar fortalecê-la, só que sabíamos do risco que ela corria na barriga também. Depois de muito choro e oração, decidimos esperar, até porque ela era uma bebê muito ativa, se mexia o tempo inteiro. Todo dia era feita ecografia e eles auscultavam a nenê de duas em duas horas para ouvir o coração e estava tudo normal. Quando completou quase duas semanas internada foi marcada a cesária e ela nasceu”, lembra Marina.
Com duas semanas de vida, completadas nesta quinta-feira, dia 21, Júlia alcançou 575 gramas, sendo alimentada pelo leite materno através de sonda. “Passo o dia todo com ela. Foi um susto, mas em momento nenhum a gente perdeu a fé e todo mundo se empenhou junto conosco em oração. Desde o primeiro minuto ela demonstrou sua força”, conta a mãe, que, junto do marido, estão distantes de casa em Lagoa Bonita do Sul para o melhor pela saúde da pequena.
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Conforme a neonatologista rotineira da UTI Neonatal onde Júlia se encontra internada, Anna Carolina Aurélio Peres, a bebê tem quadro de saúde estável e requer cuidados especiais. “Nosso hospital é referência, a gente tem pacientes do serviço de alto risco, então recebemos pacientes de toda a região, e pacientes nascidos em outras cidades também são referenciados para cá. O caso da Júlia foi muito especial. Quando a Marina chegou aqui nossa equipe da obstetrícia conseguiu manter a gestação por praticamente duas semanas a mais, mantendo o tratamento e a observação atentos à mãe, e isso também favoreceu a Júlia de ganhar mais algumas gramas e o nascimento dela foi uma surpresa. A condição que ela nasceu. Não precisou ser entubada e nem do respirador desde o nascimento, e continua hoje com suporte respiratório mínimo. Isso para nós é bem gratificante”, ressalta. Com base em outros casos parecidos e na idade gestacional, Júlia deve permanecer pelo menos 3 meses na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. “A mãe e o pai tem acesso livre à UTI 24 horas por dia para ficar com ela e, por enquanto, uma vez por dia pode ficar na posição canguru”.
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