Milhares de pessoas se reuniram na quarta-feira, 28, nas ruas de Paris para prestar homenagem à aposentada judia Mireille Knoll, de 85 anos, morta a facadas e queimada em um crime de caráter antissemita. Filha de pai brasileiro, ela sobreviveu à ocupação nazista da França e evitou a deportação para o campo de concentração de Auschwitz graças a seu passaporte brasileiro, que lhe abriu caminho para uma fuga para Portugal, em 1942, aos 9 anos. Sete décadas mais tarde, foi vítima de um extremista.
Mireille Knoll, que tinha mal de Parkinson e sérias dificuldades motoras que lhe haviam colocado em uma cadeira de rodas, foi assassinada na sexta-feira. O crime foi descoberto em razão de um incêndio criminoso provocado em seu apartamento. Na autópsia, legistas descobriram que ela havia levado 11 facadas.
Como a aposentada já havia prestado queixa após um vizinho ameaçar queimá-la, a polícia prendeu dois suspeitos, um jovem de 29 anos, que vivia no mesmo prédio, um edifício para moradores de baixa renda no leste de Paris, e um morador de rua de 21 anos
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Nos primeiros depoimentos, o caráter antissemita do crime veio à tona, quando um dos suspeitos afirmou aos investigadores que o autor das facadas teria gritado “Allahu Akbar!” (“Deus é o maior”, em árabe) no momento do ataque.
A motivação levou o Ministério Público a abrir um inquérito por assassinato por razão religiosa contra pessoa vulnerável, além de roubo e degradação. Um dos suspeitos, o vizinho, já foi condenado por estupro e era muito próximo da vítima, segundo a própria família.
“Aparentemente, minha mãe o conhecia muito bem e o considerava como um filho”, afirmou à agência France Presse Daniel Knoll, um dos filhos da aposentada. “Estamos em choque. Não compreendemos como se pode matar um mulher sem dinheiro.”
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Desde o fim de semana, entidades da comunidade judaica da França – cerca de 400 mil pessoas – se mobilizaram para denunciar o crime e a violência religiosa em relação aos judeus na Europa. Outro fator que provocou comoção foi o histórico de vida de Mireille. Nascida em 28 de dezembro de 1932, em Paris, ela tinha um pai imigrante do Brasil, que lhe legou a nacionalidade – e um passaporte – brasileiros.
Em 15 de julho de 1942, a nacionalidade brasileira salvou sua vida quando os nazistas começaram a deportar os 13 mil judeus franceses para Auschwitz. O episódio é um dos mais vergonhosos da colaboração de franceses com os alemães na 2.ª Guerra.
“Os soldados olharam os passaportes e finalmente os deixaram passar. Foi o que lhes salvou”, contou Daniel Knoll à TV israelense i24 News. Ainda de acordo com a família, Mireille e a mãe fugiram da França e encontraram refúgio temporário em Portugal, de onde partiram para o Canadá. Após a guerra, ela se casou com um francês sobrevivente de Auschwitz, com quem retornou para viver em Paris.
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“Minha avó conseguiu escapar dos nazistas”, lembrou sua neta, Noa Goldfarb, de 34 anos, que hoje vive em Israel. “Mas os radicais islâmicos a mataram.”
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