O sorriso no rosto do jovem Rudnei da Rosa dos Santos não esconde a alegria e o orgulho em conseguir uma vaga para o curso de Medicina na Universidade Federal de Pelotas (Ufpel). Residente na Comunidade Quilombola Vila Miloca, no município de Lagoão, aos 20 anos Rudnei conseguiu a tão sonhada vaga por meio do sistema de cotas para quilombolas, sendo o primeiro colocado. “Eu gosto de estudar e sempre quis cursar Medicina, pensando em ajudar os outros, ter contato com as pessoas e também ajudar a minha família. Não tinha certeza que conseguiria, mas sempre pensei positivo para realizar esse sonho”, conta.
Para a meta de Rudnei se realizar foi preciso que a Comunidade Vila Miloca fosse legitimada pela Fundação Cultural Palmares, entidade vinculada ao Ministério da Cultura e responsável, entre outras ações, em reconhecer as comunidades quilombolas existentes no território brasileiro. A Emater/ RS-Ascar desenvolve ações de Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters) na localidade de Ronda Alta, interior de Lagoão, onde atualmente fica a comunidade quilombola e, desde 2012, algumas dessas famílias foram beneficiárias do Programa Brasil Sem Miséria (PBSM). “Essa era a comunidade onde havia o maior número de famílias em situação de vulnerabilidade social. Entre as ações, buscamos organizar o grupo de trabalhadoras rurais, a maioria de origem afrodescendente”, lembra a extensionista social Viviane Rörhs.
A Emater auxiliou no processo de certificação da Comunidade Vila Miloca, desde janeiro de 2016, com visitas, reuniões e entrevistas com os integrantes. Em janeiro de 2017 a solicitação para o reconhecimento da comunidade foi oficializada junto à Fundação Cultural Palmares, sendo publicada no Diário Oficial da União em 5 de abril de 2017. “A certificação de uma comunidade quilombola é fundamental para as famílias, pois além de valorizar sua etnia, ancestralidade, cultura e tradição, fortalece os laços sociais, promove a organização comunitária e abre as portas para uma série de políticas públicas específicas”, explica o assistente técnico da área de Organização Econômica do Escritório Regional da Emater de Soledade, Evandro Scariot.
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Nas reuniões promovidas pela Emater sempre se buscou sensibilizar as famílias sobre a importância do reconhecimento da comunidade quilombola e sobre as políticas públicas que poderiam ser acessadas. Foi isso que permitiu a Rudnei dar prosseguimento à vontade de ser médico. Com a assistência continuada da Emater, o técnico em agropecuária Olandir Vendruscollo tomou conhecimento do vontade do jovem e buscou informações sobre as inscrições para os vestibulares nas universidades federais. Também foi em busca de alunos que estivessem concluindo o ensino médio e que teriam interesse em cursar o ensino superior.
Vendruscollo realizou a inscrição de Rudnei, investigou os conteúdos e os repassou para que o jovem pudesse estudar para o vestibular. Além disso, o extensionista buscou o apoio da administração municipal para o transporte do jovem até Pelotas. “Essa é uma conquista muito grande para nós também. É muito emocionante para todos nós esse resultado, ver um jovem humilde, do meio rural, pertencente a uma das comunidades em maior vulnerabilidade do município, ter essa conquista”, relata.
Rudnei conta que as dificuldades foram muitas, mas que o apoio que recebeu foi fundamental para que persistisse. “Uma vez pensei em desistir, mas a professora Olga foi muito importante porque sempre me incentivou a continuar nos estudos. Meus pais me apoiam muito. Meu plano agora é estudar, me dedicar bastante e depois de formado poder ajudar a minha família e trabalhar em municípios pequenos, como Lagoão, onde as pessoas têm dificuldades na saúde e eu posso fazer a diferença”, afirma.
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