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Joana Kannenberg: de Santa Cruz para a Netflix

Foto: Phillip Lavra e Isadora Relvas

A série Pedaço de Mim, da Netflix, estreou neste mês e já se tornou a produção brasileira mais vista no mundo. São 17 episódios que contam a história de Liana, uma mulher que engravida de gêmeos, mas de pais diferentes – algo raro, chamado de superfecundação heteroparental. A personagem principal é interpretada por Juliana Paes. No elenco ainda há nomes como Paloma Duarte e Vladimir Brichta, além de uma santa-cruzense que está demarcando seu espaço na dramaturgia. Joana Kannenberg, de 30 anos, dá vida a Patrícia, uma mulher que compartilha a dor de ter sido drogada e estuprada, assim como Liana.

Nascida em Santa Cruz do Sul, Joana deixou o Vale do Rio Pardo há algum tempo. Primeiro, foi para Porto Alegre, estudar artes cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Há quase dez anos mora no Rio de Janeiro, onde trabalha como atriz e roteirista. “É uma construção longa, com um pouco de sorte e talento”, brinca.

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Em 2015, ela atuou em Malhação – Seu Lugar no Mundo. De lá para cá, acredita ter amadurecido como artista, o que está se refletindo agora, neste trabalho mais denso e de grande expressão. “Nos últimos anos, eu venho me dedicando a escrever. E, em 2022, lancei a minissérie Lúcida, na qual eu atuei também, e foi para vários festivais. Depois acabou virando o curta Noturna e eu até fui para o Festival Santa Cruz de Cinema no ano passado”, comentou.

Esse trabalho foi visto pela produtora de elenco da série Pedaço de Mim e rendeu comentários elogiosos à atuação de Joana. Mais que isso, resultou em um convite para fazer o teste para a personagem Patrícia. “Isso demonstra que vale a pena investir no que a gente acredita e encontrar formas de se colocar no mercado da exata maneira que a gente quer ser vista. Esse trabalho é mais denso e me lançou de novo, em um lugar mais maduro”, analisa.

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Joana fez o teste em abril do ano passado. As gravações foram dois meses depois, em junho.

Figurino da personagem de Joana Kannenberg

A arte como um alerta às mulheres

A personagem Patrícia, interpretada por Joana Kannenberg, é vítima de um estupro, após ter sua bebida “batizada”com uma droga. O mesmo crime é cometido com Liana, vivida por Juliana Paes – e da relação não consentida nasce um dos filhos dela. Além da gravidez, a diferença entre as duas é que Patrícia busca a Justiça. Ao longo de todo o processo, contudo, é deslegitimada. “É aquela coisa: ‘estava bêbada’, ‘ela queria’”, conta.

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Uma das cenas dramatizadas por Joana é justamente o estupro. Segundo ela, não foi fácil, mas contou com o apoio de um coreógrafo de intimidade, profissional que atua em cenas de sexo e nudez, para dar mais tranquilidade aos atores. Ainda o companheiro da santa-cruzense, que também é ator e tem um espaço de teatro, o Labo, colaborou com a sua preparação. “Eu me senti muito bem tratada. A cena foi dirigida por uma mulher; na hora de gravar, reduziram o número de pessoas no set”, detalhou.

Para além das telas, a personagem de Joana traz à tona um assunto de extrema relevância: a descredibilização da vítima de estrupro. “Eu me considero superfeminista, sou a favor da legalização do aborto, e entendo que o Brasil ainda é um país muito conservador e machista. Isso torna muito difícil para as mulheres denunciarem casos de estupro e outras violências, porque elas convivem diretamente com a culpa”, argumenta.

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A série retrata exatamente isso. “Fico muito feliz de poder contribuir para esse debate tão importante e incentivar a união das mulheres.”

Foto: Phillip Lavra e Isadora Relvas

Sonho real

Interpretar a personagem Patrícia é a realização de um sonho para Joana Kannenberg. Não somente por ser uma produção de ampla repercussão no país e no mundo, mas pelo impacto que causa na sociedade. Desde que deu os primeiros passos no teatro, quando ainda era aluna do Colégio Mauá, sempre teve a certeza de que era com a arte que se realizaria profissionalmente. “Eu aprendi a encarar o teatro como um ofício, com disciplina. Tudo que vivi nos tempos de colégio me fez ter confiança e bagagem para ocupar este lugar hoje.”

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Não por acaso, nutre um carinho muito especial pela terra natal, Santa Cruz do Sul. “Eu quero voltar a participar do Festival de Cinema, porque é emocionante ver a cultura acontecendo de maneira tão significativa na cidade”, comenta. Também está nos planos de Joana, mas ainda sem qualquer previsão de data para acontecer, vir a Santa Cruz com uma peça de teatro. “Seria mais um sonho realizado.”

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