Jovens plantam árvores e ajudam a proteger nascente

Apesar de ser o recurso mais abundante do planeta e cobrir cerca de 70% do globo terrestre, a água tem sido motivo de atenção. O desenvolvimento desordenado das sociedades, a poluição e a falta de consciência ambiental colocam em risco o abastecimento de um modo geral. E o papel dos jovens se torna cada vez mais importante.

Atentos a este aspecto e utilizando um exemplo muito próximo sobre os males que a escassez de água traz, jovens estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental João Moré, da localidade de Pinhal Novo, em Gramado Xavier, iniciaram nessa quarta-feira, 19, uma ação voltada ao futuro. Por meio do Grupo Ambiental Camboatá, formado por alunos da escola, com o apoio da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), foram plantadas 200 mudas de árvores nativas em uma propriedade na localidade de Três Léguas, para proteger uma nascente do Arroio dos Franco, que desagua na bacia hidrográfica do Rio Pardo e abastece toda a região.

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Mesmo com 80% de seu território coberto por matas nativas, o município de Gramado Xavier sofreu com dois anos seguidos de estiagem e chegou a decretar estado de calamidade no início de 2022. Sem chuvas, as nascentes, rios e arroios que banham o Vale do Rio Pardo perdem volume, e os produtores ficam sem condições de irrigar as plantações. Neste ano, mais de 70 famílias do município tiveram que recorrer ao poder público para não perderem suas lavouras. Entre dezembro do ano passado e abril de 2022, 426 das 497 cidades gaúchas decretaram estado de calamidade em virtude da estiagem.

Lições da escola são colocadas em prática

A jovem Andriele da Silva Santos, de 14 anos, aluna do 8º ano da Escola João Moré e filha de produtores de tabaco, foi uma das que realizaram o plantio das mudas. “A gente já vinha combinando na sala de aula sobre plantar árvores e cuidar das nascentes. Agora viemos colocar em prática. É muito gratificante estar aqui plantando árvores para ajudar o meio ambiente”, contou a jovem.

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Andriele faz parte do Grupo Ambiental Camboatá, uma atividade extraclasse da Escola João Moré, criada pela professora e coordenadora do grupo, Eliane Jandrey. Atualmente, 15 jovens do 6º ao 9º ano participam diretamente das atividades do grupo, mas as ações alcançam praticamente todos os alunos da escola, principalmente os dos Anos Finais, que participam de aulas práticas em campo.

“O grupo nasceu da ideia de construir um viveiro pedagógico, onde os alunos vão aprender a lidar e conhecer as mudas nativas da nossa região”, explica Eliane. “A escola tem um espaço amplo, de 4 hectares, e uma floresta nativa bem próxima. Comecei um trabalho identificando algumas espécies e coletando sementes. Dessas sementes, plantamos um pequeno viveiro. A intenção do projeto seria reflorestar as nascentes dos rios, e com o apoio da Afubra, isso foi possível.”

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Iniciativa deve chegar a mais produtores do município

A nascente escolhida para ser a primeira protegida pelo plantio de mudas nativas fica na propriedade de Nilson Jandrey, de 52 anos. Com o filho Guilherme, ele administra uma área de 122 hectares, da qual arrenda uma parte para o plantio de soja, mas também cria gado e cultiva tabaco.

As mudas vão ocupar 2 mil metros quadrados que antes serviam de pastagem. Foram utilizadas 200 unidades de 15 espécies nativas em torno da nascente. Nilson já sentiu os impactos da estiagem e diz não ter pensado duas vezes ao aceitar o pedido para revitalizar o espaço em sua propriedade.

“Hoje muitos agricultores já estão conscientes sobre a preservação. Tem gente que não pensa em fazer algo para que as secas se tornem menos agressivas, mas a maioria já sabe que deve fazer sua parte.” O exemplo de Nilson será levado adiante. Por intermédio do Grupo Ambiental Camboatá, outros produtores estão sendo consultados e novas áreas devem receber a mesma ação em breve. O objetivo é preservar todas as nascentes do município até 2024.

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O engenheiro florestal e gerente de Produção Ambiental da Afubra, Juarez Pedroso Filho, destaca que atitudes que agreguem forças do poder público e de instituições privadas e de educação, como o que ocorreu em Gramado Xavier nessa quarta-feira, 19, são fundamentais para garantir a proteção de áreas ambientais.

A área que recebeu as plantas agora ficará isolada para possibilitar o seu bom desenvolvimento. “Além de beneficiar a comunidade, que precisa ter fontes de abastecimento, esta iniciativa dos jovens vai contribuir para a bacia do Pardo e tantas cidades no Vale do Rio Pardo”, frisou o engenheiro florestal.

Aprendizado

Entre as espécies plantadas na área da nascente estão mudas de Ipê-Roxo, Timbaúva, Branquilho, Louro Pardo, Araçá Vermelho, Tucaneira, Tarumá de Espinho, Pitanga e Cerejeira. “A intenção é propiciar uma diversidade de espécies. Cada uma tem um ritmo de crescimento diferenciado, e agora esperamos que as crianças visitem a área e usem como laboratório para justamente verificar o crescimento de cada uma”, diz Juarez Pedroso.

O vice-prefeito de Gramado Xavier, Airton Berté, destaca que a ação dos jovens é significativa para o Vale do Rio Pardo e, com o apoio de todos, tem potencial para deixar um legado para as próximas gerações. “Onde existem nascentes, por ser terrreno mais plano, há muitos anos havia lavouras. Mas hoje a gente vê que o importante é ter água para as famílias, pois sem ela não conseguimos fazer nada”, afirma. “É algo que começa aqui em cima, por ser no alto da Serra, e cai para o lado do Rio Jacuí ou para o lado do Rio Taquari. Em Gramado Xavier temos o compromisso de dar apoio total para as pessoas que estão conservando a natureza e preservando as águas.”

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